quinta-feira 21 de novembro de 2024
Marina Silva e Heloísa Helena — Foto: Foto: Reprodução/O Globo
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domingo 20 de outubro de 2024 às 08:56h

Com partido rachado por Marina e Heloísa Helena, Rede elege o menor número de prefeitos desde a criação

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Rachada entre a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e a ex-senadora Heloísa Helena, a Rede Sustentabilidade elegeu conforme Luísa Marzullo, do O Globo, apenas quatro prefeitos no último dia 6, o menor número desde a criação do partido, em 2015. A meta era chegar a pelo menos dois dígitos.

Criado por Marina, o partido conquistou seis prefeituras em 2016, na primeira eleição municipal que disputou, dois a mais que este ano. Em 2020, o número manteve-se estável.

Nos bastidores, integrantes de ambas as alas reconhecem que a divisão interna prejudicou a campanha. Parte do período eleitoral foi marcado por dissonâncias e disputas por recursos financeiros.

Oficialmente, contudo, o baixo desempenho eleitoral é minimizado pelos caciques do partido, que focam o discurso no número de vereadores eleitos.

— O aumento de vereadores e vereadoras eleitas, principalmente em cidades médias e grandes, mostra que as nossas lideranças, o nosso partido e a agenda do desenvolvimento sustentável com justiça social estão ganhando densidade eleitoral e se consolidando no eleitorado — diz o coordenador nacional de organização, Giovanni Mockus.

No total, ainda de acordo com o jornal O Globo, 171 candidatos do Rede conquistaram cadeiras em câmaras municipais, mas a representatividade está restrita a quatro das 26 capitais — São Paulo, Belém, Macapá e Natal. Antes, o partido tinha 142 vereadores, mas contava com quadros em cidades estratégicas como Belo Horizonte.

Entre as derrotas mais expressivas no Legislativo está a da própria dirigente Heloísa Helena, que concorreu no Rio. Ex-senadora e terceira colocada na disputa presidencial de 2006, ela recebeu menos de 12 mil votos, mesmo tendo abocanhado R$ 1,9 milhão em recursos da sigla.

Apesar de ser candidata, a ex-senadora não teve o apoio declarado de Marina em nenhum momento. Durante a campanha, elas alternaram agendas a fim de evitar encontros.

Rompidas desde 2022, Heloísa Helena e Marina Silva simbolizam a divisão no diretório nacional da Rede. As divergências têm origem em visões diferentes sobre a base teórica do partido. Enquanto a ministra se declara “sustentabilista”, a ex-senadora defende o “ecossocialismo”, que associa a preservação do meio ambiente à mudança do sistema econômico.

Heloísa também discorda da presença de Marina na Esplanada. A ex-parlamentar foi expulsa do PT em 2003, após ser contra uma reforma previdenciária proposta no primeiro mandato de Lula.

A ex-senadora fundou o PSOL e disputou o Planalto em 2006. Já Marina permaneceu no PT até 2009 e apoiou a reeleição de Lula contra a ex-colega de bancada no Senado.

Em 2022, Heloísa endossou a candidatura à Presidência de Ciro Gomes (PDT). “Não há força humana que me obrigue a apoiar Lula”, disse ela à época, em entrevista ao portal UOL.

Cláusula de barreira

O desempenho do partido este ano acende o alerta para 2026, quando terá mais uma vez o desafio de superar a cláusula de barreira. A sigla já se uniu em 2022 ao PSOL em uma federação por esse motivo.

A cláusula de barreira daquele ano estabelecia que, para seguir tendo acesso a tempo de televisão e fundo partidário, seria necessário eleger ao menos 11 deputados federais ou ter 2% dos votos válidos para Câmara, sendo 1% em pelo menos nove estados.

Nas eleições de 2026, as exigências serão ainda maiores. Os partidos vão precisar eleger 13 deputados federais ou ter 2,5% dos votos válidos para a Câmara, e 1,5% em pelo menos nove estados.

A disputa entre Marina e Heloísa teve reflexo na escolha das candidaturas da federação, e as divergências foram expostas na pré-campanha. A federação enfrentou impasses para definir os nomes que disputariam as prefeituras em Recife, Belo Horizonte e Porto Alegre.

No Recife, o diretório da federação oficializou a candidatura da deputada estadual Dani Portela (PSOL), mas o deputado federal Túlio Gadêlha (Rede) queria concorrer à prefeitura. Ele é aliado de Marina e não tinha apoio da ex-senadora.

Sem candidatura própria

Na capital mineira, a Rede chegou a lançar duas pré-candidaturas. O porta-voz da legenda e ex-vice-prefeito, Paulo Lamac, tinha o apoio de Heloísa. Já a ministra defendia o nome da deputada estadual Ana Paula Siqueira. Havia ainda uma pré-candidatura do PSOL, da deputada estadual Bella Gonçalves (PSOL). Ao fim, a federação apoiou Rogério Correia (PT), que teve apenas 4,37% dos votos.

O mesmo aconteceu em Porto Alegre, onde a federação faz parte da coligação de Maria do Rosário (PT). A deputada estadual Luciana Genro (PSOL) havia se lançado e, pela Rede, o ex-vereador Marcelo Sgarbossa tentou se cacifar para a disputa.

O clima ruim na Rede foi exposto publicamente em abril do ano passado, no 5º Congresso Nacional do partido, quando Marina foi hostilizada. O grupo da ministra foi derrotado pela chapa da ex-senadora. O apoio a Aécio Neves (PSDB) no segundo turno das eleições presidenciais de 2014, posicionamentos considerados comedidos e até acusações de abuso de poder inflamaram os ânimos contra Marina. Na ocasião, a ministra afirmou que saiu de lá “sangrando”.

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