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quinta-feira 18 de novembro de 2021 às 06:44h

“Com mandato ou sem mandato, nós estamos sempre na luta”, diz Fátima Nunes

NOTÍCIAS, POLÍTICA


Em seu quinto mandato, os quatro últimos consecutivos como representante do PT, a deputada estadual Fátima Nunes Lula disse em entrevista na TV AL-BA e publicado pelo A TArde, que é uma defensora dos direitos do homem do campo, dos negros e dos índios.

Como a senhora avalia a condição de fazer parte da base de apoio do governo, uma vez que na sua primeira experiência como deputada estadual, ainda nos anos 90, sua atuação foi como oposicionista pelo PSDB?

A vida de quem quer justiça social e direitos para o nosso povo sempre é um desafio. É claro que contar com um governo que mira no mesmo sonho nosso tem um alcance muito maior. Eu me orgulho e sempre agradeço pela oportunidade de ter tirado a lata d’água da cabeça das mulheres. No sertão era o que a gente mais sofria. E foi no governo do PT que a gente conseguiu levar água para a área rural. Fui relatora do projeto Água para Todos. Hoje a gente vê as pessoas tendo água na cisterna e na torneira. É bem melhor do que no tempo em que eu gritava no palanque e nada acontecia para o bem do nosso povo.

A condição de governista também não dificulta fazer crítica ao governo?

Nós do PT temos esse jeito muito livre. E a democracia que a gente acredita nos permite reclamar do que não está bom. Eu não tenho dificuldade. Quando vejo que a estrada está precisando melhorar, também não preciso falar no palanque. Eu tenho o gabinete direto do governador e dos secretários pra falar. É de lá que, de fato, saem as ações. Ao invés de ficar falando no plenário ou na imprensa ou pelos cantos, eu vou diretamente a quem pode resolver o problema. E assim, fico cada vez mais honrada pelo voto que as pessoas me deram. Quando a solução dos problemas acontece pela nossa luta e vontade do nosso governador, todos saem ganhando. O governador com os aplausos e as pessoas com o benefício realizado.

A senhora é natural de Paripiranga e tem um histórico de atuação também em Cícero Dantas. Quais são as principais demandas dessas localidades que procura atender na Assembleia Legislativa?

Nessas regiões a gente sempre viu a necessidade das pessoas, principalmente no campo da água que já citei, das estradas que não tinham asfalto, dos agricultores familiares que não tinham o crédito e trabalhavam no escuro, porque também não tinham energia elétrica. E sempre acreditei na força da organização social. Fundamos sindicatos, associações, grupo de mulheres, de jovens. Criamos organizações como a Associação Regional de Convivência com o Semiárido e conseguimos melhorar consideravelmente a vida das pessoas. Quem não tinha água e energia elétrica, agora tem. Todas as demandas que, digamos, eram um sonho nosso, a gente já percebe um grande avanço. Eu sempre disse o seguinte: com mandato ou sem mandato, nós estamos sempre na luta.

É de sua autoria uma recomendação ao governador para a construção de centros de comercialização da agricultura familiar em Cícero Dantas e em Fátima. As obras estão garantidas?

Estão bem adiantadas, porque o prefeito Binho, em Fátima, e o prefeito Dr. Ricardo, em Cícero Dantas, já fizeram os projetos. E também em Jaguarari, com o prefeito Seu Antônio. O governador esteve lá no início do mês e assinou o convênio para o Centro de Comercialização no [distrito de] Pilar. O ambiente das feiras e do comércio local é grandioso. É ali que as pessoas trazem os produtos que tiraram com o suor do rosto, com o calo das mãos, trabalhando nos seus roçados. Eu guardo sempre o princípio de que, se o campo não planta, a cidade não janta. É preciso produzir com qualidade, ampliar a oferta e vender com um preço justo. O ambiente das feiras e dos mercados precisa estar adequado às normas da vigilância sanitária, mais ainda nesse período em que o nosso povo sofreu muito e ainda está apavorado com a Covid. Não somente nas três cidades que citei, mas em todas por onde transito e tenho apoio do povo. Sempre falo para os prefeitos que é preciso melhorar os ambientes do mercado local. Recentemente, estivemos também em Tucano ao lado do governador Rui Costa e lá também está sendo melhorado o ambiente da feira. Estamos sempre atentos a essa situação de apoiar a agricultura local.

Também é de sua autoria uma indicação para que a Secretaria da Saúde do Estado da Bahia crie, por meio de aplicativo de celular, agendamento de consulta nas policlínicas para pacientes com sequelas pós-Covid. O que o governo já sinalizou sobre o assunto?

Está analisando com carinho, porque todos nós sabemos, e a Secretaria da Saúde também sabe, que muitas pessoas que tiveram Covid ficaram com sequelas graves. E para marcar [atendimento] pelo sistema normal a fila é grande. O sequelado não pode esperar. A indicação tem esse objetivo: agilizar o exame para ver qual o grau de sequela que o paciente está vivenciando e ter um tratamento precoce o mais rápido possível.

A Assembleia Legislativa aprovou um projeto de lei de sua autoria que institui o Dia Estadual da Luta dos Povos Indígenas, a ser celebrado em 7 de fevereiro. O que a senhora espera com essa nova lei?

Era bom que os povos indígenas nem precisassem enfrentar tantos desafios e lutas para garantir os seus direitos à terra e às políticas públicas. Eles são os verdadeiros donos da terra. Mas nesse Brasil, por conta de uma sociedade muito marcada por explorar o trabalho das pessoas mais simples e não concordar com que as aldeias permaneçam com seus territórios, ainda é necessário. O que espero é uma grande visibilidade, para que as pessoas entendam que eles existem, resistem e precisam ser respeitados nos seus direitos. Esse Brasil e essa Bahia são muito grandes e cabem todos nós.

A senhora, inclusive, atua com indígenas da aldeia Kiriri, em Banzaê. Qual é o trabalho que desenvolve por lá?

A gente convive com as organizações que eles têm nas suas aldeias. Estamos na busca pela educação indígena, dos seus valores, costumes, da sua língua, cultura de festa e de devoção, para serem respeitados. Praticamente um terço do município de Banzaê é demarcado como área indígena dos Kiriris. Próximo a Euclides da Cunha tem também os Kaimbés e os Tuchás. São seres humanos com valores. E a gente precisa cultivar, cativar e respeitar tudo aquilo que faz parte do seu jeito de ser e de viver. É assim que eu estou lá.

A senhora é presidente da Comissão Especial da Promoção da Igualdade da Assembleia Legislativa. Como tem sido sua atuação no colegiado?

Sempre observamos que o negro nessa nossa Bahia é maioria. E por conta de como a história do Brasil começou, a raça negra precisa de um lugar de reparação para ter mais direitos e igualdade. Na comissão a gente tem trabalhado muito esse espírito de reparação e feito ações ao lado dos movimentos sociais da negritude. Porque são eles e elas que sabem o quanto ainda são discriminados. Uma das coisas importantes foi votar o Estatuto da Igualdade Racial. Todo ano a gente realiza vários atos públicos no mês maio, mês que lembra a assinatura da Lei Áurea que não aboliu a escravatura. A gente sabe como foi o outro dia. E é muito bem cantado por Lazzo Matumbi o que foi o dia 14, “que subiu o morro e não tinha casa, não tinha terra, não tinha pão, não tinha onde ficar”. A gente está em 2021. São 521 anos de história do Brasil e, lamentavelmente, parece que nos últimos anos a violência piorou. Espaços que haviam sido criados nos governos de Lula e de Dilma, como o Ministério da Promoção da Igualdade, específico para a reparação dos quilombolas, a demarcação de terra, a oportunidade de estudar na universidade, tudo caiu. É uma coisa que dói muito no ser humano que tem alma e preza pela vida. A gente precisa acabar com esse racismo e machismo e constituir, de fato, uma sociedade mais justa e mais igual. É a batalha constante nessa comissão.

A senhora, que também tem experiência como professora, como avalia a retomada das aulas presenciais na rede estadual de ensino somente mais de um ano e meio depois do início da pandemia? Dá para dimensionar o tamanho do impacto na vida dos estudantes?

É um prejuízo irreparável. No entanto, o que é melhor é a vida. Com ela, mesmo que você fique um ano de estudo atrasado, você tem como viver, trabalhar e aprender outras coisas. Também percebo que, ao ficar fora da sala de aula, nossas crianças e jovens aprenderam coisas que, talvez ficando só na sala, não teriam a oportunidade [de aprender]. Ficaram mais perto do pai, da mãe, do avô, lamentaram perdas. Hoje temos 132 mil órfãos da Covid. São situações que só com muito tempo de estudo pra gente revelar o tamanho do impacto.

Sobre sucessão estadual, quais os desafios que o PT tem para sedimentar o caminho que garanta a permanência do partido no governo do Estado?

A política é a arte de juntar os diferentes, porque cada um tem a sua ideia, cada partido tem o seu jeito próprio. Nós acertamos quando escolhemos o galego, que é o [senador] Jaques Wagner. A gente até dizia: “deste galego não abro mão”. Eu mesma continuo repetindo a frase. E ele, com sua capacidade estratégica, reuniu forças políticas. Acredito que os desafios são os mesmos: construir uma aliança que garanta uma base para eleger uma boa bancada de deputados estaduais – e quero estar nesta bancada – e de deputados federais, porque as pesquisas apontam, com muita firmeza, a volta do presidente Lula. E pra governar um Brasil do tamanho que é, com os desafios que temos, as dificuldades que o Lula sendo eleito vai encontrar, um Brasil todo desmontado, vamos precisar de uma bancada de deputados federais muito unificada pra gente reaver os direitos que perdemos.

Com a volta de Lula à cena política, a oposição ao governo federal ganhou um novo fôlego. Já se pode falar em união da esquerda ou ainda há um longo caminho pela frente?

A esquerda percebe o quanto necessita de uma união. Essa percepção é clara. Agora, entre perceber e dar como prego batido e ponta virada, tem uma construção a ser feita. E o mestre Lula não para. Você viu que ele veio aqui no Nordeste, depois Brasília, depois lá o Sul, agora já no exterior, buscando a compreensão de que o Brasil tem jeito, não pode ficar como está. Eu acredito que, com a esquerda que sempre foi inteligente – senão a gente não teria resistido e chegado a governar o Brasil –, a capacidade de unificação vai ter a hora certa pra acontecer.

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