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terça-feira 22 de fevereiro de 2022 às 06:23h

Com ícones comunistas, cerveja quer conquistar público de esquerda no Brasil

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Nesses tempos de Jair Bolsonaro presidente, o Brasil não parece um lugar agradável conforme Chico Alves, colunista do UOL, para simpatizantes do comunismo. Teorias da conspiração espalhadas por integrantes do governo, provocações nas redes sociais e uma onda de ignorância que equipara comunistas e nazistas são alguns dos contratempos enfrentados pelos camaradas. Mesmo assim, um grupo de mineiros resolveu misturar ideologia, negócios e álcool para criar a cervejaria Soviet, voltada para o público de tendência vermelha.

Sediada em Juiz de Fora, a pequena Soviet tem em catálogo sete marcas de cerveja que remetem a pessoas e fatos marcantes do comunismo ou de movimentos sociais: Lenin (líder da Revolução Soviética), Rosa Luxemburgo (nome da filósofa e economista marxista polaco-alemã), Marighella (o mais famoso guerrilheiro do período da ditadura militar), Maria Felipa (pescadora baiana que teria participado da luta pela independência da Bahia), Revolução de Canudos, Gandhi (líder político indiano), 1947 (homenagem à independência da India) e Guerrilha do Araguaia.

Pode ser uma imagem de bebida

A ideia de explorar esse nicho nasceu em 2019, da cabeça de Demócrito Albuquerque, 23 anos, filho de pais militantes do PCdoB. Ele se juntou a outros três sócios, Marcos, Alexandre e Thiago, todos de esquerda. A primeira cerveja lançada foi a Lenin.

“Fizemos a avaliação de que faltavam marcas que representassem a esquerda assim como a Havan representa a direita. Que não tivesse medo de levantar bandeira, de lutar por sua causa, de se posicionar”, explicou Demócrito à coluna. “Desde o começo não tivemos medo da reação contrária, porque foi muito grande a reação a favor”.

Os sócios encaram como missão fazer propaganda comunista. Querem levar datas e nomes históricos de volta ao público e fazer as pessoas de esquerda se posicionarem. Outra missão é colaborar para a mudança social. “Do nosso faturamento, 5% são destinados a ações comunitárias, como a brigada de incêndio do parque estadual de Ibitipoca ou uma biblioteca comunitária infantil, em Paraty”, diz o criador da Soviet.

Mas a preocupação política e social não atrapalha o objetivo de tentar fazer uma cerveja saborosa, que combina com cada nome de batismo.

Com ícones comunistas, cerveja mineira quer conquistar público de esquerda  - 22/02/2022 - UOL Notícias
Sócios da Soviet: Demócrito Albuquerque, Marcos Miranda, Alexandre Vaz, Thiago Valério – Foto: Divulgação

A cerveja Guerrilha do Araguaia é apresentada dessa forma: “O pedaço de terra escolhido para cativar ribeirinhos à luta e preparar a revolta contra a Ditadura Militar no Brasil levou aos trabalhadores e camponeses educação e saúde. Daí nascia a Guerrilha do Araguaia e a luta contra um dos períodos mais sombrios da história. Prestamos nossa homenagem com uma cerveja refrescante de cor dourada que tem da região uma grande inspiração: a mandioca, produzida por uma comunidade quilombola”.

A cerveja Marighella é descrita como uma homenagem ao guerrilheiro baiano. “E foi da Bahia, sua terra natal, que veio a inspiração para essa Witbier: coentro, laranja bahia e limão estão na composição dessa cerveja super refrescante, para você celebrar mais um dia de luta”.

A concepção da pioneira Lenin mistura ideias revolucionárias com uma tentativa de surpreender o paladar. “‘Paz, terra e pão’. Os três pilares das Teses de Abril, formuladas pelo grande Vladimir Lênin, são a inspiração desta cerveja do tipo Bitter”, informa a cervejaria. “Refrescante, possui notas de pão tostado e toque terroso. Uma companheira à altura de uma grande revolução”

Apesar de estarem sob o governo de extrema-direita de Bolsonaro e em meio a um clima de reacionarismo, os donos da Soviet garantem que nas redes sociais recebem muito mais elogios que ataques da direita.

A Soviet também recebe críticas vindas da esquerda, daqueles que acham inadequado misturar ícones comunistas em uma empresa que visa o lucro.

“Estamos inseridos em um mundo de economia capitalista, mas defendemos o consumo consciente, sustentável, e a mudança social a partir da renda que a gente gera. Afinal, comunismo não é voto de pobreza”, explica Demócrito. Além disso, ele diz que a empresa não utiliza técnicas de mercado que estigmatizem e oprimam o trabalhador.

Os camaradas cervejeiros de Juiz de Fora acompanharam a polêmica recente, causada pela incontinência verbal do podcaster Monark, que apresentava o Flow Podcast, e comparou o comunismo ao nazismo.

“É lamentável ver essa comparação que só serve para alimentar os discursos da direita e dos liberais”, opina Thiago Valério, um dos sócios da cervejaria. “Nossa história não pode ser esquecida e é por isso que a Soviet crê no lançamento de cervejas para conscientizar, e não alienar”.

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