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Com desafio de controlar língua, Ciro lança candidatura sem alianças

sexta-feira 20 de julho de 2018 às 14:03h

Em sua terceira campanha presidencial, Ciro Gomes oficializa sua candidatura ao Palácio do Planalto nesta sexta (20), em Brasília, com o desafio de controlar o estilo verborrágico e de tentar contornar o risco de isolamento político.

As duas dificuldades foram seus principais obstáculos nas disputas presidenciais passadas, nas quais foi derrotado no primeiro turno, e voltaram a ameaçá-lo nesta semana, antes mesmo do início oficial da corrida eleitoral.

Na segunda-feira (16), Ciro tinha a certeza de que conseguiria o apoio de cinco partidos do chamado centrão, dando uma demonstração pública de força política na convenção nacional do PDT. Ele chega à convenção, contudo, sem o respaldo de nenhum deles, sem nenhuma aliança confirmada e sem um nome para o posto de vice. O bloco formado por DEM, PP, PR e Solidariedade decidiu formar uma aliança com Geraldo Alckmin, do PSDB. Desde o início de junho, dirigentes das siglas vinham criticando, em conversas reservadas, o comportamento imprevisível do pedetista, que, na quarta (18), xingou uma promotora de São Paulo. Além dos episódios recentes de destempero, causou desconforto crítica feita pelo presidenciável no passado ao ex-presidente nacional do PR Valdemar Costa Neto. Em 2004, Ciro disse que ele estava “embriagado” ao ter pedido a saída do então ministro da Fazenda, Antonio Palocci.

Em jantar com as legendas do centrão, em junho, Ciro já havia sido cobrado pelo gênio forte. O marqueteiro dele, Manoel Canabarro, e o coordenador da campanha, seu irmão Cid Gomes, já lhe pediram para evitar palavrões. Em resposta, ele tem prometido conter o pavio curto. “Ele tem tentado se policiar”, afirma o irmão. Até agora, no entanto, o esforço não surtiu efeito. A cúpula do partido, que tinha a expectativa inicial de que ele adotasse um perfil “paz e amor” na disputa deste ano, estratégia que ajudou a eleger Lula em 2002, já descartou essa possibilidade.

A personalidade explosiva é apontada por dirigentes pedetistas como um dos fatores que prejudicaram a candidatura de Ciro em 2002. Na época, perguntado pela imprensa, ele respondeu que um dos papéis na campanha eleitoral de sua então mulher, a atriz Patrícia Pillar, era dormir com ele. O episódio causa reflexos até hoje na imagem do candidato, cujo desempenho eleitoral entre as mulheres é inferior ao dos homens em todos os cenários das pesquisas eleitorais, o que o tem levado a tentar desconstruir crítica de que seja machista. O recuo dos partidos do centrão pode ainda impactar as negociações com partidos de esquerda, como PSB e PC do B. Com a preocupação de um isolamento do PDT, os dirigentes das duas siglas voltaram a cogitar de maneira mais enfática um apoio ao PT. Sozinho, o PDT tem apenas 33 segundos em cada bloco fixo de 12 minutos e 30 segundos na TV, durante a campanha.No PSB, o movimento é puxado principalmente pelo governador Paulo Câmara (PE), que quer evitar, com um acordo nacional, o lançamento pelo PT da candidatura de Marília Arraes, que ameaça a sua reeleição.

Para evitar que Ciro fique isolado na disputa eleitoral, o PDT esboçou nesta última quinta (19) estratégia de contra-ataque. Além de aumentar a ofensiva sobre o PSB, ele buscará separadamente partidos que integram o bloco de centro, na tentativa de reverter o apoio a Alckmin. A cúpula do partido ainda considera possível viabilizar uma aliança com o Solidariedade que, como tem defendido Ciro, prega a revogação da reforma trabalhista e a discussão de uma alternativa de financiamento às centrais sindicais com o fim do imposto sindical obrigatório. Em uma tentativa de dividir o centrão, o presidenciável evitará temas polêmicos e defenderá a adoção de um “manual de decência” na convenção partidária desta sexta.

No seu discurso, ele deve se esquivar de pontos que enfrentam resistência em partidos como DEM, PP e PR, como a revogação da reforma trabalhista e a taxação de grandes fortunas. Em compensação, dará destaque a pautas que costumam ser defendidas por partidos de centro-direita, como o combate à corrupção, o maior financiamento à segurança pública e a adoção de políticas de geração de emprego.

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