Em meio à debandada de secretários do Ministério da Saúde, a equipe do presidente Jair Bolsonaro acelerou a busca por um substituto do ministro Luiz Henrique Mandetta, que já avisou auxiliares de sua demissão nos próximos dias. Entre os cotados estão médicos de fora da pasta e o número 2 do ministério, João Gabbardo.
Um dos médicos sugeridos a Bolsonaro é Carlos Lottenberg, que conta com apoio de Fabio Wajngarten, Secretário Especial de Comunicação Social. Bolsonaro também tem simpatia pelo cardiologista Otávio Berwanger, que, no início do mês, participou de reunião com um grupo de médicos no Planalto.
O entorno do presidente, no entanto, avalia que ele dificilmente aceitaria.Uma parte da ala militar, preocupada com uma política de continuidade, tenta emplacar o nome de Gabbardo, secretário-executivo, como possibilidade de solução temporária.
Ainda numa solução caseira, a oncologista Maria Inez Gadelha, que atua na Secretaria de Atenção à Saúde, também está na bolsa de apostas. A servidora conta com apoio sobretudo na bancada federal da Saúde.Com a piora na relação com o ministro, que perdeu apoio substancial no Palácio do Planalto, o presidente foi aconselhado a efetuar uma troca nesta semana, antes que Mandetta volte a ganhar força.
A equipe do ministro ligada ao combate da pandemia começou um movimento para deixar a pasta.Principal nome à frente das ações de controle do coronavírus, o secretário de vigilância em saúde do Ministério da Saúde, Wanderson Oliveira, pediu demissão na manhã desta quarta-feira (15).A informação foi confirmada pela pasta. Mais cedo, Oliveira já tinha divulgado uma carta à equipe, como revelou a coluna da Mônica Bergamo.
Além de Oliveira, o secretário Denizar Vianna (Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos), também deu sinais de que deve sair caso a exoneração do ministro se confirme.Com receio de ver os trabalhos descontinuados, auxiliares de Mandetta deram ordens à equipe para que acelerem a publicação de trabalhos técnicos que já estejam em fase de finalização para no máximo quinta-feira (16).
Mais cedo, Oliveira pediu a diretores que fizessem um balanço das ações de suas áreas para uma eventual troca de gestão.Pedido semelhante foi reforçado por Mandetta em reunião nesta quarta. Na ocasião, o ministro orientou a equipe a acelerar ações para mostrar que a pasta cumpriu o que havia prometido fazer.
Aliados do presidente buscam um nome que traga confiabilidade e não provoque mais estrecimentos ao governo em meio à pandemia, que se aproxima de seu período mais crítico.Inicialmente, Bolsonaro fazia questão de nomear alguém que fosse alinhado a ele na defesa do isolamento vertical, que preserva os grupos de risco, e na utilização da hidroxicloroquina em pacientes em fase inicial da doença. No entanto, ele passou, de acordo com aliados, a aceitar uma alternativa que, embora tenha uma visão diferente da dele no combate à doença, não adote posição de confronto ou o desautorize em público.
A ideia principal, como reafirmou um ministro do governo, é escalar alguém que ajude a reduzir um eventual desgaste público com a saída de Mandetta. Por outro lado, há uma preocupação com a transição na Saúde, para que a saída do atual ministro não se dê sem que haja memória do trabalho produzido até aqui, com mais de um mês de crise. Conta a favor de Gabbardo o fato de o secretário ter cortado perguntas em entrevistas que pudessem contrapor Bolsonaro às recomendações do ministério, como saídas para pontos de comércio de Brasília.
Há, porém, quem veja nele um forte aliado de Mandetta por ter se mostrado fiel ao ministro em algumas aparições públicas.
De acordo com relatos feitos à Folha, Gabbardo não chegou a ser convidado e ainda há dúvidas de que aceitaria a missão.Nesta quarta (15), o de Vigilância em Saúde, Wanderson Oliveira, pediu demissão do cargo, se antecipando à saída de Mandetta. Aliados de Bolsonaro se esforçam para construir um grupo de indicações. Há uma ala que defende que Mandetta seja substituído por um médico de renome, afastado de polêmicas.
Há uma preferência para profissionais de hospitais de referência, como Albert Einstein, onde Bolsonaro foi tratado após facada sofrida em 2018.Alinhados a Bolsonaro, o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) e o diretor-presidente da Anvisa (Agência Nacional da Vigilância Sanitária), Antônio Barra Torres, chegaram a ser inicialmente favoritos para o posto.
O perfil político e a amizade de ambos com o presidente, no entanto, são apontados como empecilhos para uma indicação. Segundo deputados bolsonaristas, eles só serão efetivados caso o presidente não encontre alguém de peso.Convidada para participar do comitê de crise, a médica Nise Yamaguchi, que defende o uso de hidroxicloroquina, chegou a ser sondada, mas ela não teria demonstrado disposição em assumir o cargo.Desde a semana retrasada, o presidente já havia decidido trocar o comando da pasta, mas tinha receio da repercussão de uma mudança em meio à pandemia de coronavírus.