Durante a campanha eleitoral, Jair Bolsonaro criticava a “velha política”, marcada pelo “toma-lá-dá-cá”.
Em um ano e meio de governo, Jair Bolsonaro dividiu-se entre o discurso radical da ala ideológica e a inexperiência política do núcleo militar. O resultadofoi uma crise política e institucional com os demais poderes.
Além disso, sofreu uma série de derrotas no Legislativo.
E diante da ameaça ao seu mandato, com inquéritos em andamento no Supremo Tribunal Federal (STF) e investigações que envolvem seus filhos, o governo precisou articular com o chamado “Centrão”.
O Planalto buscou construir uma base de apoio na Câmara e no Senado e passou, nos últimos meses, a negociar com políticos desses partidos e a trocar cargos federais por apoio no Congresso.
Com essa aproximação, Bolsonaro também começou a ouvir mais os chefes dessas legendas – e o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, tem sido o principal “conselheiro” do presidente nos últimos dias, segundo aliados.
Com fama de bom articulador político, Kassab reapareceu na cena política em Brasília ao assumir a negociação do partido com Bolsonaro e logo conseguiu um cargo no primeiro escalão: o presidente recriou o Ministério das Comunicações e nomeou o deputado federal Fábio Faria (PSD-RN), que também é genro de Silvio Santos.
No entanto, em entrevista ao UOL, em junho, o ex-ministro e presidente do PSD, Gilberto Kassab, negou que o partido integre o “Centrão” e que estivesse negociando cargos com o governo do presidente Jair Bolsonaro. “Condeno o loteamento de cargos”, disse.
“PORCARIA”
Antes dessa aproximação, durante a campanha eleitoral em 2018, Jair Bolsonaro chegou a gravar um vídeo chamando Kassab de “porcaria”.
“Quem é o ministro da Ciência e Tecnologia do Brasil, é o senhor Kassab que não sabe a diferença de Lei da Gravidade para gravidez, o que esta porcaria está fazendo lá? Botando seus apadrinhados, vendendo votos do seu partido para o (Michel) Temer e vai vender para o (Geraldo) Alckmin”, disse.
Quem é Kassab
Nas eleições de 2004, Gilberto Kassab, então filiado ao PFL, foi indicado pelo partido para ser vice na chapa de José Serra (PSDB) à Prefeitura de São Paulo.
Assumiu a Prefeitura quando o tucano renunciou para concorrer ao governo do estado em 2006.
Foi reeleito em 2008 e criou seu próprio partido, o PSD, em 2011. Na época, disse que a legenda não era de direita, nem de esquerda, nem centro.
A falta de viés ideológico confirmava o propósito do partido, que era ser moeda de troca nas negociações com os mandatários. No governo da ex-presidente Dilma Roussef (PT), comandou o Ministério das Cidades.
Mesmo ministro, atuou nos bastidores pelo impeachment da petista. No dia seguinte à saída dela, foi nomeado ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações por Michel Temer (MDB).
Agora, é nomeado como secretário da Casa Civil no governo de João Doria (PSDB), em São Paulo. Mas está licenciado por conta das denúncias que responde no inquérito da Lava Jato e colocou um apadrinhado de sua confiança no cargo: Antônio Carlos Malufe, conhecido como Malufinho.