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domingo 19 de junho de 2022 às 08:52h

Colômbia tem duelo entre progressista e ultradireitista

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Gustavo Petro diz que reduzirá a desigualdade e é a primeira chance de a esquerda governar o país. Rodolfo Hernández, muito ativo nas redes sociais, tem conforme reportagem do DW, como eixo o discurso anticorrupção. Segundo turno é neste domingo.

A Colômbia, segundo país mais populoso da América do Sul, escolherá neste domingo (19) quem será o seu próximo presidente. As opções são o progressista Gustavo Petro, que já foi deputado, senador e prefeito de Bogotá e concorre ao cargo pela terceira vez prometendo reduzir desigualdades e fortalecer políticas sociais, e o ultradireitista Rodolfo Hernández, empresário da construção civil e ex-prefeito de Bucaramanga que é muito ativo nas redes sociais e tem como eixo de campanha o discurso anticorrupção.

No primeiro turno, realizado em 29 de maio, Petro recebeu 40% dos votos e Hernández, 28%. Agora, ambos aparecem tecnicamente empatados em diversas pesquisas eleitorais.

O atual presidente colombiano, Iván Duque, que governa o país desde 2018, tem baixa aprovação e não emplacou nenhum nome no segundo turno. Ele representa a corrente de direita tradicional liderada pelo ex-mandatário Álvaro Uribe, que governou o país de 2002 a 2010. Os dois candidatos que se enfrentam neste domingo têm discursos de mudança em relação à atual gestão.

É a primeira vez que a esquerda colombiana, que foi historicamente associada à violência da guerrilha e teve diversos líderes sociais assassinados, tem chances de vencer uma disputa presidencial na Colômbia. Petro, de 62 anos, chegou a ficar preso por 18 meses nos anos 1980 por sua atividade como membro do grupo guerrilheiro M-19 e hoje se apresenta como um progressista moderado que pretende ampliar o acesso a direitos sociais e proteger o meio ambiente.

Hernández, de 77 anos, construiu uma forte presença em redes sociais e aplicativos de mensagem, como o TikTok e o WhatsApp, para se apresentar como um candidato de fora do sistema político e contra a corrupção – no entanto, ele mesmo é investigado em um processo que apura direcionamento de licitação quando era prefeito, o que ele nega. Entre suas propostas, está vender aviões e automóveis usados por autoridades e transformar a residência presidencial em um museu.

A campanha deste ano também tem como ineditismo o fato de o processo de paz não ser o ponto central dos debates. Em 2016, a Colômbia assinou o acordo de paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). A violência, no entanto, prossegue, especialmente nas zonas rurais.

Além disso, os dois nomes no segundo turno têm como candidatas a vice mulheres negras. A companheira de chapa de Petro é Francia Márquez, de 40 anos, ativista ambiental e de direitos humanos que se notabilizou ao enfrentar o garimpo ilegal de ouro. A candidata a vice de Hernández é Marelen Castillo, de 53 anos, que tem uma carreira acadêmica na área de ciências e foi reitora de duas universidade católicas.

Série de protestos desgastou uribismo e fortaleceu esquerda
O governo Duque foi marcado por uma série de protestos reprimidos de forma violenta por forças de segurança. No final de 2019, suas propostas para flexibilizar o mercado de trabalho e o sistema previdenciário, entre outras, resultaram em manifestações de rua que começaram pacíficas e evoluíram para toques de recolher e forte repressão – um estudante, Dilan Cruz, de 18 anos, foi morto após ter sido ferido na cabeça por uma granada de gás lacrimogêneo.

Manifestações balançaram a Colômbia durante a gestão Duque

Outra sequência de protestos eclodiu em setembro de 2020, agora contra a violência policial e das Forças Armadas, cujo estopim foi a morte de Javier Ordóñez após uma abordagem policial em Bogotá. As manifestações, comparadas à reação à morte de Georg Floyd nos Estados Unidos em março daquele ano, sofreu forte repressão por forças estatais, e 13 pessoas foram mortas.

Em maio de 2021, uma proposta do governo de reforma tributária que aumentava o imposto sobre valor agregado de alguns produtos, alimentos e serviços e ampliava o número de pessoas que pagariam imposto de renda, onerando a classe média, motivou uma nova onda de manifestações, que novamente durou vários dias e foi brutalmente reprimida. Ao final, 18 civis e um policial morreram, e o governo retirou sua proposta de reforma tributária.

O caldo dessas manifestações incluía a insatisfação com o aumento da pobreza e da desigualdade social, agravadas pela pandemia de covid-19, e o abuso dos direitos humanos em todo o país. A organização dos protestos fortaleceu a interação entre grupos de esquerda, que acabou por favorecer a construção da candidatura de Petro em torno de uma coalizão chamada Pacto Histórico.

Petro e sua candidata a vice, a ativista ambiental e de direitos humanos Francia Márquez, em evento de campanha
O eixo de campanha de Petro é reduzir a desigualdade de renda, fortalecer as políticas sociais e implementar uma agenda de defesa do meio ambiente, com propostas como o aumento dos impostos cobrados dos mais ricos, a redução da exploração de recursos naturais e a reforma da polícia e do Exército.

O desgaste do atual governo colombiano, por outro lado, impôs uma severa derrota ao uribismo, que havia vencido eleições presidenciais no país desde 2002: primeiro com Álvaro Uribe, depois com Juan Manuel Santos – com quem ele posteriormente rompeu – e finalmente com Duque. A derrocada desse grupo político abriu espaço à direita para o surgimento de Hernández.

Hernández capitaliza voto antiesquerda

O empresário, que já foi apelidado de “Trump Tropical” pela imprensa local, subiu nas pesquisas nos dias que antecederam o primeiro turno e ultrapassou o conservador Federico “Fico” Gutiérrez, ex-prefeito de Medellín.

Ainda no primeiro turno, ele obteve o apoio da ex-refém da guerrilha das Farc Íngrid Betancourt, única mulher que disputava a eleição, que decidiu desistir da corrida devido aos seus maus resultados nas sondagens. No segundo turno, ele se beneficia do fato de ser o único nome antiesquerda na disputa.

Hernández se autoproclamou

Candidato do movimento Liga de Governadores Anticorrupção, criado por ele mesmo, Hernández fez do título de “engenheiro” algo indissociável de seu nome, dando a ideia de que por ser rico não precisaria roubar dos cofres públicos.

Em 2016, ele afirmou em uma entrevista que admirava Adolf Hitler, segundo ele um “grande pensador alemão”. Após a repercussão negativa, disse que havia se enganado e que na verdade referia-se a Albert Einstein. Dois anos depois, ele agrediu um vereador da oposição de Bucamaranga, Jhon Claro, com um tapa na cara durante uma reunião que estava sendo gravada em vídeo.

Autoproclamado “Rei do TikTok”, Hernández tem mais de 600 mil seguidores na rede social, é forte também em outras plataformas, organizou uma rede de grupos de WhatsApp com seus apoiadores e costuma veicular vídeos com comentários exaltados. Por esse motivo, alguns analistas às vezes o comparam ao presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, além de Trump. Ele já disse, por exemplo, que o ideal para as mulheres era se dedicar a criar filhos e já chamou mulheres venezuelanas de “fábricas de crianças pobres”.

Hernández tentou reduzir o impacto negativo dessas declarações passadas prometendo, nesta campanha, promover a igualdade de gênero nos ambiente de trabalho e acabar com a diferença salarial entre homens e mulheres. Suas propostas também incluem reduzir a burocracia para a abertura de empresas e incentivar o empreendedorismo digital.

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