O acervo do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, que está sendo reconstituído depois de ser quase que totalmente destruído por um incêndio em setembro de 2018, ganhou 1.104 peças doadas pelo grupo suíço-alemão Interprospekt, da família do colecionador Burkart Pohl.
A doação foi feita por meio de uma parceria com o Instituto Inclusartiz, presidido pela ativista cultural argentina radicada no Brasil Frances Reynolds, e o Museu Nacional. As peças foram apresentadas à imprensa nesta terça-feira, 7, e já estão guardadas em instalações do espaço cultural. O museu, que fica na Quinta da Boa Vista, na zona norte da capital, e pertence à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), deve reabrir ao público em abril de 2026.
Compradas em feiras internacionais, as peças são originárias da Bacia do Araripe, localizada entre os Estados do Ceará, Pernambuco e Piauí, onde estão as formações Crato e Romualdo. Segundo o Museu Nacional, são duas unidades ricas em material paleontológico que datam, respectivamente, de 115 milhões e 110 milhões de anos.
“A gente vai ter a oportunidade de estudar esse material e fazer uma série de análises e pesquisas envolvendo não só a descrição, mas a reconstrução do ambiente da Bacia do Araripe há 110 milhões de anos. Além disso, são fósseis belíssimos, que vão ajudar a gente a recompor as nossas exposições quando o museu reabrir. É uma doação de importância tripla. A gente tem a ciência, a divulgação científica mostrando isso para a sociedade e a oportunidade de formar novos paleontólogos que vão estudar esses fósseis”, afirmou a paleontóloga do Museu Nacional Juliana Sayão.
Frances, que tem intensa atuação no cenário das artes plásticas do Brasil e do mundo, atendeu a um chamado do diretor do museu, Alexander Kellner, e em 2022 assinou um acordo de colaboração técnica entre o Instituto Inclusartiz e a Associação Amigos do Museu Nacional (SAMN). Desde então trabalha pela recuperação do acervo do museu, que teve 85% das peças destruídas pelo fogo. Foi assim que a argentina radicada no Brasil intermediou a doação de Pohl.
O colecionador concluiu que peças de seu acervo que são originárias do Brasil deveriam ir para o Museu Nacional. “Por acaso tenho uma coleção de fósseis daquela área. Então pensei: tem que haver um estoque de fósseis do Brasil no museu mais importante do Brasil”, afirmou.
“A gente faz um apelo para que mais pessoas façam isso. O Museu Nacional pertence a todos e seria muito importante que a gente realmente se concentrasse na recuperação e recomposição das nossas coleções”, disse o diretor do museu. A instituição já recebeu cerca de 2.000 peças doadas para a reconstituição do acervo, e ele espera chegar a 10 mil. “Já tivemos particulares doando, desde peças arqueológicas e até mesmo o pequeno quadro da Leopoldina, essa austríaca de nascença, mas brasileira de coração.”
Colecionador
Neto de Karl Stroeher (1890-1977), cuja coleção de arte formou a base do Museu de Arte Moderna de Frankfurt, e filho de Erika Pohl-Stroeher, que reuniu a maior e mais refinada coleção de minerais e gemas da Europa, Pohl adquiriu muitos fósseis durante as últimas décadas, em feiras internacionais na Europa e nos Estados Unidos, e por isso tem uma das mais significativas coleções privadas do mundo.
Por acreditar na importância dos museus de história natural, criou o Centro de Dinossauros de Wyoming, nos Estados Unidos, e o Museu Paleontológico Sino-Alemão, em Liaoning, na China. Os dois fazem parte do grupo Interprospekt, que desenvolve projetos globais de escavações, exposições, educação e comércio relacionados à história natural.
Em um desses projetos, um grupo de seis paleontólogos e estudantes do Museu Nacional aceitou o convite de Pohl e em agosto de 2023 participou da primeira excursão de escavação conjunta no noroeste dos Estados Unidos. O local é conhecido como terras ricas em fósseis de dinossauros da Formação Hell Creek, nos Estados de Wyoming e Montana.