Dono de três ministérios empossados por Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o União Brasil não se compromete a entregar o apoio exigido pelo líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (Rede-AP). Em entrevista ao jornal O Globo, Randolfe disse esperar “no mínimo 60% dos votos do União”, depois de o partido ter sido contemplado com postos do primeiro escalão. O presidente da legenda, Luciano Bivar, entretanto, condiciona a fidelidade das bancadas do partido, tanto na Câmara dos Deputados quanto no Senado, a diálogos e novos espaços na máquina pública federal. De acordo com ele, reuniões serão realizadas na próxima semana, e os parlamentares que assumem seus mandatos em fevereiro esperam ser contemplados com indicações.
— Os eleitos sequer assumiram os seus mandatos e têm pensamentos diversos. Como posso garantir um percentual de apoio neste momento? O União quer, sim, ajudar o governo, mas ainda precisamos conversar muitas coisas. Os deputados eleitos esperam ser contemplados com espaços, e esses postos podem ser negociados. Ainda temos tempo até lá e não falta boa vontade. Sempre estaremos ao lado das boas pautas—afirmou Bivar, que se reunirá com ministros nesta semana.
No governo, a cobrança de Randolfe também gerou desconforto. Em entrevista ao GLOBO, o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT), criticou a movimentação do aliado, dizendo que é hora de “articular muito e falar menos”. Guimarães afirmou que “há pendências a serem resolvidas” com o União Brasil, o que será debatido quando terminar o recesso legislativo.
— Dizem que tem gente insatisfeito com isso e aquilo. Vamos buscar construir um entendimento com o União Brasil. Tem muito tempo e muito espaço para buscar o entendimento.
Nos bastidores, lideranças do partido dizem que o governo terá dificuldades em fechar alguns apoios, e que a bancada do União sempre contará com dissidentes.
Em caráter reservado, eles dizem que o apoio parcial da sigla neste momento foi precificado durante as negociações com o presidente Lula. Segundo um interlocutor que acompanhou o acordo, a entrega de três ministérios ocorreu mesmo sem a legenda entregar a totalidade das bancadas no Congresso.
No Senado, o União tem nomes de oposição como os senadores eleitos Sergio Moro (PR) e Alan Rick (AC). Na Câmara, o líder Elmar Nascimento (BA), após perder o comando do Ministério da Integração para Waldez Góes, disse que não pode garantir a bancada e que o partido terá uma posição de independência.
A avaliação é que o PT não pode neste momento abrir mão do apoio, mesmo que parcial, uma vez que o União com 59 deputados é o terceiro maior partido da Câmara e deverá funcionar como uma espécie de fiel da balança nas votações. O PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, tem 99 deputados, enquanto que a federação PT-PV-PCdoB soma 80 parlamentares. De todo modo, garantem membros do partido, a maioria dos parlamentares estará ao lado de Lula para cumprir o acordo, quando necessário.
O União Brasil assumiu o Ministério das Comunicações, com Juscelino Filho e a pasta do Turismo, deixada sob os cuidados de Daniela Carneiro. Também indicado pela sigla, Waldez Góes ficará responsável pelo ministério da Integração e Desenvolvimento Regional.
A interpretação de alguns dos caciques do partido é de que a legenda não teria ficado espaços de orçamento alto e que os ministérios dados proporcionariam poucos ganhos políticos aos seus mandatários. Além disto, a distribuição não teria agradado a totalidade das alas da legenda.
Entre os petistas, o discurso é de confiança de que os correligionários de Luciano Bivar estarão ao lado de Lula em importantes votações. Ao Roda Viva, da TV Cultura, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, disse contar com as bancadas na Câmara e no Senado.
— A informação que eu tenho é que o União Brasil faz parte da base do governo e por isso tem três ministérios. Isso ficará a cargo do diálogo ministro (das Relações Institucionais) Alexandre Padillha acompanhar e fazer esse diálogos com os partidos. É evidente que um partido que tem três ministérios ele compõe a base de governo até por coerência partidária — disse. Ao ex-governador da Bahia é atribuído o veto ao nome de Elmar Nascimento, adversário político no estado. Ele nega, mas diz que Elmar ter ficado de fora do ministério de Lula evita constrangimentos que seriam inevitáveis, caso o desafeto assumisse o cargo.
— Algumas pessoas subiram excessivamente o tom e foram extremamente desrespeitosas nesta eleição. O que foi feito evita constrangimento para todo mundo, seja para o indicado ou para o presidente. Com isso, dialogou-se com o partido (União) em busca de soluções, de novas indicações — disse Costa.