O governador reeleito do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), costura segundo Italo Nogueira, da Folha de S. Paulo o novo mandato como uma base de acordos para buscar liderar as eleições municipais de 2024 em toda a região metropolitana.
O novo secretariado deve ser composto com indicações acordadas com partidos desta aliança, e não mais com deputados estaduais avulsos, estratégia adotada no primeiro mandato para consolidar uma base na Assembleia Legislativa após o impeachment do antecessor Wilson Witzel.
O modelo deve marcar o início do distanciamento gradual de Castro com a família Bolsonaro, derrotada na eleição presidencial.
Interessado em manter bom relacionamento com a futura gestão do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, o governador fluminense não pretende tornar o estado abrigo de opositores radicais ao petista atualmente na gestão federal.
Aliados de Flávio Bolsonaro (PL), porém, afirmam que o senador pretende cobrar de Castro o preço por ter barrado antes da eleição o crescimento de nomes alternativos propostos por bolsonaristas resistentes ao governador. Ser o único aliado do presidente Jair Bolsonaro na eleição foi um dos seus ativos na campanha.
Políticos ligados ao senador afirmam que ele cogita concorrer à Prefeitura do Rio de Janeiro, apostando que a vitória do pai sobre Lula na capital fluminense lhe dá viabilidade no embate com Eduardo Paes (PSD), provável candidato à reeleição.
Para isso, ao menos manter o espaço atual no governo é essencial para a pré-campanha. O principal feudo de Flávio na gestão Castro é a Secretaria Estadual de Esportes, tendo também influência em outras pastas.
Os dois ainda não conversaram sobre o tema. Mas os planos iniciais do governador não preveem a candidatura de Flávio à prefeitura. Castro pretende comandar seu grupo político nas eleições municipais e indicar um nome mais próximo para tentar a capital, trabalho que avalia começar com a montagem do novo governo.
O fechamento das portas para o clã Bolsonaro depende também da ampliação desses acordos, tendo em vista 2024. O senador reeleito Romário (PL), por exemplo, foi cogitado para assumir Esportes.
O principal nome especulado para tentar a capital com apoio do governador é o deputado Dr. Luizinho (PP). Ele foi convidado para assumir a Secretaria de Saúde para ampliar sua visibilidade, pasta na qual já tem influência completa com indicados.
Castro também pretende dar peso a secretarias atualmente ocupadas por indicados políticos sem expressão na área. O principal exemplo da mudança é a Secretaria da Educação, em que pretende tirar o corretor de seguros Alexandre Valle, indicado pelo PL, por um nome de mais vinculado ao setor.
O objetivo é também dar resultado em áreas consideradas estratégicas ao governo. Avalia-se que o desempenho em algumas pastas no primeiro mandato foi preterido em favor do cumprimento de acordos políticos.
As exigências políticas do governador reeleito surgem após uma vitória surpreendente com 58,7% dos votos válidos no primeiro turno. Aliados de Castro avaliam que a votação lhe deu força para comandar a montagem da nova gestão com mais autonomia.
O cenário é bem diferente de quando assumiu o governo após o afastamento de Witzel, de quem Castro era vice, por unanimidade na Assembleia Legislativa. À época, o governador foi forçado a fazer uma montagem descrita como “parlamentarista” de sua gestão.
Em entrevista à Folha após a reeleição, Castro também destacou o fato de a eleição para a Assembleia ter formado grandes bancadas partidárias, reduzindo a pressão sobre cargos no governo.
“Esse governo surgiu num momento político muito conturbado. Hoje está calmo. Então talvez não haja necessidade tão grande de um processo de coalizão. Os partidos maiores fizeram muitos deputados. Então essa diversidade partidária diminuiu bastante, o que faz ser o diálogo mais fácil”, disse o governador em outubro.
Uma das intenções de Castro é reduzir o número de secretarias, atualmente em 31, para cerca de 26.
O governador também pretende ampliar nomes de sua cota pessoal no governo. Um deles é o ex-deputado Washington Reis (MDB), barrado pelo TRE (Tribunal Regional Eleitoral) para ser vice de sua chapa em razão da Lei da Ficha Limpa. O emedebista deve assumir uma turbinada Secretaria de Transportes, responsável também pela execução de obras de mobilidade.
O vice-governador Thiago Pampolha (União Brasil) deve voltar a assumir a Secretaria do Meio Ambiente, desta vez com maior autonomia para escolha de seus subordinados.
A intenção de Castro é anunciar o novo secretariado na primeira quinzena de dezembro.
Castro também busca organizar a base na eleição para a presidência da Assembleia. Almejam o cargo o secretário de Governo, Rodrigo Bacellar (PL), o deputado Márcio Canella (União Brasil), o mais votado no estado, e o deputado Jair Bittencourt (PL). Este último já foi convidado a assumir a Secretaria de Agricultura. O governador tenta um acordo com os dois restantes.