O manifesto de seis potenciais candidatos à Presidência em 2022 em defesa da democracia prontamente levantou especulações: seria o documento um ensaio para a tão falada, mas ainda tão pouco nítida e concreta, frente ampla para enfrentar Jair Bolsonaro e Lula no ano que vem?
A resposta é: com essa configuração, muito dificilmente.
Uma das maiores surpresas do texto conforme a coluna de Vera Magalhães foi a adesão de Ciro Gomes (PDT), o único entre os signatários que já é candidato declarado e assumido como tal por seu partido, e o mais à esquerda do grupo quando se analisa o projeto econômico e de desenvolvimento do país que ele prega.
Brinquei com ele que, como na música de Renato Russo, sua presença ali poderia ser resumida como “festa estranha, com gente esquisita”.
Ciro não tem ilusões de que ali vá sair uma chapa para a Presidência, com o apoio dos demais. Prefere deixar as conversas — que vem tendo — sobre 2022 de fora da equação.
Como publiquei aqui ontem, ele foi procurado na própria quarta-feira por Luiz Mandetta para assinar o documento, que vinha sendo gestado pelos demais. Manifestou desconforto com a presença de Sérgio Moro no grupo, por ter dúvidas quanto à presença do ex-juiz e ex-ministro de Bolsonaro no que poderia ser chamado de “polo democrático” (aliás, o nome do grupo no WhatsApp, no qual o pedetista ingressou no celular da sua mulher, uma vez que não usa o aplicativo).
“Trata-se apenas de um gesto, concreto, objetivo, no sentido de que, colocadas de lado nossas divergências, algumas inconciliáveis, temos o consenso posível a favor da democracia, da Constituição e contra um claro surto autoritário de Bolsonaro”, me disse o ex-ministro.
A primeira ideia apresentada por Mandetta a Ciro era um projeto de lei de iniciativa popular instituindo em 31 de março o Dia Nacional da Consciência Democrática, o que seria uma resposta às tentativas anuais do bolsonarismo e das Forças Armadas de celebrar o golpe de 1964.
Mas prevaleceu no grupo a ideia do manifesto, considerada uma resposta simbolicamente mais forte e mais imediata que um projeto, que precisaria ser mandado ao Congresso, votado e poderia perder o impacto da data.
Ciro e os demais signatários, dos quais falei com três entre ontem e hoje, sabem que dificilmente haverá “liga” entre muitos dos integrantes do grupo.
O que ficou de sinal da conversa, conforme impressões que colhi com eles, de forma consensual ou isolada:
1) foi a primeira vez que Huck se apresentou como pré-candidato de forma mais explícita, aceitando integrar o grupo, e até dando sugestões no texto;
2) os dois tucanos presentes, João Doria e Eduardo Leite, ao assinarem juntos, estão admitindo a possibilidade de uma prévia no PSDB, o que será inédito se de fato ocorrer (já houve vários ensaios frustrados no passado);
3) Moro não é é um elemento que causa desconforto entre os demais como, a cada dia, dá sinais de que não vai se aventurar numa eleição, optando pelo caminho de construir uma carreira na iniciativa privada e tentar sair dos holofotes.