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sábado 27 de fevereiro de 2021 às 13:12h

Ciro busca alianças com centro para 2022 e diz que sua tarefa é tirar PT do 2º turno contra Bolsonaro

NOTÍCIAS, POLÍTICA


O ex-ministro Ciro Gomes (PDT) intensificou os acenos a siglas como DEM e PSD para viabilizar sua candidatura à Presidência em 2022 e, em entrevista à Folha de S. Paulo, ele defendeu uma união de centro-esquerda para derrotar Jair Bolsonaro (sem partido) e reforçou seu rompimento com o PT.

“Nesse quadro de hiperfragmentação, quem for contra o Bolsonaro no segundo turno tem tendência de ganhar a eleição. O menos capaz disso é o PT. Por isso, a minha tarefa é necessariamente derrotar o PT no primeiro turno”, afirma.

Ciro, 63 anos –que disputou o Planalto três vezes e terminou em terceiro lugar no pleito de 2018, com 13 milhões de votos (12% dos válidos)– escancarou seu distanciamento da sigla ao não embarcar na campanha de Fernando Haddad (PT) no segundo turno daquele ano, vencido por Bolsonaro.

Ex-ministro do governo Lula (PT), o pedetista diz que o que chama de “lulopetismo” representa hoje uma “adversidade intransponível” em sua relação com a legenda.

“Converso muito com os petistas. Lá dentro, tem um grupo que acha que o Lula, com sua loucura e caudilhismo, está passando de qualquer limite. Faz as coisas sem consultar ninguém, joga só, é o Pelé”, compara.

“O Lula escolheu o Haddad [como pré-candidato em 2022] porque não fará sombra a ele nem hoje nem jamais. Ou seja, quer replicar a escolha da Dilma [Rousseff].”

Ciro e Lula sentaram para um papo em setembro do ano passado e colocaram em pratos limpos questões da atribulada relação, mas uma reconciliação, desejada por setores da esquerda, não avançou.

“Nós [PT e eu] somos coisas diferentes. Fomos aliados em alguns momentos e adversários em outros. Eu agora tenho uma adversidade intransponível com o lulopetismo, que é diferente dos outros ‘PTs’ que eu conheço”, afirma.

Entre seus interlocutores no partido de Lula estão o governador do Ceará (berço político dos Gomes), Camilo Santana, e o senador pela Bahia Jaques Wagner.

Repetindo o mantra de que “o Brasil precisa de uma amplíssima união de centro-esquerda”, o pedetista estreitou laços com os presidentes nacionais do DEM, o ex-prefeito de Salvador ACM Neto, e do PSD, o ex-ministro Gilberto Kassab, de olho em alianças.

O PDT, que em 2018 concorreu ao Planalto coligado apenas com o nanico Avante, trabalha também para repetir na disputa eleitoral o bloco que formou com PSB, PV e Rede Sustentabilidade, atuante na oposição a Bolsonaro no Congresso.

Nas eleições municipais de 2020, a dobradinha PDT-PSB saiu vencedora em três capitais de estados do Nordeste (Fortaleza, Recife e Maceió). O partido de Ciro ainda compôs chapas vitoriosas em Aracaju (com PSD, entre outros, na coligação), Salvador (com DEM) e Natal (com PSDB).

Agora, o presidenciável se apega aos resultados para montar o arranjo da candidatura nacional. Calejado pela prática de quase 40 anos de carreira política, diz que a fase de conversas exige paciência e não envolve, por enquanto, acordos e indicações para a vaga de vice.

“Quero sinalizar minha vontade de alargar o diálogo, porque o Brasil necessita de um novo consenso. E aí aparece o DEM, com todas as suas contradições internas e comigo, e o PSD, com contradições mais comigo do que internas. E daí? Quero que isso seja feito à luz do dia, de forma transparente.”

Oficialmente, nenhuma das duas legendas bateu martelo sobre 2022. Ambas mantêm contatos com outros pré-candidatos e caciques partidários.

Ciro evita nomear siglas almejadas ou vetadas em sua articulação. “No Brasil, o centro tem oscilado ciclicamente, conforme a agonia socioeconômica e a agenda político-institucional”, despista.

“Não tenho coragem de me propor a ser presidente do Brasil para governar sem um amplíssimo diálogo com as forças que me são diferentes. Busco alianças, desde que não sejam para roubalheira e loteamento de governo, mas, sim, à base de um plano de governo qualificado”, pontua.

Ao mesmo tempo em que sai à procura de aliados, o presidenciável tem olhado para dentro de casa, montando palanques estaduais do PDT e atraindo quadros.

Segundo Ciro, o partido está com candidaturas próprias engatilhadas em dez estados, entre eles São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraná, Ceará e Rio Grande do Norte. Em locais como Minas Gerais e Bahia, o PDT está acertando a presença em coligações.

Em São Paulo, a sigla quer filiar e lançar para o Palácio dos Bandeirantes o atual prefeito de Barueri, Rubens Furlan (hoje no PSDB). Em 2020, na disputa pela prefeitura da capital paulista, o PDT ocupou a vice de Márcio França (PSB), que é pré-candidato ao governo estadual.

A plataforma da candidatura presidencial de Ciro deverá seguir a trilha da apresentada em 2018, ancorada na retomada econômica e em um projeto nacional desenvolvimentista. Um dos desafios que se impõem para o grupo é o de traduzir as propostas para o eleitor.

Em linhas gerais, ele tem em mente um governo que nem estigmatize nem superdimensione o papel do Estado e a influência do mercado. “O Brasil está em fim de ciclo. Faz uma década que não crescemos nada”, afirma o pedetista. “O que funciona é um sistema misto, com o Estado na ativação da economia.”

“Nunca foi tarefa do mercado promover o desenvolvimento, nem é justo que se exija dele isso. Solto, ele produz inequidade e crise, mas ele é uma ferramenta indispensável ao progresso, e isso é algo que a esquerda antiga não entende.”

Alas da nova esquerda afeitas a pautas como a luta antirracista, a igualdade de gêneros e a diversidade sexual também não escapam às críticas do presidenciável. Em nome do voto do eleitorado médio, cansado dos governos recentes, Ciro sinaliza um afastamento de certos debates ideológicos.

“O Brasil não cabe num gueto de esquerda. O Brasil é grande demais, complexo demais. Especialmente se a gente entender que esquerda é esse identitarismo, que não duvido que é de boa-fé, mas que não consulta nada da vida real do povo, da moral popular, da religiosidade. E eu respeito tudo isso.”

Nos flertes com líderes partidários, ele tem marcado sua posição anti-Bolsonaro e anti-Lula e desestimulado apostas em neófitos como o ex-juiz Sergio Moro e o apresentador Luciano Huck (ambos sem filiação partidária), aos quais faz ataques pela inexperiência.

Outros raciocínios que ele usa a seu favor são a baixa popularidade de Bolsonaro e a derrocada do PT nas eleições municipais –o partido ficou sem eleger prefeitos em capitais pela primeira vez desde 1985 e amargou vexames como o 6º lugar de Jilmar Tatto em São Paulo.

“Há pesquisas mostrando repúdio à continuidade do Bolsonaro e apoio à existência de uma opção a ele e a Lula. Como alguém que está acumulando 70% de rejeição vai se reeleger?”, diz. Segundo pesquisa Datafolha de janeiro, o governo do presidente é considerado ótimo ou bom por 31% da população.

Em seus giros, Ciro também tem difundido a narrativa de que é o único postulante com consenso e estabilidade em seu partido. Ele alfineta o governador João Doria (SP), que enfrenta um PSDB rachado, e Haddad, que foi lançado pelo PT, mas já afirmou que, caso Lula possa concorrer, terá o apoio dele.

“Meu partido me quer, não tem contestação lá dentro, eu parto de um patamar de 12% a 15% em qualquer levantamento e estou aberto para conversar pra cá, pra lá”, valoriza o pré-candidato, a caminho de sua quarta tentativa de virar presidente da República.

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