Pesquisadores da Universidade Bar-Ilan, em Israel, afirmam ter criado um composto eficaz em prevenir a progressão da doença de Alzheimer quando diagnosticada nos estágios pré-sintomáticos. A descoberta foi publicada na edição de dezembro de 2022 da revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences.
De acordo com a ONG internacional Alzheimer’s Disease International, mais de 55 milhões de pessoas em todo o mundo viviam com a doença neurodegenerativa em 2020. A estimativa é que esse número cresça muito daqui a 10 anos, chegando a 78 milhões em 2030 e mais que dobre em 2050, atingindo 139 milhões de pessoas globalmente.
Até o momento, a maioria dos medicamentos desenvolvidos para tratar o Alzheimer não apresentaram bons resultados práticos, principalmente porque usam biomarcadores errados ou não são recomendados para pacientes com sinais da doença. Uma vez que os sintomas aparecem, muitas células neurais responsáveis pela memória e pela cognição provavelmente já estão danificadas e não podem ser reparadas.
Segundo o site americano SciTechDaily, o pesquisador israelense Shai Rahimipour é pioneiro ao criar uma abordagem diferente, que usa teranóstico (terapia e diagnóstico simultaneamente) para identificar e tratar os primeiros sinais da doença de Alzheimer, antes do aparecimento dos sintomas. O tratamento mostra-se promissor na capacidade de interromper a progressão do problema neurológico antes que danos irreversíveis ocorram nas células cerebrais.
No Alzheimer, uma pequena proteína conhecida como beta-amiloide é produzida descontroladamente e, unida em forma de placas, seriam responsáveis por danificar os neurônios. Muitos ensaios clínicos e bilhões de dólares foram investidos ao longo de mais de 25 anos para gerar tratamentos que possam interromper e prevenir a formação dessas placas. No entanto, de acordo com o site americano, essas terapias não tiveram sucesso e causaram efeitos colaterais intoleráveis.
Entenda a pesquisa israelense
No estudo recente, Shai Rahimipour e equipe desenvolveram um composto formado por pequenos peptídeos cíclicos abióticos (conjuntos de aminoácidos) e medicamentos que se mostrou eficaz em testes com cobaias no diagnóstico do estágio pré-sintomático da doença neurodegenerativa e no tratamento da doença. Quando os cientistas juntaram essa terapia a uma pequena quantidade de proteínas beta-amiloides, houve o bloqueio da produção de placas, revela o SciTechDaily.
Na etapa seguinte, os pesquisadores incubaram neurônios humanos com as proteínas tóxicas e foram expostos aos peptídeos cíclicos. A maioria dos neurônios permaneceu viva, mas os do grupo de controle, que não receberam a terapia, ficaram gravemente danificados e morreram.
Em outra etapa, foram realizados testes de eficácia dos peptídeos cíclicos em vermes C. elegans geneticamente modificados para desenvolverem sintomas parecidos com os do Alzheimer. Os pesquisadores observaram que ao darem os peptídeos cíclicos aos vermes, a sobrevida deles foi estendida dramaticamente, além de impedir o aparecimento da doença, sugerindo que o processo de formação das placas pode ser interrompido nos estágios iniciais.
Como mostra o site americano, nos testes com camundongos, também modificados geneticamente para terem Alzheimer, uma versão radioativa dos peptídeos cíclicos permitiu o diagnóstico pré-sintomático por meio da tomografia por emissão de pósitrons, uma técnica muito usada em hospitais. Os cientistas israelenses conseguiram detectar nas cobaias pré-sintomáticas as primeiras placas de beta amiloide no tálamo (área do cérebro que retransmite sinais motores e sensoriais ao córtex) antes de sua disseminação para outras partes.
Em seguida, os camundongos transgênicos foram tratados com peptídeos cíclicos e observados por um tempo para avaliação da memória e da quantidade de beta amiloides presentes no cérebro. Por meio de exames por imagens, os pesquisadores descobriram que as cobaias não geraram quantidades substanciais da perigosa proteína e, consequentemente, não desenvolveram nenhum sinal de Alzheimer.