Tornar-se uma cidade inteligente vai muito além de utilizar tecnologias. Significa que o município está preparado não apenas para oferecer a melhor qualidade de vida aos seus cidadãos, mas também para sobreviver a inconformidades. Exatamente por isso, o processo de certificação é – e precisa ser – extremamente detalhado: é necessário comprovar ao menos 119 indicadores, que precisam estar de acordo com os critérios dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Organização das Nações Unidas (ONU).
Há cinco anos, comecei a sentir que existia uma movimentação por parte do Parque Tecnológico São José dos Campos para conquistar esse reconhecimento. Lá atrás, já sabíamos do potencial do município para se tornar a primeira cidade inteligente do Brasil. Mas, ao mesmo tempo, não havia dúvidas de que seria necessário criar uma metodologia nova, totalmente do zero, para ganhar a certificação. E foi nesse momento que iniciamos a parceria com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e a Prefeitura de São José dos Campos.
Quando realizamos o pré-diagnóstico, que já estava de acordo com as normas ISO, percebemos que a cidade estava extremamente avançada e pronta para receber essa certificação. Foi neste momento que aconteceu uma mobilização para reunir registros e comprovar que conseguiríamos preencher os requisitos.
A questão principal de toda essa história é que, quando pensamos em cidades inteligentes, a primeira coisa que vem à cabeça das pessoas é a tecnologia. No entanto, para estar de acordo com as normas internacionais ISO, é necessário ir muito além e focar também em qualidade de vida, sustentabilidade e resiliência.
A ISO 37120 é focada em Qualidade de Vida e Sustentabilidade e é essencial para comprovar pontos importantes, como quantas academias ao ar livre e quantos quilômetros de ciclovia existem no município. Na parte de sustentabilidade, a ideia é evidenciar a questão de resíduos sólidos e reciclagem, por exemplo. Já a ISO 37123 comprova qual o nível de resiliência da cidade para lidar com desastres naturais, queda de energia ou problemas com o fornecimento de água, por exemplo. A questão que fica é: a cidade está pronta para lidar com problemas, prejudicando o mínimo possível a população?
Obviamente, a tecnologia não pode ser deixada de lado e, por isso, temos a ISO 37122, que foca em questões como reconhecimento facial, semáforos inteligentes, carros elétricos, sensores e câmeras de monitoramento e aplicativos que facilitam a rotina dos moradores. Não há dúvidas, São José dos Campos é, há muito tempo, uma cidade tecnológica.
Desde o momento em que começamos a buscar as comprovações para mostrar que o município estava de acordo com as normas internacionais, até o momento em que recebemos a certificação, tivemos um processo de cerca de 12 meses. Nesse período, criamos uma metodologia eficiente, que poderá, a partir de agora, ser utilizada para reconhecer outras cidades brasileiras.
Comprovando uma metodologia de sucesso, São José dos Campos foi certificada em março como a primeira cidade inteligente do Brasil, cumprindo 237 requisitos das três normas. Esse é o ponto de virada e a questão mais importante de todo esse processo: não apenas São José dos Campos ganhou esse reconhecimento, mas o Brasil, como um todo, deu um passo muito importante, já que, a partir de agora, outras cidades brasileiras poderão integrar uma lista enxuta.
No mundo, apenas 80 cidades são reconhecidas como inteligentes pela ONU. Entre elas, Barcelona, na Espanha; Londres, no Reino Unido; Toronto, no Canadá; Amsterdã, na Holanda; e Helsinki, na Finlândia. Justamente por termos esses nomes tão fortes, de cidades e capitais evoluídas, é um orgulho conquistar esse reconhecimento para uma cidade brasileira.
Mais do que isso, é sabermos que temos outros municípios brasileiros mais do que prontos para serem reconhecidos da mesma maneira. O Brasil também é um país tecnológico e basta apenas darmos os primeiros passos para o mundo inteiro não ter mais dúvidas sobre o quão preparados estamos.