Com prédio desabados, moradores presos sob os escombros e casas abandonadas, o terremoto uniu o destino da outrora tranquila cidade costeira de Jableh ao de outras cidades sírias devastadas por 12 anos de guerra.
Este reduto do regime na província de Latakia (noroeste) permaneceu relativamente à margem dos combates, mas a violência do terremoto da última segunda-feira (6) deixou-o irreconhecível.
“Esta é a primeira catástrofe desse tipo em Jableh. Tenho 52 anos e nunca vi nada parecido”, diz Abdelhadi al Ajji.
Segundo este pai de quatro filhos, cuja casa de concreto rachado fica ao lado de um prédio em ruínas, a cidade sempre foi um refúgio, mesmo no auge da guerra civil, iniciada em 2011.
Quando os rebeldes ganharam terreno em Damasco e no norte, Jableh enviou homens para lutar junto com as forças do governo. Na localidade, porém, não houve confrontos.
O terremoto que abalou a Síria e a Turquia na segunda-feira deixou 25.401 mortos — 21.848 na Turquia, e 3.553, na Síria, principalmente no norte do país —, além de centenas de milhares de necessitados e desabrigados.
Na província de Latakia, na costa do Mediterrâneo, pelo menos 623 morreram, segundo as autoridades locais, um número que não para de aumentar.
‘Com uma escavadeira’
Nos bairros residenciais de Jableh, não há buracos de bala, nem crateras de obuses, como é o caso na maioria das cidades sírias. Mas, esta semana, mais de 50 prédios da cidade e de seus arredores desabaram, e outros 50 podem sofrer o mesmo destino, adverte o chefe da Defesa Civil de Jableh, Alaa Mubarak.
Entre 4.000 e 5.000 pessoas tiveram de buscar abrigo em mesquitas, hospitais e no estádio da cidade, acrescenta.
Na sexta-feira (10), uma equipe de socorristas dos Emirados Árabes Unidos trabalhou nos escombros de um prédio partido em dois, no qual morreram pelo menos 15 pessoas.
Imad el Dau escapou por pouco, junto com sua esposa e dois filhos.
“Eles tiveram que me retirar com a ajuda de uma escavadeira”, contou esse vendedor de 42 anos.
A província de Latakia, terra natal do presidente sírio, Bashar al-Assad, e a província vizinha de Tartus, ambas leais ao governo, são as menos afetadas pelo conflito. A região é como uma reserva de forças para as tropas sírias, e sua aliada, a Rússia, encontra-se bem estabelecida. A base aérea russa de Hmeimim fica a 5 km de Jableh, e a base naval de Tartus, a cerca de 60 km ao sul.