O espaço “mudou radicalmente” em poucos anos devido à crescente corrida armamentista, disse o general americano Bradley Chance Saltzman, destacando que a China é a maior “ameaça”, seguida pela Rússia.
“Estamos vendo que nossos concorrentes estratégicos estão fabricando uma grande variedade de armas”, disse o comandante das operações espaciais dos Estados Unidos, em uma entrevista reduzida a alguns veículos de imprensa, incluindo a AFP.
“A ameaça mais desafiadora é a China, mas também a Rússia”, analisou em uma discussão à margem da Conferência de Segurança de Munique, na Alemanha.
O militar também abordou sobre tecnologias como os mísseis anti-satélites (ASAT), sistemas de armas de energia direcionada e dispositivos com capacidade de interceptação orbital.
“Temos que ter em mente que o espaço como domínio em disputa mudou radicalmente. A forma como operamos no espaço tem que mudar e isso se deve, sobretudo, às armas que (a China) e a Rússia testaram e, em alguns casos, colocaram em uso”, explicou.
As falas de Saltzman ocorrem em um momento de escalada da tensão entre os EUA e a China, após as declarações de sábado (18), em Munique, entre o chefe diplomático americano, Anthony Blinken, e seu homólogo chinês, Wang Yi, sobre o balão chinês que sobrevoou o espaço aéreo do país norte-americano.
Blinken alertou Wang que tal ação “não deve acontecer novamente”.
Já o diplomata chinês afirmou que a reação de Washington para derrubar o balão prejudicou as relações entre os dois países.
Pequim, por sua vez, afirma que o balão era um dispositivo de pesquisa meteorológica que desviou de seu curso.
Corrida armamentista espacial
A corrida armamentista no espaço não é novidade. Em 1985, o Pentágono usou um míssil para destruir um satélite em uma base de teste. Em 2017, foi a vez da China e, em 2019, da Índia.
Os países estão cada vez mais reservados sobre suas atividades militares no espaço, porém, em 2019, quando o Pentágono lançou sua Força Espacial, o Departamento de Defesa americano projetou que Rússia e China teriam potencial para ultrapassar os EUA.
Embora Saltzman negue que seu país tenha ficado para trás.
O espaço “vai ficar cada vez mais congestionado”, diz ele.
A dinâmica evoluiu e a ideia não é mais destruir satélites com mísseis ou construir satélites autodestrutivos, mas sim encontrar formas de danificá-los com lasers ou micro-ondas potentes.
“O espaço é importante na guerra moderna (…) É possível atacar o espaço sem ir ao espaço, através de redes cibernéticas ou outros vetores. Temos que garantir que estamos defendendo todas essas capacidades”, alertou.
A crescente atividade militar, combinada às operações comerciais, apresenta potenciais problemas de danos colaterais e destrutivos.
“Se conseguirmos operar com uma ideia clara de quais são os padrões, estaremos muito mais seguros”, concluiu.
O general não dialogou com a China e a Rússia, disse sua equipe à AFP.