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quarta-feira 13 de setembro de 2023 às 07:30h

China diz que espião trabalhou para os EUA por mais de 30 anos sem ser descoberto

MUNDO, NOTÍCIAS


Pequim afirma que um cidadão dos Estados Unidos, condenado à prisão perpétua na China em maio deste ano, é um espião condecorado que trabalhou para a inteligência norte-americana durante mais de três décadas.

O episódio acontece segundo reportagem de Nectar Gan, da CNN, enquanto o país intensifica uma campanha alertando os cidadãos para se protegerem contra a espionagem estrangeira.

John Shing-Wan Leung, de 78 anos, também possui residência permanente em Hong Kong. As autoridades não forneceram detalhes sobre o seu caso, exceto que ele foi detido por agentes de segurança do Estado em abril de 2021.

Meses após a sentença, o Ministério da Segurança do Estado, a principal agência de espionagem civil da China, afirmou em uma publicação nas redes sociais na última segunda-feira (11), que Leung tinha sido recrutado pelas agências de inteligência dos EUA em 1989 e recebeu o que chamou de “medalha de mérito” pela grande quantidade de informações que ele supostamente coletou.

O ministério acusou Leung de espionar diplomatas chineses e autoridades do país que visitavam os EUA – inclusive as atraindo para hotéis sob escuta e usando as chamadas “armadilhas de mel” para chantageá-los.

A CNN não pode verificar de forma independente as acusações contra Leung e o ministério não forneceu mais provas sobre o caso.

Os casos que envolvem espionagem – uma acusação ampla e vagamente definida – são geralmente tratados sob portas fechadas na China, onde o sistema judicial tem uma taxa de condenação superior a 99,9% .

Numa declaração anterior sobre Leung, o Departamento de Estado dos EUA disse estar “ciente da condenação de um cidadão dos EUA na RPC (China) sob a acusação de espionagem”.

“Quando um cidadão norte-americano é detido no estrangeiro, o departamento trabalha para fornecer toda a assistência apropriada, incluindo acesso consular relevante”, acrescentou um porta-voz.

Pequim e Washington aumentaram as acusações de espionagem entre si, depois que a controvérsia sobre um suposto balão espião chinês abatido pelos EUA inflamou ainda mais as tensões no início deste ano.

Em agosto, o Ministério da Segurança do Estado lançou uma conta pública no WeChat, uma rede social popular da China, que conta com mais de mil milhões de usuários. Nas semanas seguintes, o órgão utilizou a plataforma para alertar o público para que permanece vigilante e a denuncie atividades suspeitas às autoridades.

Numa aparente tentativa de mostrar que estas ameaças são reais, o ministério divulgou dois casos recentes em que cidadãos chineses foram acusados ​​de espionagem para a CIA, agência norte-americana de inteligência, depois de terem sido recrutados enquanto viviam fora do país.

A aparente campanha de propaganda ocorre poucas semanas depois do diretor da CIA, William Burns, ter dito que a sua agência “fez progressos” na reconstrução da sua rede de espionagem na China, depois de ter sofrido grandes reveses há uma década.

Escuta em hotéis

A CNN revelou anteriormente que Leung era um líder veterano de vários grupos pró-Pequim na área de Houston, que conviveu durante anos com altos funcionários chineses.

Na China, ele foi elogiado pela mídia estatal como um “representante notável” dos chineses “patrióticos” no exterior por promover intercâmbios entre os Estados Unidos e o país asiático.

Em sua publicação no WeChat, o ministério afirmou que a personalidade patriótica de Leung era um meio de obter acesso à inteligência chinesa.

O órgão ainda disse que os EUA fizeram um financiamento para Leung assumir funções de liderança em múltiplas associações do país no exterior para melhorar seu perfil e viajar para a China a fim de realizar eventos de caridade para polir a sua imagem como um “filantropo patriótico”.

“Com a ajuda destes disfarces, Leung foi instruído pelas agências de inteligência dos EUA para realizar atividades de espionagem contra o nosso país em grande escala”, disse o ministério.

A postagem revelava que Leung trabalhou como informante dos EUA por mais de três décadas, começando em 1989.

Ainda detalhava os métodos que Leung supostamente usou para coletar informações durante esse período, incluindo aproximação com diplomatas chineses em almoços e jantares, eventos festivos e atividades em associações chinesas no exterior.

Segundo o órgão, Leung monitorou de perto as visitas de autoridades chinesas aos EUA e as relatou aos seus assessores.

“Seguindo os planos estabelecidos pelo lado dos EUA, [Leung] os levaria a restaurantes ou hotéis onde as agências de inteligência dos EUA instalaram equipamentos de monitoramento com antecedência para obter informações”.

“Ele até montou ‘armadilhas para mel’ na tentativa de coagir nosso pessoal e incitar a deserção”.

As últimas acusações contra Leung ocorrem na mesma semana em que um suposto escândalo de espionagem chinesa abalou o coração da política britânica.

Dois homens foram presos sob a Lei de Segredos Oficiais do Reino Unido, em meio a relatos de que um pesquisador parlamentar com supostas ligações com políticos importantes do Partido Conservador, incluindo o ministro da segurança, Tom Tugendhat, foi preso sob suspeita de espionagem para Pequim.

No último domingo (10), o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, disse que levou “preocupações muito fortes” ao primeiro-ministro da China, Li Qiang, sobre a potencial influência chinesa na democracia britânica.

A embaixada chinesa em Londres rejeitou a acusação de espionagem como “completamente fabricada”.

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