Enquanto reflete sobre as mudanças da reforma ministerial, o presidente Lula da Silva (PT) reforçou o seu círculo mais próximo com a “República da Bahia”. Na ala paulista do governo, é assim que vem sendo chamado o grupo de políticos nascidos no estado nordestino, responsável por articular a estratégia do petista para a reeleição em 2026 na relação com o Congresso. O líder do governo no Senado, Jaques Wagner, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, ambos petistas, e o novo chefe da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Sidônio Palmeira, lideram o movimento do núcleo duro do presidente para municiar Lula e o Executivo no confronto com a oposição.
Com uma “operação 2026” montada, o núcleo trabalha para que Lula caminhe para o centro, deixe totalmente de lado a pauta identitária e foque nos problemas de grandes segmentos da população: emprego, renda, inflação de alimentos, políticas de saúde e violência urbana.
O diagnóstico interno é que o governo precisa se recuperar rápido, especialmente após o tombo na crise do Pix. Se o cenário não mudar, esses auxiliares apontam que Lula perderá força nos acordos da aliança para concorrer a um quarto mandato.
Um dos interlocutores do grupo avalia que, se a eleição fosse hoje, a derrota de Lula seria certa. Até outubro de 2026, se houver uma melhora significativa, mesmo assim a batalha não será simples.
O prazo para a virada no governo também está atrelado ao futuro político da “República da Bahia”. Rui Costa deve deixar a Casa Civil até 30 de março de 2026 para disputar uma vaga no Senado, enquanto Sidônio é a aposta número um de Lula para comandar o marketing de sua campanha ao quarto mandato — nesse cenário, também terá de se afastar da Secom. Já Jaques Wagner (PT) tentará segundo o jornal O Globo, o último mandato de sua carreira como senador baiano.
Sidônio Palmeira afirma internamente que trabalha com prazos. Em três meses quer apresentar resultados.
— É hora de ganhar 2025. Esse governo precisa ganhar 2025 — disse na quinta-feira em plenária virtual do PT.
Com carta branca para falar em nome de Lula, o trio opera a influência no entorno presidencial de diferentes formas: Jaques Wagner é um dos articuladores políticos em que Lula mais confia. O presidente não abre mão de tê-lo na liderança do Senado, Casa onde o governo prevê enfrentar uma avalanche de embates com a direita em 2025.
Rui Costa é o braço direito de Lula no cotidiano do Planalto e coordena de perto as principais ações do governo, além de ter poder de veto junto a diversos ministros. Neste ano, Costa terá a missão de rodar o país para ver o andamento das obras do Novo PAC. O Planalto teme chegar em 2026 com obras paradas e virar vidraça da oposição, após as críticas que fez pelo mesmo motivo à gestão Bolsonaro.
Sidônio chegou com a missão de fazer a popularidade de Lula deslanchar e melhorar a percepção da população sobre os feitos do governo. Em pouco tempo conquistou espaço fixo na agenda de Lula, com reunião diária no começo da manhã. Tem aval para ir aos ministérios propor mudanças na comunicação.
Lula tem dado sinais de empoderamento do grupo. Em 19 de janeiro, o presidente acionou Rui e Sidônio para uma conversa prévia sobre a reunião ministerial que ocorreria na manhã seguinte.
Os dois ministros pegaram um voo de Salvador para Brasília para uma reunião em que definiram a estratégia e os recados do encontro no dia seguinte, na Granja do Torto. No sábado à noite, ainda em Salvador, Rui Costa e Wagner confraternizaram no aniversário do banqueiro Augusto Lima — no mesmo ambiente onde caciques do PSD falaram de espaços que almejam na reforma ministerial.
Em Brasília, os encontros têm ocorrido no Palácio do Planalto, onde Rui Costa despacha até o final da noite.
A guinada dos petistas da Bahia dentro do Planalto ocorre ao mesmo tempo em que outros dois ministros palacianos estão na berlinda nas discussões da reforma ministerial: Márcio Macêdo (da Secretaria-Geral) tem sua função reavaliada por Lula, enquanto Alexandre Padilha (Relações institucionais) sofre pressões do Congresso para sua substituição.
Cúpula dos Brics
O aumento da influência baiana no Planalto também deve pesar na discussão sobre o local onde será a cúpula do Brics, prevista para julho. Rui Costa tem trabalhado para que o encontro ocorra na Costa do Sauípe, na Bahia, que possui rede hoteleira com capacidade para abrigar conferência e hospedagem. Recife e Rio também disputam a sede do encontro. A decisão passará por análises produzidas pelo Itamaraty e pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI), mas a chancela final caberá a Lula.
Wagner, Rui e Sidônio chegam ao Planalto azeitados após uma longa convivência na Bahia. Militante de esquerda do movimento estudantil, Sidônio foi marqueteiro das duas campanhas vitoriosas de Wagner ao Palácio de Ondina em 2006 e 2010. Ao conhecer o pupilo de Wagner, repetiu a dose com Rui Costa em 2014 e 2018.