Segundo reportagem de João Pedro Pitombo, da Folha de S. Paulo, neste domingo (6) as urnas devem consolidar o protagonismo de candidatos de partidos de centro e de direita nas capitais, amparados pela dinâmica das disputas políticas locais, e sem reflexo da polarização nacional que guiou as duas últimas eleições presidenciais.
Partidos como PSD, União Brasil e PL estão entre os que têm mais chances de vencer a eleição já no primeiro turno ou levar candidatos ao 2º turno, que acontecerá em 27 de outubro. Ao mesmo tempo, o PT deve ter um desempenho melhor do que em 2020, quando não elegeu nenhum prefeito em capitais.
Estão entre os candidatos favoritos nomes com experiência administrativa, trajetória consolidada na política e filiados a partidos robustos. Temas mais ligados às cidades, como segurança pública, transporte e moradia estiveram no centro dos debates.
“A tendência usual é de eleições municipais ocorrendo segundo lógica municipal. Os eleitores votam pensando no que está acontecendo no seu município. Se avaliam bem ou mal o seu prefeito ou os candidatos de oposição”, afirma o cientista político Cláudio Couto, professor da FGV-Eaesp.
Desta forma, as eleições devem seguir um padrão semelhante ao de 2020, quando a dinâmica local prevaleceu e havia uma demanda por candidatos experientes em meio à pandemia da Covid-19.
Quatro anos antes, contudo, o país teve um pleito influenciado pela Operação Lava Jato e pelo impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT). Na época, tinham sido eleitos nomes que faziam sua estreia nas urnas, caso de João Doria, em São Paulo, e Alexandre Kalil, em Belo Horizonte.
Na eleição deste ano, 20 prefeitos de capitais disputam um novo mandato. Em 8 destas cidades, os atuais mandatários são favoritos para vencer no primeiro turno. É o caso de Salvador, Recife, São Luís, Maceió, Boa Vista, Macapá, João Pessoa e do Rio Janeiro.
Nos casos de Macapá, Recife e Salvador, a expectativa é de um patamar alto de votos paras os prefeitos Dr. Furlan (MDB), João Campos (PSB) e Bruno Reis (União Brasil), que disputam a reeleição em um cenário confortável.
Em outras 7 cidades, o cenário é mais nebuloso, podendo haver definição ainda no primeiro turno ou a consolidação de uma segunda etapa da eleição. É o caso, por exemplo, de cidades como Belém, João Pessoa e Florianópolis.
Em 11 capitais, a expectativa é de decisão no segundo turno, incluindo grandes colégios eleitorais como São Paulo, Fortaleza, Belo Horizonte. A indefinição é resultado de um cenário pulverizado, em que ao menos três candidatos têm chances de avançar à segunda etapa.
Em São Paulo, Guilherme Boulos (PSOL), Pablo Marçal (PRTB) e Ricardo Nunes (MDB) devem disputar as duas vagas voto a voto. O cenário é parecido em Belo Horizonte, onde despontam como favoritos o prefeito Fuad Noman (PSD) e os deputados Mauro Tramonte (Republicanos) e Bruno Engler (PL).
Em geral, as campanhas foram marcadas pela pouca influência da polarização nacional entre o presidente Lula (PT) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Apenas Fortaleza caminha para ter um segundo turno entre candidatos do PL e do PT dentre as 26 capitais brasileiras.
Bolsonaro se engajou apenas em campanhas de aliados mais próximos do PL como Alexandre Ramagem, no Rio, Capitão Alberto Neto, em Manaus, e Fred Rodrigues, em Goiânia. E foi econômico nos acenos ao prefeito Ricardo Nunes (MDB), que concorre com o apoio do PL.
A expectativa é de um desempenho melhor que o de 2020, quando o então presidente estava sem partido após se desfiliar do PSL e apoiou nomes de diferentes legendas. Desta vez, ancorou-se no PL, que lançou candidatos próprios em 14 capitais.
O PL de Bolsonaro deve vencer no primeiro turno em Maceió (AL), pode repetir o feito em Palmas (TO) e Rio Branco (AC), e tem chance chegar ao segundo turno em outras oito capitais, incluindo Fortaleza e Belo Horizonte.
Na avaliação do cientista político Cláudio Couto, esta eleição consolida em âmbito municipal a força de uma direita radical, que cresceu durante o governo Bolsonaro e fidelizou uma parcela do eleitorado.
“Temos a consolidação de um conservadorismo que tem uma cara, tem uma unidade e funciona independente da própria figura do Bolsonaro”, avalia.
Exemplo disso, afirma, é o avanço da candidatura de Pablo Marçal (PRTB) em São Paulo, que ganhou a adesão de parcela do eleitorado conservador a despeito do apoio formal do PL à reeleição do prefeito Ricardo Nunes.
Marçal também é um dos poucos com perfil de outsider, de candidatos que nunca ocuparam cargos públicos ou disputaram eleições. Apenas ele e Cristina Graeml (PMB), em Curitiba, podem chegar ao segundo turno concorrendo em um partido nanico e sem tempo de televisão.
Por outro lado, governadores apontados como potenciais presidenciáveis, frente à inelegibilidade de Bolsonaro, enfrentam um cenário desafiador para emplacar seus aliados no segundo turno. É o caso de Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) e Romeu Zema (Novo-MG).
O PT, por sua vez, lançou candidatos em 13 capitais e pode chegar ao segundo turno em Fortaleza, Teresina, Natal, Porto Alegre, Goiânia, Cuiabá, Vitória e João Pessoa. O presidente Lula ficou distante da campanha e participou de atos políticos apenas em São Paulo, onde o PT apoia Guilherme Boulos.
No núcleo duro do partido, a expectativa é de crescimento e de um desempenho melhor comparado a 2020. Na eleição deste ano, Teresina e Fortaleza são as principais apostas do partido.