Depor na CPI da Covid deverá ser o último ato do deputado Ricardo Barros (PP-PR) como líder do governo na Câmara. De acordo com a revista Veja, o governo espera que renuncie na sequência, informa-se no Palácio do Planalto e no Congresso.
O deputado é acusado de patrocinar a intermediação de um contrato do Ministério da Saúde para compra da vacina indiana Covaxin — negócio obscuro de R$ 1,6 bilhão, com corretagem privada nacional e a preço 1.000% maior do que havia sido anunciado seis meses antes pela própria fabricante.
Ontem, Barros foi mencionado cinco vezes em discurso por Jair Bolsonaro, que, mais uma vez, evitou fazer a defesa pública do seu líder na Câmara.
Na semana passada houve um curto-circuito entre eles. Barros havia indicado um ex-assessor, Paulo Roberto Vanderlei Rebello Filho, para a presidência da Agência Nacional de Saúde Suplementar, responsável pela regulação do mercado privado de planos de saúde, que atende a um de cada três brasileiros.
Rebello Filho foi chefe de gabinete de Barros no Ministério da Saúde, durante o governo Michel Temer. Com Bolsonaro, o deputado conseguiu levá-lo a um posto-chave na agência reguladora, a diretoria de Normas e Habilitação, onde se decidem as regras operacionais das empresas de planos de saúde.
Indicado para a presidência da ANS em dezembro, passou pelo ritual da sabatina em comissão do Senado. A nomeação, porém, ficou seis meses pendente. Entrou na pauta na quinta-feira passada, mas Bolsonaro surpreendeu — mandou mensagem retirando a indicação em pleno processo de votação. Houve confusão no plenário. Pouco depois, o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho, anunciou que o presidente havia mudado de ideia, de novo.
É um enredo tumultuado. Bolsonaro havia escolhido Rebello Filho a pedido do deputado Barros. Se arrependeu, em meio aos avanços nas investigações da CPI da Pandemia, que identificou omissão do presidente quanto à participação de Barros num negócio obscuro para compra de vacina indiana. Eles conversaram a sós no Planalto, por meia hora, há duas semanas, e na quinta-feira passada, Bolsonaro resolveu desistir da indicação de Barros para o comando da agência dos planos de saúde. Em seguida, desistiu de desistir. Rebello Filho foi aprovado e o Bolsonaro o nomeou na segunda-feira, em edição extra do Diário Oficial.
Ontem, enquanto Bolsonaro citava Barros em discurso, sem defendê-lo, a Câmara iniciava um processo que pode levar à cassação do mandato do líder do governo por “prática de ato incompatível com o decoro parlamentar”, segundo a acusação.
Ao mesmo tempo, o deputado recorria ao Supremo na tentativa de obrigar a CPI a marcar data para sua defesa ainda nesta semana. É sua terceira tentativa. Alega já ter sido citado 96 vezes no plenário da comissão. O STF já negou dois pedidos similares de Barros, porque, em tese, seria uma interferência indevida do investigado na condução de um inquérito.
O líder do governo está atônito. Na segunda-feira, Bolsonaro disse que aguarda o depoimento na CPI para decidir o que vai fazer. Além de não defendê-lo, também não contou que negocia com o Centrão a sucessão na liderança na Câmara.
No Progressistas, o sucessor seria escolha natural de Arthur Lira, presidente da Câmara, que desde fevereiro manobra para retirar Barros da liderança do governo. Mas essa decisão já não é exclusiva do partido de Lira e Barros. Precisa ser combinada com os outros integrantes do Centrão, o esteio parlamentar de Bolsonaro. Um dos principais interessados na vaga é o Republicanos, vinculado à Igreja Universal do Reino de Deus.