Segundo a coluna de Thais Oyama, no UOL, os partidos do Centrão, incluindo o PL, que o presidente Jair Bolsonaro ameaça agora deixar na porta da igreja, já contam com a proliferação de uma nova espécie de candidato nas eleições do ano que vem.
O “deputado Bolsolula” é aquele cuja base eleitoral se encontra sobretudo em estados do Nordeste. Ele foi contemplado com as gordas emendas do relator e votou o tempo todo com o governo, mas na hora de fazer campanha vai apoiar o ex-presidente Lula, porque, na sua região, o petista dá votos e Bolsonaro tira.
Nada que não esteja no jogo, ao menos na visão dos profissionais da política.
“O voto que importa para nós é o voto do deputado na Câmara”, diz um representante do alto comando do PP. Devidamente azeitado pela generosidade do erário, sob comando de Bolsonaro, esse deputado já prestou seus serviços ao governo. “Agora, se quiser virar de esquerda na campanha, tudo bem”, afirma o pepista.
E melhor ainda se, com essa manobra, ele conseguir se eleger, dado que tudo o que dirigentes de partido querem numa campanha é fazer deputados federais — é o número deles, e não de senadores ou governadores, que define a fatia do fundo eleitoral a ser abocanhada pela sigla na eleição seguinte.
Esse raciocínio está na base da atual encrenca entre Bolsonaro e o PL, a sigla para onde o presidente havia dito ter 99,9% de chances de entrar e com a qual se desentendeu no final de semana.
Bolsonaro quer o comando do diretório paulista do PL e Valdemar Costa Neto, o dono da legenda, não aceita cedê-lo.
E por que Bolsonaro crê ter cacife para o seu pleito? Por acreditar que tanto seu filho Eduardo Bolsonaro quanto outros parlamentares bolsonaristas como Carla Zambelli têm força suficiente em São Paulo para carrear com eles um bom número de deputados federais (pelo sistema proporcional, os votos de um candidato que excedem a cota eleitoral são transferidos para outros de seu partido ou coligação).
Ou seja, o ex-capitão exige o comando do diretório de São Paulo por achar que é capaz de produzir lá a moeda que interessa a Valdemar: deputados que componham uma bela bancada na Câmara e um belo fundo eleitoral para o PL.
Já o ex-mensaleiro Valdemar considera outros riscos na equação: ao conceder a Bolsonaro o comando de diretórios como São Paulo e Rio, ele estará concedendo ao ex-capitão também o poder de definir os nomes da lista de candidatos que poderão ser eleitos na carona de puxadores de votos como Eduardo Bolsonaro.
Em outras palavras: para Valdemar, abrir mão de diretórios importantes pode fazer com que, no final, a porcentagem de bolsonaristas dentro do PL torne seu partido o “partido de Bolsonaro” — o que traria consequências nefastas ao cacique do Centrão, sendo a principal delas a impossibilidade de servir ao próximo governo no caso de ele ser comandado por Lula.