Em um contexto de maior atratividade no mercado de renda fixa e visando captação de clientes, nos últimos meses clientes, diversos bancos e instituições financeiras têm oferecido títulos de CDB (Certificado de Depósito Bancário) com rentabilidade fora do usual.
Enquanto a maior parte dos CDBs oferecem um retorno em um intervalo de 90% a 120% do CDI, algumas ofertas oferecem percentuais bem mais altos.
Um dos exemplos mais emblemáticos é a Genial Investimentos, que oferta aos seus clientes um CDB de 220% do CDI. Contudo, o título em questão não está disponível para uma base ampla e visa novos clientes para casa, que lançou recentemente um novo aplicativo e seu cartão de crédito.
O CDB só pode ser comprado por novos clientes que abrirem conta na corretora ou clientes que já possuíam cadastro, mas estavam inativos (com zero de investimento e zero de saldo em conta), ou para um cliente do programa de fidelidade do cartão. O vencimento também é diferente, sendo de somente 2 meses para o caso de novos clientes. Para o programa de fidelidade, o prazo é de 3 meses. Em ambos os casos o CDB possui liquidez diária.
“Logicamente que quando fazemos um CDB nesse nível, para captação, temos um custo de captação acima do padrão. Mas logicamente, isso é visto como CAC [custo de aquisição de clientes], assim como qualquer outra instituição que use esse instrumento”, afirma Roberto Keller, head de Renda Fixa da Genial Investimentos.
Esse CAC tem que ser visto perante o CAC total da empresa para a tração de novos clientes, é um instrumento efetivo. Nós não garantimos que esse instrumento vai continuar por um período indeterminado”, acrescenta.
Ele comenta que o saldo da operação até então tem sido positivo e que, no contexto atual, não foi difícil para Genial bancar um custo de uma emissão com remuneração tão alta para investidores.
“Não é a primeira vez que trabalhamos com essa estratégia. Da primeira vez tivemos um resultado, tínhamos uma outra fase, e hoje nesse estado de maturidade, somado aos pontos relacionados à qualidade do serviço, foi uma decisão mais fácil de ser tomada”.
Chamariz para novos clientes
Outras casas, como a XP, tem oferecido CDBs na casa dos 150% do CDI – um patamar ainda fora do usual, mas um pouco menos agressivo.
“A oferta de CDBs mais atrativos para novos entrantes é, em grande parte, uma estratégia de aquisição de clientes. Isso ocorre porque esses produtos com taxas elevadas servem como um “chamariz”, atraindo novos investidores ou reativando clientes que estavam inativos. Esse tipo de estratégia tem sido mais explorado em momentos de alta dos juros, quando a atratividade da renda fixa aumenta significativamente”, explica Gianluca Di Matina, especialista em investimentos da Hike Capital.
“No cenário atual, com a Selic e a curva de juros em patamares elevados, a renda fixa volta a ser um investimento ideal para perfis conservadores e até moderados, o que justifica essa competição entre instituições financeiras para captar clientes oferecendo melhores condições”, completa.
Migração de produtos
Mayara Rodrigues, da research de renda fixa da XP, comenta que esse cenário está atrelado ao mercado mais aquecido de renda fixa, mas também tem a ver com algumas questões regulatórias.
“Temos um ‘boom’, e isso aqui vale para todas as classes, inclusive os CDBs. Nesse ano o volume de estoques de CDB cresceu mais de R$ 300 bilhões nos nove meses até o fim de setembro, mais do que todo o ano de 2023, totalizando R$ 2,334 trilhões ao fim de setembro. Quando analisamos, vemos que conceitualmente o cenário é propício, especialmente para pós fixados”, explica.
“Assim como vimos no crédito privado, vimos nos bancários, uma migração também por conta de questões regulatórias, fruto de alterações que vimos em fevereiro, quando o CMN restringiu o credito privado para CRIs e CRAs de emissores, com restrições em LCA e LCI também. Pode ter a ver essa migração de produtos”, completa.
A especialista ainda ressalta que o contexto tem a ver com uma melhora do cenário para os bancos considerados médios, que tiveram aprendizados de concessão de crédito e também contam com uma inadimplência relativamente baixa.
“Algumas questões do momento favorecem o balanço dos bancos médios, principalmente, sustentando rentabilidade na captação. A principal é de que quase todos os segmentos estão com uma inadimplência bastante baixa, trazendo um respiro muito grande, além da atividade aquecida, com demanda por crédito forte em 2024. Nos bancos médios temos um aprendizado grande na régua de concessão de crédito, eles estão mais conservadores, dando crédito para os mais conservadores, é uma correção de rota do que vimos 2 anos atras, quando tivemos uma expansão da carteira de crédito dos bancos”, diz Mayara Rodrigues.
Armadilhas e pegadinhas
Apesar da alta atratividade e de se tratar de um título de renda fixa relativamente seguro, o investidor que quiser colocar o o CDB em seu portfólio tem de se ater a alguns pontos que são relevantes, mas podem passar desapercebidos em uma análise não muito criteriosa.
O primeiro e mais óbvio é a questão do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) – mecanismo que garante ressarcimento de até R$ 1 milhão por CPF e R$ 250 mil por instituição financeira em um caso de inadimplência.
“É necessário observar a qualidade da Instituição Financeira. Nem todos os bancos emissores desses CDBs são igualmente sólidos. Bancos menores costumam oferecer taxas mais altas para captar recursos, o que pode ser um indício de risco maior. Embora o FGC proteja o investidor, há um risco de liquidez, e o processo de recuperação de valores pode ser demorado no caso de falência do emissor”, diz Gianluca Di Matina, da Hike Capital.
Mayara Rodrigues, da XP, comenta que ‘há algumas pegadinhas’ relacionadas à liquidez desses títulos.
“O CDB é recorrentemente utilizado para reserva de emergência, e um dos critérios é liquidez diária, mas nem todos oferecem liquidez diária. Agora, além da reserva de emergência, é possível abrir mão de liquidez para ter uma rentabilidade maior”.
Mordida do Leão é maior em vencimentos curtos
31No caso dos CDBs com vencimento curto, Rodrigues chama atenção para o fato de que os prazos curtos tem um impacto direto – e substancial – na tributação da rentabilidade, que pode tornar o título em questão menos atrativo do que o que parece a uma primeira vista.
“Vemos promoções, de 200% ou 300%, mas quando vemos vale por um prazo muito curto, como 90 dias, e você cai em uma alíquota de Imposto de Renda sobre o CDB que é muito grande, e temos que levar isso em consideração no cálculo [de rentabilidade]”, analisa.
“E além disso, o mais básico é a rentabilidade, tem que comprar os produtos, tem a rentabilidade mínima de um CDB, para ganhar de investimentos mais básicos como poupança ou tesouro Selic para o que for reserva emergência”, completa.
Sobre o FGC, a especialista frisa que há algumas fusões e aquisições entre bancos – nesse contexto, para quem já detém os títulos não há mudança, porém os produtos eventualmente passam a ser ofertados como anteriormente mas o FGC deixa de cobrir no caso de inadimplência se o cliente ‘estoura’ o teto de R$ 250 mil sem perceber.
Por fim, para evitar problemas com inadimplência, o ideal é investir menos de R$ 250 mil no CDB, dado que os juros que seriam pagos com a rentabilidade do título não serão considerados no cálculo de ressarcimento.
O imposto é cobrado apenas sobre o rendimento, não sobre o principal, conforme a seguinte tabela:
Prazo | Alíquota |
Até 180 dias | 22,50% |
De 181 a 360 dias | 20% |
De 361 a 720 dias | 17,50% |
Acima de 720 dias | 15% |