Mais uma vez a votação do Estatuto da Igualdade Racial foi adiada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara Municipal de Salvador (CMS). Os vereadores que discutiam a matéria foram interrompidos pelo início da sessão ordinária no plenário da Casa.
Até o momento, o texto apresentado pelo relator, vereador Duda Sanches (DEM), tem quatro votos computados. A vereadora Aladilce (PCdoB) foi a única a acompanhar o relator. Alfredo Mangueira (MDB) votou contrário ao relatório e sugeriu a devolução do projeto ao Executivo – a matéria foi elaborada pela Comissão de Reparação da própria Câmara. O emedebista foi acompanhado pela vereadora Marcele Morais (Sem partido), que apresentou no plenário emenda contra o sacrifício de animais em rituais religiosos. O outro voto contrário foi da vereadora Lorena Brandão (PSC).
“Não há oposição ao estatuto em si, mas sim a posição preconceituosa e racista de retirar negros de outras religiões. O texto do estatuto é desigual, fere o principio da isonomia. Ele é preconceito com os cristãos católicos, evangélicos, que também são negros. Esse estatuto está tramitando há muitos anos, mas por que será que nunca foi aprovado? Nunca passei por tamanha indignação nessa Casa. Esse estatuto possa ser chamado de descalabro, preconceituoso. Nós somos representantes da cidade de Salvador e temos o compromisso com todos os soteropolitanos”, argumentou Lorena conforme o Bahia Notícias.
O vereador Silvio Humberto, que não integra a CCJ, mas participa das discussões, fez um desabafo no plenário da Casa sobre o debate em torno das religiões. “Esse discurso é falacioso. Chamar de racismo algo que construímos coletivamente é prova de que a pessoa não sabe o que é racismo. Falar de discriminação de outras religiões é provar que não leu. É um atentado contra a inteligência de nossa cidade”, expressou.
“O que nós queremos é um estatuto que garanta igualdade. Nunca vi subir aqui para falar da juventude negra que cai todo dia. Agora se acha no direito de julgar se o estatuto é de igualdade racial? Estou de saco cheio! As pessoas deveriam se despir de seus preconceitos pra opinar. O estatuto não é bom pra mim, é pra 83% da cidade. Recorrer ao debate religioso é um discurso pequeno, hipócrita e falacioso”, complementou o desabafo.
A matéria volta à pauta da CCJ na próxima semana. Ainda resta o voto do vice-presidente da comissão, o vereador Suíca (PT). Caso o petista seja favorável ao texto, a matéria que já tramita há seis anos na Casa será decidida pelo presidente da CCJ, Alexandre Aleluia (DEM).