A noiva foi única a falar, por menos de um minuto, antes de abrir a pista de dança. “O Bruno já fala demais nos discursos oficiais”. Disse a Maria Cristina Fernandes, do jornal Valor, que tinha sido difícil montar uma lista tão restrita de convidados. E agradeceu aos pais, aos fornecedores da festa e à presença de todos. Cada um dos que estavam ali, disse, era parte da vida dela ou do noivo. E da República.
Ao lado de Camila Camargo, presidente do grupo Esfera, Bruno Dantas apenas sorria. O casamento da empresária com o presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), na noite do sábado, reuniu todos os poderes no Centro Hípico de Santo Amaro, zona sul de São Paulo, bem longe dos blocos que tomaram as ruas da cidade naquele dia.
Além dos Três Poderes, lá estavam os frequentadores dos eventos promovidos pela família. João Camargo, pai da noiva, é presidente da “CNN Brasil” e do conselho de administração do Esfera, e Ana Lúcia Funaro, a mãe, é sócia do grupo que se dedica a eventos que reúnem o PIB e o poder.
Dos sete ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) presentes, apenas Luís Roberto Barroso e Cristiano Zanin circulavam entre os convidados. Os ministros Alexandre de Moraes, Gilmar Mendes e Dias Toffoli permaneceram a maior parte do tempo numa sala reservada, cuja entrada ficou resguardada por seguranças. Nas mesas de um terraço contíguo à sala, os ministros André Mendonça e Nunes Marques jantavam, na companhia de suas esposas.
Foi para esta sala que o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) foi levado ao chegar, com Lu Alckmin, à festa que se seguiu à cerimônia religiosa. Do lado de fora, circulavam alvos de processos dos ministros, como os irmãos Joesley e Wesley Batista, do grupo J&F.
No salão, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, assegurava, com um aceno de cabeça, que recorreria das decisões de Toffoli que anularam multas bilionárias do J&F e da Novonor, antiga Odebrecht, impostas pelo Ministério Público da União.
Dos 12 ministros do Executivo, apenas Ricardo Lewandowski, ex-integrante do colegiado recém-empossado na Justiça, permaneceu nesta sala a maior parte do tempo. Seus colegas circulavam entre empresários e banqueiros presentes à festa, como André Esteves, do BTG, Benjamin Steinbruch (CSN), José Olympio Pereira (J.Safra), Rubens Ometto (Cosan), Josué Gomes (Coteminas), Jorge Moll (Rede d’Or), Luís Stuhlberger (Verde), Marcos Molina (Marfrig), Lírio Parisotto (Videolar), Lucila Diniz (Pão de Açúcar), Flávio Rocha (Riachuelo), Fabio Coelho (Google), Carlos Sanchez (EMS), José Seripieri Filho (Amil) e Nelson Kaufmann (Vivara).
A Esplanada estava quase toda lá. A maior parte dos ministros compareceu acompanhados dos cônjuges: Fernando Haddad (Fazenda), José Múcio (Defesa), Alexandre Padilha (Relações Institucionais), Alexandre Silveira (Minas e Energia), Jorge Messias (Advocacia-Geral da União), Vinícius de Carvalho (Controladoria-Geral da União), Simone Tebet (Planejamento), Renan Filho (Transportes), Esther Dweck (Planejamento), Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos) e Carlos Fávaro (Agricultura).
Dois deles, Messias e Carvalho, estarão reunidos em Brasília nesta segunda para um balanço do potencial de estrago, sobre o erário, de um eventual efeito cascata da decisão. Padilha, ao passar por Carvalho, perguntou: “Como é que fica agora?”.
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, circulava entre todos tão à vontade quanto o diretor de política monetária do banco, Gabriel Galípolo, numa demonstração de que o entrosamento extrapola os churrascos do Palácio do Alvorada.
O senador Renan Calheiros (MDB-AL), em cuja gestão na presidência do Senado Bruno Dantas foi indicado ao TCU, se recupera de uma cirurgia de descolamento de retina e não estava na festa. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que tem se ausentado das últimas reuniões dos Poderes, faltou a mais uma.