domingo 16 de março de 2025
Mark Carney, futuro primeiro-ministro do Canadá, concede entrevista coletiva em Ottawa — Foto: Sean Kilpatrick/The Canadian Press/AP
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domingo 16 de março de 2025 às 13:15h

Carney assume o poder no Canadá com a nação buscando respostas à agressão de Trump

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Justin Trudeau está fora. Mark Carney está dentro. E sua chegada como novo primeiro-ministro do Canadá cria uma abertura para o governo em Ottawa redefinir suas tensas relações com os Estados Unidos do presidente Donald Trump.

O ex-banqueiro central será empossado na última sexta-feira (14), tornando-se oficialmente o 24⁠º primeiro-ministro do Canadá. Ele está assumindo um país ansioso com as ameaças de Trump, suas implementações de tarifas e fervendo com a afirmação do presidente americano de que o Canadá deveria se tornar o 51⁠º Estado dos EUA.

As relações entre os EUA e o Canadá encontram-se em seu pior momento em décadas e as coisas se tornaram muito pessoais entre Trudeau e Trump nos últimos meses. Desde sua eleição, o presidente chamou Trudeau repetidas vezes de “governador”. Depois que a primeira rodada de tarifas se tornou realidade em 4 de março, Trudeau devolveu o insulto, referindo-se publicamente ao seu adversário como “Donald”, em vez de presidente Trump e chamando sua decisão de impor tarifas de “estúpida”.

Carney, ex-presidente do Banco do Canadá e do Banco da Inglaterra, chega ao cargo com uma reputação de tecnocrata e um currículo econômico melhor que o de Trudeau. Em sua campanha bem-sucedida para a liderança do Partido Liberal, ele disse que o objetivo do país precisa ser construir a economia mais forte do G7. Trump, é claro, quer a mesma coisa para os EUA.

“Ele é um cara diferente e não tem uma história com Trump. Havia algumas questões com Trudeau”, diz Daniel Béland, um professor de ciência política da Universidade McGill de Montreal. “Isso é positivo porque Trump é muito sensível a interações pessoais. Há uma linha tênue entre confrontar Trump e afastá-lo completamente.”

Durante uma visita a uma companhia siderúrgica em Hamilton, Ontário, na quarta-feira (12)– dia em que as tarifas de 25% de Trump sobre o aço e o alumínio entraram em vigor -, Carney sinalizou que não correrá para se encontrar com Trump, que disse que o Canadá não é um país viável. Ele afirmou que fará isso no “momento apropriado, sob uma posição em que haja respeito pela soberania canadense”. Na verdade, sua primeira visita ao exterior como premiê deverá ser para a França e o Reino Unido – um sinal de que ele acredita que o Canadá precisa fortalecer as relações com os grandes aliados democráticos europeus, antes de se envolver com a Casa Branca.

“A diferença entre Carney e Trudeau é que Carney não se preocupa em fazer declarações ou chamar atenção para as suas crenças. Quando ele for ver Trump, será para fechar um acordo”, diz Lisa Raitt, que foi ministra no governo do primeiro-ministro conservador Stephen Harper ao mesmo tempo que Carney presidia o Banco do Canadá. “O presidente é transacional e Carney adquiriu muita experiência em negociar ao longo dos anos.”

Após conquistar a liderança do Partido Liberal no domingo, Carney usou seu primeiro discurso para apresentar um plano de sobrevivência para a economia canadense e citou Trump ao fazer um apelo pela unidade nacional.

“Donald Trump pensa que pode nos enfraquecer com seu plano de dividir para conquistar”, disse ele. “Não podemos mudar Donald Trump. Mas podemos controlar nosso destino econômico. O Canadá é mais forte quando nos unimos. Podemos nos dar muito mais do que Donald Trump pode tirar.”

A estratégia do Canadá em relação às tarifas envolveu viagens de lobby repetidas de autoridades ao resort de Trump na Flórida e a Washington, além de visitas a governadores de estados americanos. Mas o governo de Trudeau – ao contrário da presidente mexicana Claudia Sheinbaum – também decidiu implementar contratarifas quase que imediatamente em resposta às tarifas dos EUA.

A chamada política de retaliação “dólar por dólar” significa que quando Trump impôs tarifas de 25% sobre o aço e o alumínio canadenses esta semana, as autoridades em Ottawa produziram uma lista de cerca de 30 bilhões de dólares canadenses (US$ 20,8 bilhões) em produtos dos EUA que agora estão sendo taxados em 25% para entrar no Canadá – incluindo centenas de itens de aço e produtos de consumo.

Carney apoiou essa abordagem. Mas ainda é uma questão em aberto o que ele faria se Trump prosseguir com um conjunto de tarifas ainda maiores no mês que vem, ou intensificar ainda mais essa política e tentar destruir a indústria canadense, como ele ameaçou fazer esta semana.

“O Canadá precisa continuar tendo uma resposta proporcional a todo e qualquer ataque econômico dos EUA”, disse um porta-voz de Carney por e-mail. “Faremos isso, em parte, mantendo nossas tarifas sobre os americanos enquanto eles mantiverem suas próprias tarifas e até que os americanos demonstrem respeito e assumam compromissos confiáveis e convincentes com o comércio livre e justo.”

Na quinta-feira (13), houve sinais de um esfriamento dos ânimos entre os dois vizinhos, quando dois membros do gabinete de Trudeau e o premiê de Ontário Doug Ford se encontraram com autoridades dos EUA que incluíram o secretário do Comércio Howard Lutnick. Os dois lados prometeram se reunir novamente na próxima semana, disse Ford, que classificou a discussão de positiva e civilizada.

O líder de Ontário acredita que Carney terá relações melhores com Trump do que Trudeau, por ter uma “mente empresarial astuta”. Outros são mais céticos. A premiê de Alberta, Danielle Smith, porta-estandarte do movimento conservador no oeste rico em recursos do país, disse acreditar que Trump simplesmente “não vai gostar de Mark Carney”.

Carney, de fato, representa muitas coisas que Trump e seus apoiadores detestam. Ele é um defensor declarado do comércio global e do combate às mudanças climáticas, e apoia a cooperação entre os países por meio de instituições multilaterais. Quando era presidente do Banco da Inglaterra, Carney se tornou alvo dos Conservadores que defendiam o Brexit, devido às previsões do banco central sobre os danos que isso poderia acarretar para a economia britânica. Essa controvérsia ocorreu durante o primeiro mandato de Trump.

A natureza fleumática e intelectual de Carney também cria um contraste de estilos com Trump, um presidente que adora chocar.

Em seu livro de 2021 “Value(s): Building a Better World for All”, Carney defende alinhar os mercados financeiros com a luta contra as mudanças climáticas e por mais igualdade. É um livro técnico que destaca suas vastas diferenças filosóficas com Trump. Carney promove uma “globalização realmente inclusiva” com a facilitação de barreiras comerciais para pequenas e médias empresas e cita David Ricardo, um economista britânico que desenvolveu teorias influentes sobre por que o livre comércio funciona.

Em qualquer caso, Carney poderá ter apenas um curto período de tempo para deixar sua marca na abordagem de seu governo ao comércio e as relações com os EUA. Ele provavelmente forçará uma eleição em breve, que o lançará em uma campanha nacional contra o líder do Partido Conservador, Pierre Poilievre, que está apelando aos eleitores com ideias para reduzir os gastos públicos, reduzir a ajuda externa, cortar os impostos e estimular os investimentos das empresas. Alguns, como a premiê de Alberta, acreditam que Poilievre conseguiria lidar melhor com Trump.

Os conservadores ainda lideram em algumas pesquisas de opinião, mas a renúncia de Trudeau, a ascensão de Carney e as ameaças de Trump à soberania canadense aproximaram os liberais.

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