A Prefeitura do Recife, através da Secretaria de Cultura do município, não descarta segundo o Jornal do Comércio, a possibilidade de adiamento do Carnaval para um período posterior aos meses de fevereiro e março, apontados pelas autoridades sanitárias como época de sazonalidade das doenças respiratórias. De acordo com o secretário municipal Ricardo Mello, o posicionamento ainda não é institucional, no entanto, o próprio prefeito, João Campos, já havia declarado que essa alternativa poderia se dar em conjunto com outras capitais (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Salvador).
“Não vamos ter, provavelmente, um Carnaval como a gente conhece. Mas é muito pertinente a pergunta de como pode ser feito um Carnaval, porque ele não pode ser de poucos. O Carnaval que a gente conhece e deseja é o de todos”, afirmou Mello, durante sua participação na audiência pública realizada, nesta quarta-feira (15), pela Câmara Municipal do Recife.
“A nossa primeira premissa é de que o Carnaval tem que trazer segurança para as pessoas para ser vivido e brincado como se deve. O cenário aponta um prognóstico de improbabilidade de realização do Carnaval que a gente conhece”, completou o auxiliar, estimando que a partir do mês de maio seria possível prever um cenário que 100% da população possa estar com o esquema vacinal completo e com as doses de reforço bastante avançadas.
Com o tema “Vai ter Carnaval?”, a audiência pública provocada pelo vereador Ivan Moraes (PSOL) e pela Comissão Especial sobre a Retomada do Carnaval, presidida pelo vereador Marco Aurélio Filho (PRTB), também trouxe representantes dos movimentos culturais da cidade para debater o tema.
Marco Aurélio Filho, presidente da Comissão Especial sobre a Retomada do Carnaval,
Ao conduzir a audiência, Ivan citou uma nota emitida pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que fala sobre a retomada do Carnaval na cidade do Rio de Janeiro, mas que as recomendações podem ser estendidas a outros municípios brasileiros. De acordo com a fundação, o Carnaval só poderia ocorrer caso seja alcançado uma taxa acima 80% da população total com esquema vacinal completo, além da análise sobre a fila de espera para internação dos casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave e o índice de média móvel.
Um dos principais pontos levantados pelo parlamentar psolista, nesta quarta-feira e em outras reuniões do colegiado, é sobre que tipo de Carnaval será realizado no Estado, já que a exemplo do decreto estadual permitindo a realização de eventos fechados com capacidade para até 7.500 pessoas, festas particulares promovidas durante esse período continuariam sendo permitidas e podem ser consideradas eventos carnavalescos, enquanto celebrações com agremiações que possuem atrativo muito menor de público, seriam proibidos.
O representante do movimento de trabalhadores da música Acorde, Felipe Mendes, também levantou esse questionamento sobre o que será feito diante da atual situação pandêmica sob o ponto de vista de que o Carnaval não se trata “de uma festa e sim um gasto”. “Aquela semana de explosão, aquilo que a gente mostra é o resultado de um ano inteiro de trabalho e dedicação, de uma cadeia produtiva que não é só econômica, mas de pertencimento, de dignidade, de cidadania e que se resulta numa movimentação de arredondados R$ 2 bilhões por ano no estado de Pernambuco”, apontou Mendes.
Para o presidente da União pernambucana dos Afoxés, Fabiano Santos, é preciso regulamentar os parâmetros para o que será permitido ou não durante esse período. Segundo o dirigente, haverá por exemplo, um show particular no Geraldão no dia 4 de fevereiro, com toda a estrutura já definida para comercialização. ”O Geraldão é um equipamento público com uma festa particular. Se é para pensar no futuro e no dia 4 de fevereiro vai levar uma multidão para dentro de um espaço fechado, vamos ter Carnaval”, afirmou. Em seguida ele chama atenção sobre “qual é a identidade cultural de Pernambuco?”
Prefeitura do Recife ainda não definiu ser haverá ou não Carnaval na capital
No próximo dia 22, a Comissão Especial de Retomada do Carnaval, São João e Grandes Eventos entregará à Prefeitura do Recife um relatório para indicar em que condições poderá ocorrer a realização destas festividades, a partir de dados científicos e das discussões que vêm sendo realizadas com representantes de vários segmentos culturais, econômicos e sanitários. “O relatório dessa comissão indicará em que condições será possível ter o nosso Carnaval. Pelo que disseram os cientistas é muito improvável que aconteça com segurança no mês de fevereiro”, destacou Ivan Moraes. Neste caso, ele alerta para a necessidade de planejamento das medida mitigatórias para o período em que se espera que haja a realização da festa momesca.
“O que ouvimos na última reunião foi muito contundente e está na hora de tomar uma atitude, sinalizar alguma coisa o mais rápido possível. Há movimentos tanto do lado popular, do Carnaval de rua, quanto dos carnavais fechados. Temos que ter muito cuidado para não escolhermos um lado. Se não der para um não dá para ninguém”, alertou o vice-presidente da Comissão Especial, o vereador Alcides Cardoso (DEM), referindo-se a reunião passada realizada com integrantes da área de saúde.
“Já escutamos o eixo cultural, o eixo econômico e tivemos uma atividade interlegislativa inédita com outras Câmaras municipais. Por último, escutamos o eixo sanitário. Na audiência pública de hoje, escutamos o secretário de Cultura da cidade do Recife e o presidente da Fundação de Cultura. A Casa do povo é para isso mesmo: para ouvir as pessoas e apontar alternativas para o Poder Executivo”, afirmou Marco Aurélio Filho.