Titular do Ministério da Previdência, o presidente licenciado do PDT, Carlos Lupi, destaca em entrevista a Geralda Doca, do O Globo, as características locais das eleições municipais para justificar que, em algumas cidades, subirá em palanques opostos ao do presidente Lula da Silva (PT) na disputa pelas prefeituras em outubro. No cenário nacional, por sua vez, articula uma federação com o PSDB, antigo rival, e minimiza a aliança com um partido de oposição. Após reunião ministerial, na última segunda-feira, na qual o petista cobrou melhorias na comunicação do governo, Lupi concorda que há falhas e que é preciso romper a polarização política:
— Falta a todos nós a consciência de que temos que romper a bolha.
Confira abaixo os principais trechos da entrevista.
Lula reuniu ministros e cobrou entregas diante da queda na popularidade. O senhor vê falhas na comunicação do governo?
Claro que tem (falhas). Falta a todos nós a consciência de que temos que romper a bolha. Com essa polarização, temos dificuldades de nos adestrar na linguagem mais aceitável para quem está do outro lado, mas não se sente atraído por nós. A primeira falha é nossa, cada um de nós individualmente não está conseguindo comunicar com aqueles que querem sair do outro lado, mas têm medo de vir para o nosso lado.
Como o governo deveria se posicionar nas redes?
Acho que nós temos que começar a colocar com mais firmeza a pauta das realizações. Por exemplo, onde tem o maior quantitativo de evangélicos? Na faixa salarial da população que ganha entre R$ 1,8 mil e R$ 2 mil, no Bolsa Família. Nós temos que dizer o que estamos fazendo para eles, as realizações, melhorando a escola pública, mantendo a estabilidade, contendo a inflação. A economia está indo bem, teve ganho real do salário mínimo. Acho que essa pesquisa refletiu mais alguns embates que Lula travou do que o mundo real. Exploraram a polêmica das falas do presidente. Estão usando, com muita eficiência, tenho que reconhecer isso, dolorosamente reconheço, a rede social naquilo que ela é mais capaz, na destruição.
O senhor avalia que o governo do PT não se atualizou e ainda pensa como em 2003?
Nós estamos muito atrasados. Acho que falta mais profissionalismo, falta ter uma comunicação que fale mais a linguagem do jovem. Essencialmente, esse público mais concentrado de rede social é jovem. O que nós vamos fazer a partir de agora, que está combinado, é cada um de nós levar ideias e projetos para divulgar os feitos do governo. Em outros governos, nós tínhamos uma equipe mais azeitada nessa área de comunicação.
A federação do PDT e PSB não avançou, com o PSDB tem chances de vingar?
Eu acho que só vai sair alguma federação depois da análise do resultado das eleições municipais. E vai ser mais ampla. Estou conversando com muitos partidos, Podemos, Solidariedade, Avante, PSDB e PSD. Não estamos fechando o diálogo com o PSB, que historicamente é mais próximo da gente. Vamos estar juntos, provavelmente no Rio Grande do Sul, Porto Alegre, no Estado do Rio de Janeiro, Paraná, em muitos municípios.
Mas o PSDB é oposição ao governo, isso poderia criar uma saia-justa?
Olhe os partidos que estão no governo, União Brasil, PSD, MDB. Uma coisa é relação institucional que o governo precisa para ter um voto do Parlamento nas questões que são fundamentais. Não acho que isso atrapalhe, até porque o Lula é bem pragmático.
O senhor vai subir no palanque de candidatos a prefeitos adversários do governo?
Vou, porque eleição municipal não tem a ver com eleição nacional. Não vamos estar no palanque do João Campos (PSB) em Recife. Eu desejo que o partido apoie o Túlio Gadelha (Rede). O Lula não vai estar no palanque do Túlio Gadelha, vai estar no palanque do João. Vamos ficar inimigos? Não, isso faz parte. Como é que vai ficar o PSB em São Paulo? A Tabata é candidata a prefeita, e lá estamos apoiando o PSOL pelo candidato. Sou amigo do Boulos há muitos anos. Eleição municipal guarda a característica da realidade local. A nacional é que tem que ter uma definição macro.
O senhor acha que o Lula sai candidato de novo em 2026?
Acho bem provável.
E acredita que a economia será determinante?
Não é só. Economia dá a direção, mas o governo popular tem que estar bem com o povo. Se o Lula continuar como ainda está bem na base popular, ele vai ser candidato de qualquer maneira. Não pode ter preconceito de idade. Olhe para os Estados Unidos.
O senhor crê em uma eleição tão polarizada como em 2022?
Eles não terão mais o porta-voz Bolsonaro, para o bem e para o mal. Mas ele consegue atrair um eleitorado radicalizado, que nenhum outro vai conseguir, do lado mais à direita. É outra eleição. Acho que eles vão se dividir.
Quem seria o melhor candidato do PT para enfrentar os bolsonaristas?
Hoje seria Lula. Depois do Lula eu só vejo um nome que poderia ser, o Fernando Haddad (ministro da Fazenda). Ele já foi candidato a presidente na outra eleição, perdeu, mas foi para o segundo turno. Não é desconhecido. Foi prefeito na maior capital do Brasil. Não vejo dentro do PT um nome que se sobressaia mais do que o Haddad. Agora, a economia tem que continuar dando certo.
A briga entre os irmãos Cid Gomes e Ciro prejudica o PDT?
Claro que prejudica. Nós estamos perdendo um número enorme de prefeitos, vice-prefeitos, vereadores. Mas como é que a gente pode entrar numa questão familiar? Não dá. É muito delicado, eu te confesso. Eu fiz de tudo para evitar, tudo. Para mim, o Ciro é irmão que a vida me deu. O Cid veio no bojo do Ciro e tem aquela visão regional, paroquial. Toda briga foi por causa da paróquia de um país chamado Ceará.
Como ministro do governo, as falas de Ciro contra Lula não causam constrangimento?
Não porque Ciro e Lula se conhecem bem há muitos anos. Ciro, foi ministro do Lula. O Ciro, durante bom tempo da vida dele, foi muito alinhado e votou sempre no Lula. Está discordando, mas eu posso tolhê-lo na liberdade de falar? Que democracia eu vivo? O Lula tem cabeça macro.