A defesa do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) divulgou uma nota nesta sexta-feira, 2, na qual reclama que não teve acesso aos principais documentos do inquérito que investiga a chamada “Abin paralela”, um suposto esquema de espionagem ilegal que teria existido durante do governo do seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Na segunda-feira, 29, a PF fez busca e apreensão em endereços ligados ao vereador — residência, escritório, gabinete e a casa de praia da família em Angra dos Reis (RJ). O ex-presidente estava hospedado no imóvel do litoral fluminense junto com Carlos e os outros dois filhos, Eduardo e Flávio, mas no momento da operação a família havia saído para pescar.
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou na quarta-feira, 31, o acesso do vereador às investigações. Porém, o advogado Antonio Carlos Fonseca afirma que foram liberados apenas os documentos referentes à medida cautelar de busca e apreensão contra Carlos, realizada no dia 29 de janeiro.
Fonseca diz que as informações recebidas não atendem integralmente ao pedido da defesa e informou que fez uma nova solicitação para acesso aos principais autos da investigação. Ele também criticou o vazamento de informações para a imprensa. “O vereador Carlos Bolsonaro e sua defesa, mais uma vez, lamentam que o sigilo decretado ao procedimento pelo Poder Judiciário não seja respeitado”, diz o comunicado.
Abin paralela
Desde 2019 o clã Bolsonaro é investigado pela existência de um esquema de espionagem ilegal na Abin. A PF encontrou indícios de que a agência repassava informações sigilosas e tentou interferir em inquéritos que envolviam Bolsonaro e filhos. O então diretor da agência, Alexandre Ramagem, hoje deputado federal e pré-candidato a prefeito do Rio de Janeiro, seria a ponte.
A operação de segunda-feira 29 foi um desdobramento da realizada na quinta-feira passada, cujo principal alvo era Ramagem. Ao analisar o material apreendido na semana passada, agentes da PF encontraram trocas de mensagens entre Ramagem e Carlos com pedidos explícitos de acesso a investigações sigilosas. As conversas foram intermediadas por Luciana, assessora de Carlos, que também foi alvo da investigação.
Além disso, a gestão de Ramagem na Abin é investigada por espionar ilegalmente adversários políticos do ex-presidente Bolsonaro através do aplicativo FirstMile. Sem regulamentação e sem ordem judicial, a agência monitorava os passos de advogados, políticos e membros do Poder Judiciário por meio do sinal de celular, para posteriormente repassar as informações ao clã Bolsonaro.
Ato na PF
Jair Bolsonaro convocou os apoiadores para um ato em frente à unidade da Polícia Federal em São Sebastião, litoral de São Paulo, no próximo dia 7, quando ele prestará depoimento sobre uma suposta importunação a uma baleia-jubarte quando passeava de jet ski na região, em 2023. O ex-presidente disse que a PF está cumprindo o seu papel. “Não é uma perseguição da PF em cima de mim. Ela está fazendo a sua parte porque ela é instada a cumprir ordens”, disse — leia a matéria aqui.
O ex-presidente disse, ainda, que a PF lhe deu a opção de fazer o depoimento por vídeo, mas que ele preferiu ir presencialmente. A convocação de Bolsonaro para o ato viralizou nas redes sociais e tornou-se um dos assuntos mais comentados e compartilhados do X (antigo Twitter).