Embora o senador Jaques Wagner (PT) venha afirmando que sua pré-candidatura ao governo da Bahia é consenso no grupo, o deputado federal Cacá Leão (PP) se posicionou diferente em entrevista ao jornal Tribuna publicado nesta segunda-feira (6). Cacá reforçou na entrevista que o PP pretende lançar o vice-governador João Leão ao Palácio de Ondina.
Nos bastidores, o comentário é de que a pré-candidatura de João Leão é uma forma pressionar para que o governador Rui Costa (PT) renuncie o posto, e o vice assuma. Na entrevista abaixo, Cacá Leão afirmou que o ex-prefeito soteropolitano ACM Neto (DEM) será um player relevante na eleição do próximo ano, assim como o ministro da Cidadania, João Roma (Republicanos), a quem teceu elogios. “Acho também que o ministro João Roma pode ter um espaço importante nesse processo na eleição da Bahia. É um grande ministro, tem feito um belíssimo trabalho e, se for da vontade dele, de seu o grupo político, vai poder apresentar o seu nome à disposição do povo da Bahia para ser escolhido”, ressaltou.
Confira a entrevista:
Tribuna – Como o senhor avalia a conjuntura atual do país? Ainda tensa?
Cacá Leão – Há uma polarização muito grande na política, e isso parece que é interessante para os dois lados. A sensação que a gente tem é de que um lado vai se insuflando e insuflando o outro, e eles vão se retroalimentando até para não deixar espaço para surgir uma terceira via. Então, há a sensação que eu tenho é de polarização muito grande.
Tribuna – Ao que o senhor atribui a dificuldade de surgir uma terceira via para eleição presidencial no Brasil?
Cacá Leão – É, exatamente. Como eu falei, hoje há uma dificuldade de espaço, porque há uma certa tendência de espaço ocupado já pela direita radical, e um outro espaço já ocupado pela esquerda radical, entendeu? Então, sobra pouco espaço para essa terceira via se movimentar, e também não se tem surgido só uma terceira via, (tem surgido) terceira, quarta, quinta, a gente tem diversas outras opções. Não existe um só nome que consiga também agregar todas essas forças. Então, a gente tem visto hoje aí é realmente uma polarização capitaneada pelo presidente Bolsonaro pelo ex-presidente Lula.
Tribuna – Agora que a vacinação já está se consolidando, o senhor acredita em uma retomada maior da economia no ano que vem? Ou o cenário atual ainda desanima e pede cautela?
Cacá Leão – A gente espera, né? O Brasil tem batido recordes de arrecadação, e a gente espera que isso seja devolvido em benefício para população. Hoje, a gente vive um momento muito difícil com o preço da gasolina alto, com o preço do gás alto, o supermercado. Eu tenho dito muito isso. A gente ouve aqui em Brasília muita gente preocupada com as reações do mercado. Eu acho que a gente precisa se preocupar com as reações que estão acontecendo no supermercado. A gente precisa agir para baixar o preço dos alimentos, baixar o preço da energia, do gás de cozinha, dos combustíveis. Eu acho que a gente precisa aqui em Brasília agir rapidamente para que a população sinta menos a crise, né? Que a gente vive hoje.
Tribuna – O que senhor considera de mais relevante que foi aprovado na reforma política? O que pensa sobre o retorno das coligações proporcionais?
Cacá Leão – Na verdade, a reforma política foi aprovada na Câmara e deve ser votada no Senado. Há uma previsão que se vote na Comissão de Constituição e Justiça no dia 8 (de setembro) e no dia seguinte do plenário. Eu, particularmente, sou a favor do retorno das coligações, votei a favor do retorno das coligações na Câmara dos Deputados por entender que a gente ainda não consegue um formato político no Brasil de partidos. As pessoas ainda não votam nos partidos como é por exemplo no modelo americano, em que o cidadão sabe quem é republicano, quem é democrata. No Brasil, a gente ainda vota em pessoas, a gente ainda não tem esse sentimentalismo de partido político. Então, com a volta das coligações, na minha opinião, a gente vai conseguir ter uma eleição mais barata, uma eleição mais limpa e acho que a gente vai conseguir ter ainda mais transparência no processo eleitoral. Eu, particularmente, defendia o modelo do chamado distritão, onde quem tem mais voto entra. Eu acho que é o justo como eu falei. As pessoas não estão acostumadas a votar em partidos políticos. A gente tem o costume de votar em pessoas. Então, a gente está aguardando aí para ver o que Senado vai aprovar para gente montar a nossa chapa. Ou, então, montar o nosso partido para ir para as eleições.
Tribuna – O que o senhor pensa sobre o debate sobre voto impresso, que gerou tanta polêmica recentemente?
Cacá Leão – Eu acho que isso acabou sendo também um fruto da polarização que a gente vive. Eu acho que se, talvez, não tivesse se politizado tanto o voto impresso, talvez, ele tivesse sido aprovado, porque ninguém pode ser contra ou ir contra a mais transparência no processo eleitoral. E diferente do que foi dito, diferente do que foi falado, o voto impresso não é o retorno da cédula de papel, o voto impresso era apenas um sistema de conferência do voto. O cidadão continuava votando na urna eletrônica, e o voto é que seria impresso e cairia em uma outra urna. E depois o tribunal teria condição de fazer uma checagem, se o que está na urna confere com o que foi impresso ali no papel e que caiu dentro daquela outra urna. Então, não dá para você ser contrário a mais ainda mais transparência no processo eleitoral. Então, mas volto a dizer, isso também foi um debate da polarização, que a gente vive e ele acabou sendo derrotado fruto dessa politização e da polarização da matéria.
Tribuna – Qual foi a percepção do senhor da passagem do ex-presidente Lula pela Bahia? O ex-presidente também conversou com os senhores aliados, não foi?
Cacá Leão – Olha, o ex-presidente Lula tem um capital político importante. É uma figura muito querida na política, principalmente, no nosso estado, onde ele tem uma relação pessoal muito forte com o nosso ex-governador Jaques Wagner, que é uma outra figura muito querida da política. Então, é natural que a passagem dele na Bahia tenha sido bastante plural. Ele teve com o vice-governador João Leão. Infelizmente, eu não pude participar porque não estava em Salvador. Estava em Brasília ocupado com as minhas funções de líder do partido na Câmara. Então, não pude estar com ele na sua visita a Salvador, mas ele teve com o vice-governador João Leão, com outros companheiros do nosso partido. E foi um bate-papo bastante agradável.
Tribuna – A candidatura do senador Jaques Wagner ao Governo do Estado já é um consenso no grupo ou o vice-governador João Leão, o PP, ainda pretendem lançar uma candidatura?
Cacá Leão – Olha, a candidatura, a pré-candidatura do senador Jaques Wagner é legítima, mas eu tenho dito sempre que ela é uma candidatura que hoje pertence ao Partido dos Trabalhadores. Ainda não pertence ao nosso grupo, a nossa base, ao nosso grupo político, o nosso partido deseja a candidatura do vice-governador João Leão como PSD também deseja a candidatura do senador Otto Alencar. Outros partidos também têm as suas pré-candidaturas colocadas. Então, é natural que isso aconteça nesse momento. É natural que essas discussões venham a acontecer. A gente está ainda a 14 meses para as eleições. Esse é o momento da gente se fortalecer, fortalecer o nosso grupo, fortalecer o nosso time e o desejo do nosso partido, do nosso time é ter a candidatura do vice-governador João Leão e que ele venha conseguir convencer aos nossos aliados ao apoiarem tanto Partido dos Trabalhadores quanto PSD, PCdoB, PSB, todos os partidos que compõem a nossa base que venham apoiar a candidatura do vice-governador João Leão. Então, esse é um momento ainda de discussão.
Tribuna – O senhor acredita que o cenário nacional, com a polarização entre Lula e Bolsonaro, vai interferir na disputa da Bahia?
Cacá Leão – É difícil dizer se vai ou não. A gente ainda está, como eu falei, muito cedo, muito distante desse processo. É algo que, se a gente continuar com essa polarização, com essa eleição, com essa formatação, provavelmente haverá sim grande influência tanto do ex-presidente Lula quanto do presidente Bolsonaro no processo eleitoral não só na Bahia, mas em todos os estados.
Tribuna – Tudo indica que a gente vai ter uma candidatura ex-prefeito de Salvador, ACM Neto, ao governo da Bahia. O senhor acredita que ele vai chegar com uma certa força para disputar o Governo do Estado, caso ele realmente seja candidato?
Cacá Leão – Olha, o ex-prefeito ACM Neto vem com um recall de oito anos de administração, administração bem-sucedida, fez o seu sucessor, foi muito bem votado, eleito no primeiro turno, o prefeito Bruno Reis. Então, o ex-prefeito ACM Neto tem as suas qualidades, e ele vai apresentar isso no momento da eleição. Assim, ele é player importante, com certeza. Ninguém pode dizer que não é. Como também hoje diz que o João Roma é um player importante nesse processo eleitoral.
Tribuna – O senhor acredita que o ministro da Cidadania, João Roma, será candidato a governador da Bahia?
Cacá Leão – Acho que essa possibilidade existe sim. Tem feito movimentos nesse sentido de construir, conversar com todas as bases políticas, inclusive, do Estado da Bahia. Ele fala em fortalecer o palanque do presidente Bolsonaro. A candidatura dele também serviria para isso. Acho também que o ministro João Roma pode ter um espaço importante nesse processo na eleição da Bahia. É um grande ministro, tem feito um belíssimo trabalho e, se for da vontade dele, de seu o grupo político, vai poder apresentar o seu nome à disposição do povo da Bahia para ser escolhido.
Tribuna – Voltando ao cenário nacional, o senhor acredita que existe algum tipo de risco de ruptura democrática?
Cacá Leão – Eu não acredito. Eu, particularmente, torço para que os ânimos se acalmem. A gente está próximo aí do Sete de Setembro, tem muita gente com a expectativa do que vai acontecer, como vai ser a fala, como vai se comportar o presidente Bolsonaro no dia 7 de Setembro. Mas eu espero que ele faça um pronunciamento de estadista, que ele esfrie os ânimos, esfrie as tensões. É inadmissível qualquer tentativa ou discussão de ruptura da democracia.
Tribuna – Qual o posicionamento dos deputados do Partido Progressista em relação ao governo federal?
Cacá Leão – Olha, o nosso partido ele tem hoje. dentro do principal ministério do Governo, o nosso presidente (do PP), o senador Ciro Nogueira. O presidente do meu partido é ministro da Casa Civil. Então, o partido tem procurado ajudar ao país, e ajudar o governo a vencer as suas crises e a cuidar da população. É isso que o Progressista sabe fazer. A gente tem também o presidente da Câmara dos Deputados (Arthur Lira), temos a terceira maior bancada na Câmara, também temos sete senadores no Senado Federal. Então, é um partido muito forte e que tem contribuído bastante com o Brasil nesses últimos anos.
Tribuna – Por outro lado, o PP tem uma característica de manter uma independência nos estados, não é?
Cacá Leão – De dialogar e, com certeza, acho que ele (PP) é grande inclusive por causa disso, porque o partido respeita as posições dos deputados, que os estados tomam nas suas respectivas eleições. É isso que o partido é grande, é um partido bastante plural.
Tribuna – Quais são os seus planos para o ano que vem? O senhor pretende se lançar a reeleição ou pode tentar outro espaço a depender do cenário da conjuntura?
Cacá Leão – Eu, particularmente, trabalho… até porque, a gente tem aí a perspectiva da candidatura do vice-governador João Leão, então, eu trabalho na perspectiva de ser candidato a reeleição, de disputar mais uma vez uma vaga na Câmara dos Deputados.