domingo 22 de dezembro de 2024
Foto: Reprodução
Home / NOTÍCIAS / Candidatos querem levar ‘favela’ para dentro do parlamento
sábado 24 de setembro de 2022 às 07:07h

Candidatos querem levar ‘favela’ para dentro do parlamento

NOTÍCIAS


Foi numa casa sem janelas, nem portas entre os cômodos ou água encanada na favela Cinco Bocas, na capital fluminense, que a artista e agora candidata a deputada federal Sol Miranda (PSB), de 32 anos, cresceu.

Conforme publicação no jornal O Globo, a atriz e gestora cultural, se define como “fruto de políticas públicas”. Afinal, ingressou na faculdade por meio da Lei de Cotas do Prouni e teve projetos apoiados por editais do governo de fomento à cultura.

Na Câmara dos Deputados, ela quer ampliar os programas sociais para prover a outros como ela oportunidades para também chegar lá.

Para Sol, as políticas públicas para as favelas são insuficientes e não são colocadas como prioridade nos debates. E também avalia que existe um número “insignificativo” de parlamentares que nasceram e cresceram nessas comunidades.

— A política é um espaço nosso também. Nos ensinaram que não. Mas ela está no nosso dia a dia, é parte da nossa construção — diz ela.

Pouco familiar ao perfil do Parlamento, a periferia está na origem de candidatos que procuram torná-la a identidade de suas campanhas.

A advogada Mayara Torres (PSB), de 27 anos, fazia campanha na Zona Sul de São Paulo, próximo à favela onde cresceu, quando um homem se aproximou e lhe deu um conselho: “quando você for panfletar, não fala que você é da periferia, não. Pega mal”.

Esse e outros comentários têm acompanhado seus comícios pelas ruas, mas ela nega mudar a postura. Seu objetivo é conseguir uma vaga na Assembleia Legislativa para levar as pautas da periferia ao plenário.

— Ser menina da favela faz parte da minha origem, eu não vou mudar isso. A política é que precisa de mais gente com “diploma de realidade” — afirma ela.

Mayara cresceu numa ocupação na Favela da Borracha, na periferia de São Paulo, ao lado da Vila Missionária, bairro onde a deputada federal Tabata Amaral (PSB) cresceu. Pela proximidade de local e pautas, as duas se aproximaram, e hoje fazem campanha juntas na região.

O distanciamento entre periferia e política ganhou um capítulo neste mês, quando o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) autorizou que Douglas Belchior exibisse uma foto de boné na urna eletrônica. O ministro Sérgio Banhos argumentou que o acessório faz parte de uma característica sociocultural do postulante à Câmara dos Deputados e não é apenas um adereço.

O caso chegou ao TSE por meio de um recurso apresentado pela defesa do candidato, que é militante do movimento negro e que este ano decidiu concorrer a uma vaga como parlamentar.

Quando apresentou o seu registro de candidatura, Belchior juntou ao processo uma foto em que aparece ostentando um boné de aba reta. Mas o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) barrou o uso do chapéu, por entender que se tratava de um mero “elemento cênico”.

Para Belchior, hoje candidato ao cargo de deputado federal pelo PT de São Paulo, o boné se transformou num “marcador social de perseguição da população negra”.

— É só a gente se lembrar de como o moleque da periferia é tratado na escola quando vai de boné, ou que o policial militar usa isso como elemento para (torná-lo) alvo de abordagem — diz Belchior.

Belchior tem 43 anos, é nascido em Suzano (SP) e criado na divisa entre Poá (SP) e Itaim Paulista (SP), no extremo Leste, onde mora até hoje. Professor de história, ele é o primeiro da família a se formar no Ensino Superior.

Ele diz que, como negro, da periferia e ativista, há risco permanente em sua atuação. Isso porque o Brasil é um dos países que mais criminalizam movimentos sociais. A Organização Global Witness apontou que 20 assassinatos de ativistas foram registrados no país em 2020, posicionando o Brasil como o quarto local mais violento no mundo.

Dois anos antes, a vereadora Marielle Franco, do PSOL, criada na favela da Maré (RJ), havia sido assassinada, num crime cujos mandantes são até hoje desconhecidos.

— Infelizmente não há uma novidade objetiva nos ataques que hoje acontecem contra lideranças de movimento negro e lideranças periféricas que radicalizam ou a profundam a sua atuação política, só que hoje o ambiente está mais extremo — diz.

O entendimento da favela como lugar exógeno às discussões sobre política virou polêmica na disputa presidencial dias atrás. Explicando seu plano econômico a uma plateia de empresários, o candidato do PDT Ciro Gomes disse ter feito um “comício para gente preparada” e colocou em dúvida a compreensão sobre os mesmos assuntos caso tivesse feito uma palestra em uma favela.

— É um comício para gente preparada, você imagina eu explicar isso na favela, né — disse Ciro.

A declaração foi criticada nas redes sociais, e Ciro culpou adversários pela repercussão negativa do episódio.

Veja também

Exército Brasileiro: General Montenegro assume o Comando Militar do Sudeste

O Comando Militar do Sudeste (CMSE) realizou, na manhã d última terça-feira (17), a cerimônia …

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

error: Content is protected !!