Na largada das eleições municipais, parte dos nomes do campo da esquerda de partidos como PT, PDT e PSOL, apoiados ou não pelo presidente Lula da Silva (PT) nas disputas por prefeituras, enfrenta dificuldade para espelhar, a nível local, o bom desempenho do petista entre os eleitores mais pobres — segmento que aderiu ao presidente na corrida presidencial de 2022. Um levantamento feito pelo jornal O Globo, a partir dos resultados mais recentes das pesquisas Quaest e Datafolha, dimensiona a barreira do campo político junto a esse grupo em cidades como São Paulo, Rio, Belo Horizonte e Manaus.
O exemplo mais significativo da baixa adesão do eleitorado de menor renda acontece em São Paulo, onde o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP), apesar de ser diretamente apoiado pelo presidente, não lidera nessa fatia da população, mas tem vantagem entre os mais ricos. De acordo com a última pesquisa Datafolha, divulgada no início do mês, Boulos está dez pontos percentuais atrás do atual prefeito Ricardo Nunes (MDB), que registra 24% das intenções de voto nesse segmento, e quatro abaixo de José Luiz Datena (PSDB), que contabiliza 18%. No eleitorado com renda acima de cinco salários mínimos, Boulos chega a marcar 33%, enquanto Nunes soma 24%.
Já Tabata Amaral (PSB) atinge 6% dos votos no grupo com rendimento de até dois salários mínimos, mas o resultado reflete seu desempenho geral na disputa paulistana.
Em Manaus, o deputado federal Marcelo Ramos (PT), escolhido pelo partido do presidente, também é superado nesse segmento. Segundo levantamento da Quaest em julho, ele contabiliza apenas 6% das intenções de voto, ante os 34% registrados pelo candidato à reeleição, o prefeito David Almeida (Avante).
No Rio, o deputado federal Tarcísio Motta (PSOL), que busca se colocar como nome da esquerda na disputa, tem apenas 4% dos votos no eleitorado mais pobre, segundo o levantamento da Quaest feito no mês passado. Ele é superado pelo candidato à reeleição Eduardo Paes (PSD), que conta com o aval de Lula. O prefeito tem 47% das intenções do eleitorado com renda de até dois salários mínimos.
No Recife, a candidata do PSOL, Dani Portela, tem ainda menos adesão no segmento e soma apenas 1% das intenções de voto, segundo pesquisa feita pelo Instituto Datafolha em julho. O prefeito João Campos (PSB), nome de Lula na corrida, porém, desponta como o favorito, com 80% da preferência do eleitorado de mais baixa renda.
Peso do apoio de Lula
Para o cientista político Josué Medeiros, coordenador do Observatório Político Eleitoral da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a compreensão da baixa adesão a candidaturas de esquerda passa pela percepção do apoio dado pelo presidente Lula. Segundo ele, nomes que ainda não receberam apoio explícito e extensivo do petista, como Rogério Correia em Belo Horizonte e Marcelo Ramos, em Manaus, enfrentam dificuldade para ganhar notoriedade e projeção entre os eleitores.
— No caso do Paes e do Campos, são dois prefeitos muito bem avaliados, com percentuais elevados de eleitores que consideram as gestões deles como “boas” ou “ótimas”, então esse acaba sendo um fator que reflete também já a opinião desse eleitorado. Somado a isso, vem o apoio de Lula para concretizar o apoio das parcelas de até dois salários mínimos, que também são os eleitores históricos do PT — avalia Josué Medeiros.
Professora de Ciência Política da UFRJ Mayra Goulart, destaca que há expectativa de que o início da campanha na TV e no rádio impulsione o interesse de parcelas mais pobres da população pelos candidatos ligados a Lula.
— Para chegar nesse eleitor mais empobrecido, o candidato é mais dependente do período de início oficial de campanha, em que se tem rádio e televisão. Um eleitor dos estratos mais abaixo da pirâmide se informa mais pelos veículos tradicionais. Já o que se informa através das novas mídias, que comumente tem maior renda, tende a estar mais conectado desde a pré-campanha e aparecer nas intenções de voto antes — explica a pesquisadora.