Segundo maior colégio eleitoral do país e considerado estado-chave nas eleições deste ano, Minas Gerais se tornou foco dos candidatos a vice das duas principais candidaturas à Presidência nesta semana. Tanto Geraldo Alckmin (PSB) quanto Braga Netto (PL) percorrem cidades mineiras e se reúnem com empresários em agendas isoladas dos cabeças de chapas, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL), respectivamente.
Escalado por Lula para ampliar o espectro de apoios da chapa, Alckmin tem como missão em Minas conversar com eleitores indecisos de centro, com foco em empresários do turismo, agronegócio e a Igreja Católica. Em um dia de agenda na terça-feira, 13, esteve em Belo Horizonte, Poços de Caldas e Uberlândia e recebeu propostas com demandas de dez setores.
Em entrevista na capital mineira nesta terça-feira, o ex-governador de São Paulo, que disputou a Presidência duas vezes pelo PSDB, resume a importância do estado na disputa eleitoral:
— Minas é o segundo maior colégio eleitoral, e Minas é decisiva. Se você pegar as últimas seis, sete, dez eleições, quem ganhou em Minas ganhou a eleição no Brasil — afirmou ele.
Lula também desembarcará no estado nesta semana. Ele fará comício em Montes Claros, no norte do estado nesta quinta-feira, 15. Aliados ainda tentam articular mais uma visita de Alckmin ao estado e outra de Lula, ambas separadas e antes do primeiro turno.
A atenção a Minas também pretende reforçar a candidatura de Alexandre Kalil (PSD) ao governo frente ao seu principal adversário, Romeu Zema (Novo), que tem chances de vitória no primeiro turno. Alckmin fez o roteiro acompanhado de Kalil e o candidato a senador Alexandre Silveira (PSD).
— Nossa estratégia é ir em todas as macro regiões de Minas e deixar mensagens específicas para estas regiões — afirma o líder do PT na Câmara, deputado Reginaldo Lopes (PT-MG).
Menos de uma semana depois de estar com lideranças evangélicas, em um ato realizado na última quinta-feira, 8, em São Gonçalo (RJ), a campanha fez um aceno à Igreja Católica. O presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Walmor Oliveira de Azevedo recebeu o ex-governador em Belo Horizonte para uma conversa a pedido do candidato a vice. Alckmin é católico e seu pai foi seminarista.
Na capital, Alckmin também visitou a Santa Casa, instituição que tem 1,2 mil leitos SUS. O vice petista tem defendido a discussão sobre um novo modelo de financiamento dos hospitais filantrópicos, que enfrentam rombo nas contas após a pandemia. Na saída da Santa Casa, ao ser questionado pela imprensa, negou as especulações que apontam a possibilidade de assumir o comando da economia em um eventual governo Lula.
— Eu já fui vice governador do Mário Covas, em São Paulo, e vice é copiloto. A tarefa é ajudar, colaborar com o que puder.
Braga Netto
A agenda de Braga Netto, por sua vez, incluiu almoço com apoiadores do escritor Olavo de Carvalho, guru ideológico do bolsonarismo, e uma visita ao comitê do candidato ao governador pelo PL, Carlos Viana. Ele ficou dois dias no estado e retornou a Brasília na terça-feira. A campanha, contudo, não detalhou todos os compromissos do candidato a vice.
Mineiro de Belo Horizonte, Braga Netto, que passou boa parte da vida no Rio de Janeiro devido à carreira militar, é visto como um ativo para conquistar o eleitorado em um estado em que Bolsonaro não tem um palanque competitivo. Na viagem, incluiu um passeio no Mercado Central da capital, onde comprou um queijo. Carlos Viana soma apenas 2% das intenções de voto, segundo mais recente pesquisa Datafolha.
— Não é uma tentativa de voltar às origens (a visita a BH). Eu sou mineiro, por questões funcionais a minha carreira sempre foi fora, mas sempre venho aqui por causa dos meus pais, minha irmã, meus primos, todos moram aqui. Logicamente, eu venho aqui agora porque Minas é muito importante na questão da conjuntura política do Brasil. Então, eu vim para matar saudade, vim aqui para comprar um queijo, estou com saudade do queijo daqui do Mercado (Central) — disse Braga Netto.
Uma das missões dada por Bolsonaro ao seu candidato a vice é a de passar o chapéu pedindo doações de empresários para a campanha. O candidato já esteve no interior de São Paulo e no Mato Grosso em reuniões com representantes do agronegócio.
Como mostrou O GLOBO, a falta de recursos se tornou um problema crônico para Bolsonaro. Segundo o coordenador da campanha do pai, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o dinheiro do partido acabou. Ao GLOBO, ele admitiu frustração com as cifras doadas até agora por pessoas físicas, apesar de o presidente ter sido o candidato que mais arrecadou neste formato, R$ 10,8 milhões.