Os candidatos a suplentes de senador se tornaram uma fonte importante de financiamento da campanha ao Senado em várias partes do país.
Sem as doações de empresas, proibidas desde 2015, os suplentes que tiram dinheiro do próprio bolso são uma alternativa para bancar os elevados gastos da eleição.
O financiamento do suplente também pode ser uma espécie de investimento, já que a posse no lugar do titular no Senado não é nada incomum. Entre as 81 vagas da atual composição da Casa, quase metade é ou já foi assumida por suplentes em algum momento. Três dos eleitos já morreram, dois foram cassados e cinco renunciaram para assumir outros cargos.
Cada candidato indica em sua chapa dois suplentes que só exercerão mandato em situações como licença, afastamento, morte ou renúncia.
Até agora o principal beneficiário nessa modalidade de contribuição é o cearense Cid Gomes, com R$ 1,3 milhão pagos pelo seu suplente Prisco Bezerra, empresário e irmão do prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio, todos do PDT. Esse valor representa mais da metade do total já arrecadado pela campanha de Cid.
Entre os candidatos beneficiados nessa modalidade de contribuição, estão Mario Covas Neto (Podemos-SP), Edison Lobão (MDB-MA), com R$ 1 milhão cada um, e Sarney Filho (PV-MA), com R$ 550 mil.
A reportagem identificou ao todo 42 candidatos a senador favorecidos com recursos dessa maneira, em um total de R$ 7,8 milhões aplicados até esta quarta-feira (26).
Por causa do apoio dos suplentes, as candidaturas de Cid e Covas constam entre as 20 mais autofinanciadas (em que candidatos tiram dinheiro do próprio bolso) em todo o país. No jargão econômico, “investidor-anjo” é uma pessoa física que ajuda a financiar um negócio em estágio inicial, como startups.
‘SEM APTIDÃO’
Candidatos a suplente ouvidos pela reportagem negam que o suporte financeiro tenha sido uma condicionante para que a vaga fosse assumida nas chapas.
O senador Renan Calheiros (MDB-AL), que tenta a reeleição, recebeu, R$ 500 mil, de seu candidato a suplente Rafael Tenorio, dono de um patrimônio declarado de R$ 71 milhões.
“Fui convidado para ser suplente e aceitei por questão de amizade. Fiz a doação para ajudar na campanha”, diz Tenório, que também é presidente licenciado do CSA, clube que disputa a Série B do Campeonato Brasileiro. O suplente na chapa diz não ter “aptidão” para a política e que não tem negócios com o poder público.
No Distrito Federal, o tucano Izalci Lucas, que tenta o Senado, recebeu mais de R$ 1 milhão do advogado e empresário Luis Felipe Belmonte, que possui bens que somam R$ 65 milhões. Belmonte diz que quer ser ouvido na política e afirma que busca contribuir financeiramente com pessoas que considera sérias. “Não tenho intenção de assumir [o cargo]”, afirma o candidato a suplente.
A prática de financiamento de suplentes já ocorria anteriormente. Roberto Requião (MDB-PR) e Alvaro Dias (Podemos-PR) são alguns dos senadores que tiveram campanhas abastecidas por empresas de seus suplentes em eleições passadas. A diferença é que agora a contribuição precisa ser de pessoa física.
Em 2010, o candidato a suplente Wilder Morais (DEM-GO) ajudou a financiar a campanha do senador goiano Demóstenes Torres (atualmente no PTB). Demóstenes acabou cassado dois anos depois, e Morais assumiu cadeira no Senado, para o qual tenta se reeleger agora.