Se nacionalmente os candidatos à Presidência da chamada terceira via, que se colocam contra a polarização entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL), não decolaram nas pesquisas, em ao menos seis estados a situação é diferente. Nesses locais, os favoritos na disputa para governador tentam conforme a Alice Cravo, do O Globo, se equilibrar e evitam indicar uma preferência por um dos nomes que lideram a corrida presidencial. O cenário é observado em Minas Gerais, Bahia, Rio Grande do Sul, Pará, Goiás e Piauí. Esses estados somam 49,7 milhões de eleitores, o que corresponde a 31,7% do total no país, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Entre os motivos para não apoiar nenhum dos dois principais nomes da disputa pelo Palácio do Planalto estão acordos locais, gestões bem aprovadas e um eleitorado com um franco favoritismo por um dos candidatos da disputa nacional.
Em geral são governadores que tentam a reeleição e possuem ampla gama de apoios, preferindo manter a neutralidade — ou apoiar um candidato a presidente com menos chances — para evitar constrangimentos e perder votos. Mas a maior parte já foi ligada a Lula ou Bolsonaro, o que tem gerado saias-justas. É o caso do governador de Minas, Romeu Zema (Novo), que disputa a reeleição e foi filmado ao lado de um prefeito que pedia voto para Bolsonaro, enquanto o chefe do Executivo estadual fazia sinal de positivo. E do governador do Pará Helder Barbalho (MDB), que se encontrou com Lula em Belém, em uma reunião, mas foi, dias depois, fazer campanha para a candidata de seu partido, Simone Tebet (MDB), na cidade.
Zema lidera a corrida no segundo maior colégio eleitoral do país com 53% dos votos, segundo o Datafolha. Cobiçado para oferecer palanque a Bolsonaro, o governador optou por se afastar do presidente já na pré-campanha por receio de atrair a rejeição do titular do Planalto. Em 2018, Zema se elegeu na onda bolsonarista.
— Zema foi se afastando aos poucos. O eleitor não foi tomado de surpresa — diz o cientista político Cristiano Rodrigues, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Já Barbalho tem a maior aliança eleitoral do país, com 16 partidos, e vem mantendo neutralidade. Oficialmente, tem em seu palanque siglas de quatro presidenciáveis: Tebet, Lula, Ciro Gomes (PDT) e Soraya Thronicke (União). Também conta com dois dos principais partidos da chapa de Bolsonaro, PP e Republicanos. Segundo o Ipec, ele soma 65% dos votos.
Novo discurso
Outro caso emblemático é o de ACM Neto (União Brasil), na Bahia. O ex-prefeito de Salvador lidera a disputa com 49%, segundo o Datafolha, e enfrenta um candidato do PT, Jerônimo Rodrigues, e um do PL, o ex-ministro João Roma. ACM Neto construiu sua carreira política como oposição ao PT e chegou a declarar voto em Bolsonaro em 2018. Agora, na campanha ao governo, no entanto, baixou o tom nos discursos contra o PT e foge da polarização.
— Isso decorre da liderança de Lula na Bahia. ACM Neto entende que não dá para ser um candidato antipetista — diz Cláudio André de Souza, da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB).
No Piauí, a liderança é do ex-prefeito de Teresina Silvio Mendes (União). Apesar de ter o apoio do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP), ele tenta se descolar das associações com Bolsonaro. No estado, 55% reprovam a gestão do titular do Palácio do Planalto, segundo o Ipec. O cientista político Vitor Sandes, professor da Universidade Federal do Piauí (UFPI), explica que, pelo histórico de votação petista no estado, não é estratégica uma vinculação com o presidente Jair Bolsonaro:
— A gente tem uma votação lulista em votações presidenciais. Não é estratégico se vincular a uma candidatura mal avaliada (Bolsonaro). Tem uma memória do governo Lula que coincide com o governo Wellington. Há uma memória muito positiva desse período
Já no Rio Grande do Sul, o ex-governador Eduardo Leite (PSDB), eleito em 2018 na esteira do bolsonarismo, aparece à frente e agora aposta em uma campanha de terceira via. Tanto no estado quanto nacionalmente seu partido está aliado ao MDB de Tebet. Mas ele também recebeu no estado Soraya Thronicke.
Em Goiás, com 48% nas pesquisas, o governador Ronaldo Caiado (União) também se afastou de Bolsonaro, de que foi aliado de primeira hora. Descontente com a atuação do presidente durante a pandemia, ele chegou a anunciar a ruptura com o titular do Planalto. Agora, evita entrar em rota de colisão com Bolsonaro, temendo perder parte do eleitorado bolsonarista.