O ex-PM Capitão Wagner (União Brasil), candidato à Prefeitura de Fortaleza que ficou em quarto lugar no primeiro turno, afirmou nesta última sexta-feira (11) de acordo com Victoria Azevedo, da Folha de S. Paulo, que apoiará André Fernandes (PL) no segundo turno na capital cearense.
Presidente estadual do partido no Ceará, Wagner disse que esse é seu posicionamento pessoal, não da legenda. Ele disse que sempre se posicionou “contra o sistema” e, portanto, não apoiaria o PT.
“A nossa posição agora no segundo turno é votar André Fernandes”, afirmou em uma live nas redes sociais.
Ele também criticou o que seria uma “hegemonia” caso o PT ganhasse a prefeitura, já que o partido comanda o Governo do Ceará e a Presidência da República.
Wagner disse que ainda nesta sexta se reunirá com o candidato do PL para gravar vídeos para a campanha dele. O ex-PM afirmou também que Fernandes se comprometeu a incorporar a seu plano de governo propostas de sua campanha para temas como segurança pública e saúde mental. “Faremos tudo aquilo que a gente for demandado pelo André e pelo PL para evitar que o sistema ganhe.”
A declaração de apoio ao bolsonarista frustra as expectativas de integrantes do PT, que tentavam atrair o União Brasil para endossar o candidato Evandro Leitão (PT), que é apoiado por Lula (PT) na capital cearense.
O segundo turno em Fortaleza, quarta cidade mais populosa do Brasil e a maior do Nordeste, terá de um lado o candidato apoiado pelo presidente da República e de outro, o que tem chancela de Jair Bolsonaro (PL), em um reflexo da polarização nacional cujo resultado pode impactar a disputa de 2026.
No primeiro turno, André Fernandes (PL) terminou em primeiro lugar, com 40,2% dos votos, ante 34,3% de Leitão. Wagner ficou em quarto lugar na disputa, com 11,4% dos votos, e desde o domingo (6), vinha sendo cortejado pelos dois candidatos. No começo da semana, ele conversou com Leitão e Fernandes. Depois, viajou a Brasília, onde teve reuniões com integrantes de seu partido e com o candidato do PL.
Na quinta (10), o atual prefeito de Fortaleza, José Sarto (PDT), anunciou que se manterá neutro na disputa no segundo turno, num primeiro revés para a campanha petista. Sarto ficou em terceiro lugar, com 11,8% dos votos. Em publicação nas redes sociais, afirmou que se preocupa com os rumos da cidade, “diante das duas candidaturas” que seguem no pleito.
“Uma delas tenta implantar uma soberania nociva e a outra representa muitas incertezas. Diante disso, após conversar com as diversas forças que me apoiaram, anuncio que decidimos pela neutralidade. Desse modo, as nossas lideranças poderão livremente estabelecer diálogos para a construção de caminhos e propostas para a nossa cidade”, disse.
Logo após o resultado do primeiro turno, o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), afirmou à imprensa que atuaria para atrair tanto PDT quanto União Brasil à candidatura do petista. Naquele dia, disse que essa costura poderia envolver o cenário nacional, já que os dois partidos integram a base de apoio de Lula no Congresso.
O União Brasil tem três representantes na Esplanada: os ministros Celso Sabino (Turismo), Juscelino Filho (Comunicações) e Waldez Góes (Integração e do Desenvolvimento Regional), licenciado do PDT e indicado ao cargo pelo senador Davi Alcolumbre (União Brasil).
Segundo a Folha apurou, uma ala do União Brasil atuou para que Wagner apoiasse Leitão por avaliar, entre outras coisas, que isso representaria um gesto ao governo Lula que poderia ajudar o líder da legenda na Câmara, Elmar Nascimento (BA), na sucessão de Arthur Lira (PP-AL). Dirigentes do partido, no entanto, diziam que a palavra final seria de Wagner.
Na avaliação de aliados de Elmar, apesar de uma coisa não estar condicionada a outra, o apoio em Fortaleza seria mais um gesto para atrair o governo e o próprio PT para sua candidatura à presidência da Câmara, em 2025.
De um lado, o presidente do União Brasil, Antonio Rueda, Elmar e os deputados da bancada cearense Moses Rodrigues e Fernanda Pessoa defendiam uma aproximação de Wagner com Leitão. De outro, o deputado Danilo Forte, que foi coordenador da campanha do aliado em Fortaleza, articulou em prol de Fernandes.
Em seu pronunciamento nesta sexta, Capitão Wagner disse que demorou para anunciar sua decisão, que já estava tomada, porque gostaria de consultar lideranças nacionais de seu partido —”tinha que ter as garantias de que o meu partido não iria desfazer a minha decisão”, disse.
“O sistema achava que lá de Brasília iria me obrigar a votar no candidato dele aqui em Fortaleza. Vocês passaram quatro eleições tentando destruir a minha imagem. Agora vem com o ‘papozinho’ bacana de que eu sou importante para apoiar um projeto que tanto mal já fez ao país e ao estado do Ceará. Me desculpe, mas comigo não”, afirmou.
Integrantes da campanha do petista, por sua vez, minimizam o apoio, afirmando que os dois candidatos são da direita e já foram aliados no passado. Dessa forma, dizem que essa aliança era o caminho “normal”.
Apesar de considerar ter simbolismo o endosso do candidato ao petista, um interlocutor de Leitão diz que pesquisa Datafolha divulgada na quinta mostrou um cenário positivo para o petista —sem considerar eventuais apoios que ele receberia.
O levantamento mostrou que os dois candidatos aparecem tecnicamente empatados. O bolsonarista registrou 47% das intenções de voto, contra 45% do petista, com uma margem de erro de três pontos percentuais, para mais ou para menos.