Figuras nacionais e adversários em Alagoas, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o senador Renan Calheiros (MDB-AL) chegam à reta final da campanha no primeiro turno com focos distintos para manter a relevância e o poder em seus redutos eleitorais.
Aliado de Lira, João Henrique Caldas (PL), lidera com folga na capital, Maceió, vitrine e trampolim para o jogo de 2026, Já os nomes escolhidos por Renan e o governador Paulo Dantas (MDB) apostam nos principais municípios da região metropolitana.
No embate entre Renan e Lira, as duas principais lideranças da política alagoana, aliados avaliam que o senador tende a levar a melhor na maioria dos 102 municípios do estado, mas não deve conseguir vencer o grupo do presidente da Câmara na capital.
No município de Barra de São Miguel, onde o pai de Lira, Benedito de Lira, concorre à reeleição, Renan também não deve conseguir emplacar o seu candidato, apesar de manobras feitas para tirar o poder do adversário.
Atualmente, o MDB da família Calheiros controla 63 cidades alagoanas, enquanto o PP de Lira tem 27 prefeitos. Nas projeções feitas pelos emedebistas, a meta é chegar a até 80 prefeituras neste ano e Renan tem em cinco cidades da Região Metropolitana o seu principal foco: Arapiraca, Palmeira dos Índios, Porto Calvo, Coruripe e Delmiro Gouveia.
Com ampla vantagem nas pesquisas de intenção de voto, o prefeito JHC é o postulante à direita melhor posicionado nas capitais do Nordeste, enquanto Rafael Brito (MDB) recorre à vinculação com a família Calheiros e à figura de Lula em sua propaganda eleitoral para sair dos 4% registrados no último levantamento da Quaest.
O mote da campanha do emedebista gira em torno da possibilidade de integração entre os governos federal e estadual com a prefeitura, caso seja eleito. Mas Brito está bem distante do líder da disputa. Está empatado com o candidato do Solidariedade, o ex-deputado estadual e ex-vereador Lobão, que também registrou 4% na pesquisa. O candidato do MDB busca nacionalizar a campanha e questionar, além de JHC, figuras como o presidente da Câmara e Bolsonaro. Para isso, atraiu o PT para a sua chapa e, com isso, usa a imagem de Luiz Inácio Lula da Silva em peças publicitárias.
O grande fiador da candidatura de Brito e principal articulador da parceria com os petistas, o senador Renan Calheiros, porém, vem sendo escondido na propaganda eleitoral do emedebista, na qual apenas Dantas e Renan Filho têm espaço. A razão para não exibir o apoio do senador seria a rejeição ao nome dele na capital alagoana. Enquanto isso, Lula é citado até em jingle.
Tanto Lira quanto Renan têm o objetivo comum de ampliar o número de municípios alagoanos nas mãos de aliados, expandindo as bases eleitorais e já antecipando a campanha de 2026. A capital Maceió é considerada “estratégica” para os planos de ambos.
Mãe no Senado
Confiante na vitória, JHC se deu ao luxo de abrir mão de uma indicação de Arthur Lira para seu vice. De olho em 2026, quando pode se lançar ao governo, JHC escolheu o senador Rodrigo Cunha (Podemos) para ser seu companheiro de chapa, na expectativa de eventualmente deixar a prefeitura nas mãos do aliado. A manobra ainda pode levar Eudócia Caldas, mãe de JHC, ao Senado, já que ela é suplente de Rodrigo Cunha. Mesmo deixando Lira de lado na composição da chapa, JHC segue tendo o seu apoio.
Única capital nordestina onde Bolsonaro venceu na eleição de 2022, Maceió vê o ex-presidente se tornar coadjuvante na disputa pela prefeitura neste ano. Sem querer entrar no jogo de Rafael Brito, que busca a nacionalização da campanha com Lula na manga, JHC tem dito que o debate eleitoral é sobre a prefeitura e se recusa a falar sobre a polarização nacional, mesmo que para ressaltar o apoio do ex-titular do Planalto.
Pai no litoral
Lira também dedica atenção especial a Barra de São Miguel. O balneário tem 7.944 habitantes, segundo o IBGE, e é comandado pelo pai do deputado, o ex-senador Benedito Lira, que lidera com folga as pesquisas de intenção de votos. Apesar do tamanho do município, a conquista da prefeitura se tornou uma espécie de questão de honra para os dois lados: Calheiros filiou ao MDB o vice-prefeito, Floriano Melo, na tentativa de tirar o clã de Lira do poder local. Até o momento, a manobra de Calheiros não surtiu efeito e o pai de Lira venceria com facilidade no município que não tem segundo turno.
No último ano, a cidade contou com a atuação de Lira na Câmara: o parlamentar destinou R$ 500 mil à conta da prefeitura através de emendas PIX, que ele mesmo chegou a criticar em entrevista ao jornal O Globo.