Em entrevista nesta última segunda-feira (13), o presidente do Banco Central, o economista Roberto Campos Neto, afirmou que vai trabalhar com governo Lula e negou atuação política à frente da instituição.
Metas de inflação
Nesta semana, o Conselho Monetário Nacional (CMN) vai se reunir pela primeira vez durante o governo Lula. Cabe ao conselho, por exemplo, a definição da meta de inflação – tema que também tem sido alvo de críticas pelo presidente Lula.
Em entrevista à GloboNews em janeiro, Lula argumentou que o estabelecimento de uma meta em patamar mais baixo impede o crescimento da economia.
Diante desse cenário, existem rumores de que o CMN possa revisar as metas já estabelecidas.
- Em 2023, a meta central de inflação é de 3,25% e será oficialmente cumprida se oscilar entre 1,75% e 4,75%.
- Para 2024 e 2025, a meta foi fixada em 3% e será cumprida se ficar entre 1,5% e 4,5%.
Isso porque existe uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.
O CMN é composto por três integrantes:
- ministro da Fazenda, Fernando Haddad (que também presidente o conselho);
- ministra do Planejamento, Simone Tebet;
- presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
Embate Lula e Campos Neto
Nas últimas semanas, o presidente Lula fez reiteradas e duras críticas à atuação do Banco Central (BC) e ao presidente da instituição. Roberto Campos Neto foi indicado por Jair Bolsonaro (PL).
▶️ Taxa de juros: Lula demonstrou em entrevistas recentes insatisfação em relação à execução da política monetária atual, de responsabilidade do BC.
- Ele reclamou dos juros altos, atualmente a 13,75% ao ano, o maior patamar em seis anos.
“É uma vergonha esse aumento de juros e a explicação que eles deram para a sociedade brasileira”, disse Lula no dia 6 de fevereiro em um discurso durante um evento no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
No dia seguinte, voltou ao assunto em entrevista a veículos de mídia alternativa.
“Não é possível que a gente queira que este país volta a crescer com taxa de 13,75%. Nós não temos inflação de demanda. É só isso. É isso que eu acho que esse cidadão [Campos Neto], indicado pelo Senado, tenha possibilidade de maturar, de pensar e de saber como vai cuidar deste país. Ele tem muita responsabilidade”, afirmou.
Campos Neto, por outro lado, rebateu as críticas no dia seguinte em uma palestra nos Estados Unidos e destacou apenas que a autonomia do BC serve para separar as diretrizes monetárias da esfera política.
“A principal razão no caso da autonomia do Banco Central é desconectar o ciclo da política monetária do ciclo político porque eles têm planos e interesses diferentes. E quanto mais independente você for, mais eficaz você é e menos o país pagará em termos de custo de ineficiência na política monetária”, afirmou.
▶️ Atuação política: além das críticas às taxas de juros, existe ainda uma percepção entre integrantes do governo Lula de que o BC de Campos Neto age politicamente e não apenas de forma técnica.
Isso porque Campos Neto, ex-executivo do mercado financeiro, foi posto no cargo por Bolsonaro, após recomendação do ex-ministro da Economia Paulo Guedes.
Uma fotografia do jornal “Folha de S.Paulo” mostrou que ele fazia parte, pelo menos até 11 de janeiro deste ano, de um grupo de WhatsApp intitulado “Ministros Bolsonaro”.
▶️ Independência do BC: também no dia 6 de fevereiro, Lula classificou a autonomia do Banco Central como uma “bobagem”.
“O problema não é de banco independente, não é de banco ligado ao governo. Problema é que esse país tem uma cultura de viver com os juros altos”, afirmou. “Quando o Banco Central era dependente de mim, todo mundo reclamava. O único dia em que a Fiesp [federação da indústria paulista] falava era quando aumentava os juros. Era o único dia […]. Agora, eles não falam”, disse o presidente na segunda-feira.
- Uma lei sancionada por Bolsonaro em 2021 que estabeleceu a autonomia do BC. Por essa lei, o presidente e diretores têm mandatos fixos de quatro anos, não coincidentes com o do presidente da República. O de Campos Neto termina apenas no fim de 2024.
Após repercussões negativas, o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, disse que o governo não cogita alterar a lei que garantiu autonomia para o Banco Central, mas destacou que a autoridade monetária precisa cumprir os objetivos estabelecidos pela legislação.
“Não existe qualquer discussão dentro do governo sobre mudança da lei do Banco Central. Existe sim uma vontade de aquilo que está nos objetivos do Banco Central seja cada vez mais perseguido por todos.”
Nesta segunda, o Diretório Nacional do PT aprovou uma resolução para propor que Campos Neto explique no Congresso Nacional a política de juros da instituição.