Com a pandemia de Covid-19, a Justiça Eleitoral proibiu comícios e outras atividades presenciais dos candidatos em muitos municípios
Como o isolamento social é a regra e as aglomerações continuam não recomendadas por conta da pandemia do coronavírus, as campanhas para prefeito e vereador migraram com toda força para o ambiente virtual. Em muitos municípios, a Justiça Eleitoral proibiu comícios e outras atividades presenciais dos candidatos.
A resolução do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que disciplina a propaganda tem um capítulo dedicado à internet. No registro das candidaturas, quem pretende ser prefeito ou vereador teve de informar quais sites ou perfis usaria na campanha. A propaganda é permitida em blogs, redes sociais e aplicativos de mensagens, mas há uma série de restrições em relação a material pago e impulsionamento de conteúdo.
O cientista político Alessandro da Costa cita uma pesquisa, feita no início do ano pelo Comitê Gestor da Internet, mostrando que 74% da população com mais de 10 anos, cerca de 130 milhões de pessoas, têm acesso à rede mundial de computadores no País. Segundo ele, o uso da internet, que já foi forte nas eleições gerais de 2018, cresceu ainda mais em 2020 para tentar conquistar o eleitor a distância.
“Onde antes ele iria distribuir panfletos no centro da cidade, distribuir material de campanha, agora, com a internet e a possibilidade de impulsionamentos nas redes, ele vai atingir muito mais gente em muito menos tempo. De algumas eleições para cá, inclusive, os candidatos e partidos já perceberam que o investimento maciço deve ser em propaganda digital. ”
O deputado Kim Kataguiri (DEM-SP) foi eleito em 2018 com uma campanha eminentemente digital. Para ele, esse universo facilita que mais pessoas participem do debate político, que antes era mais elitizado, além de promover uma maior interação entre eleitor e candidato. Ele lembra que os políticos podem expor suas ideias com mais agilidade, mas também são mais cobrados pela população.
O parlamentar ainda aponta vantagem para candiatos novatos. “Amplia também o acesso para candidatos que não têm um histórico político, não têm o apoio de caciques partidários e estão disputando a eleição pela primeira vez.”
Segmentação
O cientista político Alessandro da Costa ressalta que as campanhas virtuais são mais baratas e mais eficientes. Ele destaca, por exemplo, o investimento do candidato no profissional ligado à tecnologia da informação, em vez de pagar cabos eleitorais para distribuir material impresso. Além disso, segundo ele, as ferramentas digitais permitem aos políticos segmentar a divulgação de suas ideias.
“Eu vou encaminhar de acordo com o perfil do eleitor uma propaganda que lhe interessa, porque ele é jovem. Já para aquele profissional com mais de 30 anos, que já tem uma atividade no mercado de trabalho já estabelecida, eu posso encaminhar uma outra forma de propaganda, uma propaganda mais para o perfil adulto, de pessoas que têm experiência. Eu posso colocar uma propaganda fragmentada para um grupo religioso.”
Apesar de todas as vantagens, o cientista político alerta para problemas advindos do uso massivo da internet nas campanhas eleitorais, como as Fake News, a adulteração de vídeos e a obtenção de dados sobre os eleitores de forma ilícita.