Segundo a colunista Malu Gaspar, do O Globo, está a cargo do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) o mapa dos votos que o presidente da República tem que buscar para superar Lula no segundo turno e se reeleger. O filho 01 do presidente começou a fazer as contas nesta terça-feira, em conversas com as equipes de governadores do Sudeste que declararam apoio público a Jair Bolsonaro.
Como o presidente saiu das urnas com 6 milhões de votos a menos do que Lula, é essa a meta de votos a serem conquistados. Mas a contabilidade dos operadores políticos é um pouco mais complexa e nada linear.
Envolve a diferença entre a quantidade de votos que o presidente teve em 2018 e agora, em 2022 (1,8 milhão), a diferença entre os votos que cada governador que o apoiou teve no domingo e os de Bolsonaro – e até o tradicional aumento na taxa de abstenção do primeiro turno para o segundo (de 20% para 26%).
Os assessores e governadores com quem Bolsonaro esteve na segunda-feira também levaram em consideração os mapas de votação locais.
Pelas estimativas dos interlocutores da campanha no Rio, em Minas Gerais e em São Paulo, os aliados Romeu Zema (Novo), Cláudio Castro (PL) e Rodrigo Garcia (PSDB) poderiam ajudar a conseguir para o presidente cerca de 3 milhões de votos entre eleitores de Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB) e até de Lula (PT).
Os outros 3 milhões que em tese ainda faltariam, o presidente teria segundo Malu Gaspar, que buscar em outras regiões, principalmente no Nordeste.
Zema, que teve 6 milhões de votos em Minas Gerais, contra 5,2 milhões de Bolsonaro, pretende buscar a diferença em redutos tradicionais da direita que, no primeiro turno, deram a vitória a Lula: no Triângulo Mineiro, em alguns municípios da zona oeste do estado e na Zona da Mata.
Estrategistas do governador mineiro consideram realista que haja um acréscimo de 600 mil votos para Bolsonaro no estado do primeiro para o segundo turno, mas a equipe do presidente quer tirar de lá cerca de 3 milhões.
É um número talvez ambicioso demais, uma vez que envolveria virar uma proporção considerável já entregues dados a Lula no primeiro turno.
Na própria segunda, o presidente marcou na agenda três compromissos em Minas Gerais até o final de semana do dia 15: uma reunião com governadores em Belo Horizonte, um culto na igreja da Lagoinha e uma reunião com prefeitos do estado.
Os prefeitos, aliás, são vistos como os principais cabos eleitorais de Bolsonaro nos estados. A campanha de Bolsonaro em São Paulo conta até mais com eles do que com o próprio Rodrigo Garcia, que teve 18% dos votos para o governo estadual.
Os primeiros prefeitos – como o tucano Duarte Nogueira, que governa Ribeirão Preto – já procuraram Tarcísio de Freitas diretamente. Nas palavras de uma liderança do Centrão, acreditam que o candidato de Bolsonaro tem mais chance de ganhar e vêm se aproximando pela perspectiva de poder.
Em São Paulo, onde o presidente já saiu do primeiro turno em vantagem sobre Lula, com 47% contra 40% do petista, os bolsonaristas querem conseguir ao menos 2 milhões de votos, reforçando a carga no interior.
Além de circular pelo estado com o presidente a tiracolo, Tarcísio vai aproveitar o horário eleitoral na TV para carregar os ataques ao PT, com o objetivo de minar ao mesmo tempo Lula e o adversário Fernando Haddad.
“Vamos reforçar os ataques para lembrar para uma audiência importante, que era jovem durante os governos petistas, das mazelas e dos escândalos do PT”, explica um estrategista do candidato do Republicanos.
Já no Rio a programação de Bolsonaro prevê três comícios até o final da campanha. Os locais já foram escolhidos: São Gonçalo, Baixada Fluminense e Zona Oeste da capital.
O presidente da República também já teve uma votação alta no estado, de 51%, mas quer acrescentar mais 1 milhão de votos ao resultado do primeiro turno. Nas internas, a equipe de Cláudio Castro trabalha com um número bem mais conservador, de cerca de 300 mil.
No Nordeste, como informou o colunista Lauro Jardim, os bolsonaristas pretendem contar com uma força-tarefa de pastores para reforçar o apelo em nome do presidente nos cultos.
E embora não digam publicamente, contam também com o aumento das taxas de abstenção na região.
Uma das razões é que muitos candidatos a deputado e senador que já se elegeram e que costumam transportar eleitores de baixa renda não devem mais fornecer o serviço
Por fim, a conta dos bolsonaristas também inclui uma variável inusitada e sobre a qual ainda não se tem muita certeza de que de fato vá fazer diferença: o fator Moro. Aliados do presidente acreditam que muitos entusiastas da candidatura do ex-juiz Sérgio Moro à presidência, que não vingou, podem ter votado em branco ou nulo neste primeiro turno. Agora, com a declaração de apoio de Moro, poderiam se sentir inclinados a dar uma nova chance a Bolsonaro contra Lula.
Como se vê, ainda faltam milhões de votos aos bolsonaristas, mas táticas, mapas e cálculos eles já tem de sobra.