“A decisão sobre a realização ou não do Carnaval 2022 está nas mãos do prefeito e do governador”, afirmou ontem a Comissão Especial de Acompanhamento da Retomada dos Eventos da Câmara Municipal de Salvador. A comissão havia pressionado os chefes do executivo municipal e estadual para que definissem a situação da festa até o último dia 15, mas agora amenizou o tom anterior, de ultimato. Faltando 98 dias para o Carnaval, o presidente da comissão, o vereador Cláudio Tinoco (DEM), disse no jornal Correio, que caberá a Bruno Reis e a Rui Costa garantirem a viabilidade do evento.
“A gente mantém uma posição de que o prazo de 15 de novembro, a 100 dias do Carnaval, era razoável para que esse evento, se confirmado, pudesse ser realizado com as condições adequadas, regulares, tanto do ponto de vista das providências administrativas, como do ponto de vista operacional. Por outro lado, o governador e o prefeito manifestaram que a decisão será tomada em momento oportuno. Cabe a eles a viabilidade ou não”, explicou Cláudio Tinoco.
Anteriormente, o vereador chegou a afirmar que, caso a decisão não fosse tomada até o dia 15 de novembro, isso significaria o cancelamento do Carnaval. Com o prazo não sendo considerado pelos chefes do executivo, a comissão decidiu mudar de estratégia.
“O que nós passaremos a contribuir agora não é mais com a definição de prazo, até porque a responsabilidade hoje está inteiramente nas mãos do prefeito e governador”, acrescentou Tinoco.
Ele conversou com a reportagem assim que acabou a reunião virtual da comissão, realizada na manhã desta quarta-feira (17). Os vereadores discutiram sobre a recomendação, por parte do Conselho Estadual de Saúde da Bahia, para os gestores levarem em conta, ao definir a realização do Carnaval, diversos dados como a média móvel de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) e de Covid-19; percentual de testes positivos; taxa de transmissão da doença e cobertura vacinal.
A estratégia do conselho será conhecer e monitorar esses dados para “contribuir para a definição, ou melhor, para as informações que levarão a essa decisão por parte do governador e prefeito”, como disse Tinoco. “Precisa ser comunicado por parte da Secretaria Estadual da Saúde da Bahia (Sesab) e do governo do Estado se os parâmetros indicados serão obedecidos ou se eles rejeitarão as recomendações”, completou.
Para isso, conforme o jornal Correio, a comissão notificou as secretarias de saúde da Bahia e de Salvador (SMS) para que forneçam diversos dados relacionados a pandemia. As pastas também foram convidadas a apresentar esses números na terceira audiência pública que vai debater a realização do Carnaval, marcada para a terça-feira (23). Desta vez, o enfoque será na saúde, com a presença de especialistas que abordem a condição sanitária da cidade.
Audiência
A audiência será realizada no formato semipresencial, às 9h, no Centro de Cultura da Câmara e transmitida ao vivo através da TV Câmara. Interessados em participar presencialmente ou de forma online devem enviar e-mail para claudiotinoco@cms.ba.gov.br. Os presidentes dos conselhos de Saúde Estadual, Marcos Sampaio, e Municipal, Everaldo Braga, também foram convidados para a reunião, assim como a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e especialistas de saúde.
Presidente do Conselho Municipal do Carnaval (Comcar), Flavio Emanoel disse que ainda não estava ciente da audiência, mas que, provavelmente, iria participar. Ele defende o anúncio imediato da realização do carnaval.
“Se a prefeitura e o governo estão planejados, com dinheiro em caixa, é fácil anunciar faltando pouco tempo para a data. Mas desse jeito não vai ter turista, não vai ter bloco, não vai ter a receita que é gerada com o evento, pois o setor privado não vai ter tempo hábil para se planejar, argumenta.
Já Paulo Leal, presidente da Associação Baiana de Trios Independentes (ABTI), espera que a audiência seja mais um movimento público em favor do Carnaval de 2022. “Nós estamos mobilizados. Inclusive, neste domingo (21), vamos fazer manifestação no Farol da Barra em defesa da vacina e do Carnaval. Temos que defender nossa vida e nosso trabalho. Assim como a vacina é necessária, o carnaval também é”, argumenta.
A expectativa é que o protesto tenha a presença de seis trio elétricos e de um público de cerca de mil pessoas. “Nós não queremos uma festa fora da norma, com desrespeito. Queremos que se anuncie o Carnaval, mesmo que seja necessário adiar caso haja algum descontrole”, pede Leal.
A prefeitura de Salvador foi procurada e disse não haver nenhuma novidade sobre o assunto no momento. Já o governo do estado disse que as recomendações do Conselho Estadual de Saúde são pertinentes, mas qualquer posicionamento relacionado à realização do Carnaval depende, antes de mais nada, de uma definição sobre a realização da festa, o que ainda não há.
A Sesab informou que recebeu o convite para participar da audiência pública e está verificando qual gestor poderá estar presente. A Secretaria Municipal de Saúde de Salvador (SMS) e a Associação de Blocos de Trio não responderam até o fechamento deste texto.
Comissão quer protocolos para eventos fechados durante carnaval
A Comissão de Eventos da Câmara quer a definição de um protocolo e parâmetros para a realização de eventos fechados durante o Verão e no próprio Carnaval. Isso vai ser importante, diz o vereador Cláudio Tinoco, caso a decisão do governo estadual e da prefeitura seja no sentido da não realização do Carnaval de rua.
“Vamos abrir essa discussão lembrando que eventos culturais e artísticos já estão autorizados a acontecer em Salvador com protocolos, mas hoje são limitados em 3 mil pessoas, o que inviabiliza eventos no Réveillon, outras festas de verão e, sobretudo, eventos no carnaval”, aponta o vereador, que reforça ter como prioridade da comissão a obtenção da decisão de que vai ter ou não o Carnaval nos seus moldes tradicionais.
“A comissão mantém a posição de recomendar que seja tomada a decisão a respeito da realização do Carnaval original, tradicional, como sempre aconteceu na cidade. Isso está evoluindo inclusive com a perspectiva de colhermos informações e experiências de outras cidades que já estão avançadas nessa definição, como São Paulo”, acrescenta.
A comissão da Câmara para discutir a retomada dos eventos em Salvador é composta pelos vereadores Claudio Tinoco (presidente), Anderson Ninho (vice-presidente), André Fraga, Cris Correia, Daniel Alves, Leandro Guerrilha, Marta Rodrigues, Ricardo Almeida e Sílvio Humberto.