A Câmara de Salvador debateu, nesta última quinta-feira (15), em audiência pública, a alta dos preços dos combustíveis e do gás de cozinha, além dos graves impactos sociais decorrentes dos aumentos, entre eles a possibilidade de o país voltar ao Mapa da Fome com o aumento do preço dos alimentos, o encarecimento de produtos, o retorno do uso de fogão a lenha e a dificuldade em movimentar a economia brasileira para o desenvolvimento social.
Os participantes, entre especialistas e movimentos sociais, foram categóricos em afirmar que a tentativa de privatização das estatais brasileiras, entre elas a Petrobras, tem desestabilizado a política de preços e a economia brasileira, aumentando a pobreza no país. A audiência foi solicitada pela vereadora Marta Rodrigues (PT), com o Movimento Bahia Contra as Privatizações, que reúne entidades, sindicatos e associações para se opor à privatização das estatais brasileiras.
Fizeram parte da mesa de trabalho a supervisora do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos, Ana Georgina Dias; o ex-diretor de Exploração e Produção da Petrobras, Guilherme Estrella; o secretário-geral da Federação Nacional de Petroleiros (FNP), Adaedson Costa; o diretor da Federação Única dos Petroleiros (FNP), Radiovaldo Costa; e os representantes do Movimento Bahia Contra as Privatizações, Marcos André dos Santos (presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobras – AEPET-BA) e Orlando dos Santos (Sindae-BA).
Segundo a supervisora do Dieese na Bahia, Ana Georgina, o reflexo da condução política que tem sido dada às estatais brasileiras tem sido enorme na vida do trabalhador.
“Traz consequências graves para o povo como um todo, mas sobretudo para a população de menor renda. Dados mais recentes do IBGE da Bahia, no ano de 2019, apontavam 40,4% da população abaixo da linha da pobreza e 12,3% da população abaixo da linha da extrema pobreza. A pandemia impactou mais ainda e todos esses movimentos que vemos no preço do petróleo no mercado internacional, temos um efeito duplicado, uma alta inflação. O aumento do botijão, só este ano, foi de 11,75%. Isso é extremamente perverso, se a gente pensa no poder aquisitivo da população”, destacou Georgina.
Privatização
Guilherme Estrella, ex-diretor de Exploração e Produção da Petrobras, explicou que o processo de privatização começou com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, mas foi interrompido com a chegada do governo Lula.
“O processo foi interrompido e o Brasil deu um salto de desenvolvimento importante na cena geopolítica mundial. Isso incomodou o grande poder, que está também no exterior. Todo este processo de golpe que vivemos foi preparado fora do Brasil, interferência direta do governo norte-americano. E agora, o atual governo está implantando a política que é a de desnacionalização absoluta da economia”, disse Guilherme.
O presidente da Aepet-BA, Marcos André, afirmou que o trabalhador brasileiro será o que mais sofrerá os impactos no bolso com as privatizações das estatais, começando pela dificuldade em acesso a direitos básicos como o gás, o combustível, a água e a luz, que estão diretamente ligados ao desenvolvimento social do país.
“Sofremos uma desindustrialização por conta dos malefícios da privatização na década de 90, e não podemos permitir que a sociedade fique ainda pior. É preciso que tenhamos o compromisso um pouco do nosso tempo para melhorar esta realidade. Nossas estatais têm um papel fundamental na disseminação dos direitos básicos. No caso do aumento dos combustíveis, o país precisa importar muito pouco. O preço da paridade internacional não se justifica, se produzirmos e refinamos o nosso petróleo deixaremos de importar para exportar derivados de petróleo gerando industrialização, emprego e desenvolvimento. Se tudo isso tivesse uma condução responsável, técnica e social, os preços dos derivados de petróleo seriam muito menores. Está política de preços é ruim para a sociedade, para o Brasil e para a Petrobras”, destacou André.
Radiovaldo Costa, secretário-geral da FNP, reforçou o saque pelo qual a Petrobras está passando: “Precisamos nos indignar, porque sabemos do potencial da capacidade dessa empresa de ajudar o país, gerar emprego, tornar o país maior e mais forte. Se não fosse a Petrobras, seríamos muito pobres do que já somos”.
“Precisamos manter a Petrobras, ter preços justos e acessíveis, mas buscar uma forma de conseguir chegar no brasileiro, este que está passando fome. Os desafios são enormes para os brasileiros entenderem a importância da coletividade. Precisamos continuar com a formação do senso crítico do trabalhador, discutir na base. Ainda que pesquisas apontem que 95% da população é contra a privatização da Petrobras, precisamos chegar ao máximo”, acrescentou Adaedson, também da FNP.
Diretor de formação do Sindae, Orlando também destacou que a precarização dos serviços públicos tem o objetivo de jogar as instituições contra a população. “Só vamos vencer a desestruturação do nosso país se dermos as mãos, se os movimentos se unirem”, declarou.
Fome
A coordenadora da União Por Moradia na Bahia, Marli Carrara, disse que a tentativa da privatização é formulada por políticos e grupos econômicos que não tem compromisso social e democrático com o povo pobre, trazendo um retrato real do que está acontecendo no Brasil. Para ela, se faz urgente retomar na juventude brasileira e militante a consciência da luta de classes e a importância das estatais.
“Só quem vive a pobreza sabe a dor que é, principalmente nesse momento, onde também estamos vivenciando a morte de pessoas queridas por causa dessa pandemia. O básico, que precisamos para nos alimentar, está caro. A farinha, o óleo, o gás, há um grande desafio para não retornarmos ao Mapa da Fome. Acho que essa não foi mais uma audiência, porque tocou a gente em muitos aspectos, mas não estamos nesse desafio de hoje”, disse.
Também participaram da audiência: Diulice Vitório (integrante da Conen), José Benedito da Silva (representante da Federação dos Associações dos Bairros de Salvador – FABS), Juan Gonçalves, (do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras por Direitos – MTD), Carlos Magno (do Sinasefe-BA), Paulo Brandão (da Federação Nacional dos Aposentados e Pensionistas Anistiados da Petrobras e Eletrobras – Fenaspe), dentre outros.