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segunda-feira 17 de maio de 2021 às 09:23h

Caciques ‘esquecidos’ voltam ao centro do debate político

NOTÍCIAS, POLÍTICA


Longe dos holofotes nos últimos anos, os senadores Renan Calheiros (MDB), Tasso Jereissati (PSDB) e o deputado Aécio Neves (PSDB) voltaram conforme matéria do jornal Estado de Minas a buscar espaços de destaque nos primeiros meses de 2021.

No passado, os três parlamentares eram caciques em suas legendas e participavam das principais decisões na política nacional. Por diferentes motivos, eles passaram os últimos anos nas sombras.

Agora, estão de volta e buscam reassumir o protagonismo perdido. Renan conseguiu (a duras penas) papel de destaque na CPI da Covid. Tasso é pré-candidato à presidência da República. E Aécio assumiu o comando da Comissão de Assuntos Exteriores da Câmara.

Em seu quarto mandato no Senado, aos 65 anos, Renan não esconde a satisfação de estar de volta ao protagonismo político, depois de amarga derrota no início de 2019 ao tentar assumir pela quarta vez a presidência da Casa.

Em fevereiro daquele ano, a base aliada do Palácio do Planalto articulou contra o emedebista e garantiu votos suficientes para a eleição de Davi Alcolumbre (DEM).

A sessão foi polêmica, com debates acalorados e disputas judiciais sobre a votação aberta. Irritado com a derrota, Renan foi à tribuna e reclamou em meio às vaias dos colegas: “Estamos vivendo um constrangimento. Esse processo não é democrático. O Davi não é o Davi, é o Golias. Retiro minha candidatura. Eles querem ganhar de qualquer jeito, isso não pode acontecer. Vou ficar aqui no Senado e o Brasil é testemunha do que está acontecendo nesta Casa”, disse na ocasião.

O então ministro da Casa Civil Onyx Lorenzoni tripudiou dias depois, dizendo que “a derrota de Renan vai fazer bem para o país”.

Mesmo alvo de investigações e dezenas de denúncias de corrupção desde os anos 2000, Renan conseguiu se eleger três vezes para a presidência do Senado e sempre esteve entre as lideranças do parlamento. Nos últimos dois anos, no entanto, ficou apagado.

O retorno veio com a CPI da Covid, em que ele assumiu a relatoria. A base governista tentou tirar Renan do cargo, citando suposto conflito de interesse por ser o senador pai do governador do Alagoas, Renan Calheiros Filho. A tentativa fracassou.

‘Biden brasileiro’

A mesma CPI da Covid será palco para outro político que voltou a ganhar os holofotes após prometer deixar a vida pública. Em 2010, o senador cearense Tasso Jereissati (PSDB) chegou a dizer que não disputaria mais cargos públicos. “Vou cuidar dos meus netos, levar uma vida tranquila”, afirmou depois de perder a eleição para uma cadeira no Senado.

Uma década depois, o tucano surge não só como um dos mais ativos na comissão que investiga as falhas do governo no combate à pandemia, mas também como pré-candidato do partido à presidência da República em 2022.

Aos 72 anos, ele já governou o Ceará por três vezes e presidiu o PSDB, e passou a defender a articulação entre os partidos do centro para evitar uma polarização na eleição de 2022, entre Bolsonaro e Lula.

“Se meu nome servir para unir, em algum momento, vamos trabalhar nessa direção”, afirmou. No partido, Tasso surgiu como opção às candidaturas dos governadores João Doria (São Paulo) e Eduardo Leite (Rio Grande do Sul). Citado como um “Biden brasileiro” – referência ao presidente dos EUA, Joe Biden, político experiente que foi eleito com um discurso mais moderado –, ele gostou da comparação. “Vejo nele um cara que está mudando a história do mundo”, disse.

“Fracasso da nova política”

Para o cientista político da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Carlos Ranulfo, a volta de nomes tradicionais da política às posições de destaque apontam para a derrocada de um discurso que ganhou força em 2018, que tentou classificar a “velha política como política do mal”.

“A experiência é muito importante na política. Países com democracia consolidada valorizam essa experiência. Políticos experientes conseguem lidar com conflitos, divergências, buscam negociar soluções. Houve uma certa febre do ‘novo’. Diria que agora está sendo a vingança da ‘velha política’, como foi chamada por muitos”, avalia Ranulfo.

O professor da federal mineira lembra que vários políticos que assumiram o poder com um discurso crítico à política tradicional e prometeram grande renovação na forma de governar acabaram repetindo os problemas, “ou sendo ainda piores no comando de seus Estados”.

“O Wilson Witzel (ex-governador do Rio) era o suprassumo da ‘nova política’. O governador do Amazonas (Wilson Lima) também era ‘novo’ e está sendo investigado por desvios de recursos do combate à pandemia. O governador de Santa Catarina (Carlos Moisés) a mesma coisa, está enfrentando o impeachment. Muitos entraram prometendo que iriam mudar tudo, mas não fizeram nada diferente, ou fizeram até pior”, avalia Carlos Ranulfo.

Ex-governador de Minas

Outro político que voltou a assumir cargo de destaque este ano foi o deputado federal Aécio Neves. O ex-governador de Minas no período de 2003 e 2010 foi escolhido em março para comandar a Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara. Ele recebeu 25 votos dos colegas da comissão e seis deputados votaram em branco.

“A comissão trata das questões mais relevantes e de maior interesse para a população brasileira. Em especial nesse momento que ela tem atuado de forma intensa na busca por ampliação das oportunidades de compra de vacinas, insumos e medicamentos”, avaliou Aécio. No mês passado, a comissão ouviu o presidente da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom, para discutir a distribuição de vacinas. </CW>

Em 2014, Aécio Neves recebeu mais de 51 milhões de votos no segundo turno e foi derrotado pela ex-presidente Dilma Rousseff (PT), reeleita com 54 milhões de votos. O tucano se tornou um dos principais articuladores da oposição ao governo petista e participou do processo de impeachment, em 2016.

O parlamentar se tornou alvo da operação Lava Jato, após ser citado em delações premiadas. Em 2017, Joesley Batista divulgou gravações em que Aécio pede R$ 2 milhões ao empresário.

O Ministério Público pediu a prisão do tucano, mas o pedido não foi aceito. Ele chegou a ser afastado de seu mandato no Senado por decisão do STF e, em 2018, disputou uma cadeira na Câmara, sendo eleito com 106 mil votos.

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