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quinta-feira 21 de janeiro de 2021 às 17:29h

Butantan diz não garantir eficácia da Coronavac se segunda dose for adiada

CURIOSIDADES, NOTÍCIAS


O Instituto Butantan informou hoje que não endossa a proposta de adiar a segunda dose de aplicação da vacina Coronavac para ampliar o número de pacientes vacinados.

A sugestão, que foi mencionada nesta quinta-feira (21) pelo secretário municipal de saúde do Rio, Daniel Soranz, não está segundo o jornal O Globo, de acordo com o que os desenvolvedores da vacina recomendam, informou hoje o Butantan por meio de sua assessoria de imprensa.

Segundo o Instituto, o estudo clínico da vacina foi projetado para avaliar a eficácia do produto com duas aplicações num intervalo de 14 a 28 dias, e não é possível tirar conclusão sobre a resposta imune de pacientes que passem um período muito mais longo entre as duas doses.

A Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), afirmou hoje também que não recomenda a prática do adiamento da segunda dose da Coronavac. A eficácia geral da vacina contra adoecimento foi de 50,4% e a proteção contra casos graves foi de 78%, mas só dentro do regime de duas doses.

— Não há dados científicos que sustentem uma decisão de dar a segunda dose da CoronaVac num intervalo diferente daquele entre duas e quatro semanas — disse ao Globo o diretor da entidade, Renato Kfouri, que analisou os dados da pesquisa

— Os estudos de fase 2 mostraram uma pequena vantagem em dar na quarta semana após a primeira, mas são estudos menores. E os estudos de fase 3, de eficácia, foram realizados no prazo de 14 dias. Então, não existe base para nada diferente disso — afirmou.

Soranz disse hoje que “há uma discussão científica” sobre a possibilidade de manipular a estratégia de dosagem da vacinação, mas esta vem ocorrendo mais com outras vacinas que não a Coronavac.

A maioria das vacinas de Covid-19 que estão em fase 3 de pesquisa são projetadas para regime de duas doses. Diante da falta de imunizante para vacinar grandes população, outros países já começaram a discutir a estratégia de adiar a segunda dose, o que permitiria cobrir um público maior com a primeira.

Tiro no pé

Saber se a tática do adiamento surte efeito, porém, requer estudos específicos, que já começaram a ser feitos para algumas vacinas de Covid-19, afirma o Instituto de Vacinas Sabin, de Washington (EUA).

— Até a gente ter esses resultados, fazer isso pode ser um tiro no pé — afirma a cientista brasileira Denise Garrett, vice-presidente do instituto.

— Não dá para tentar isso com qualquer vacina. É um jogo muito arriscado, e isso nunca seria considerado se a gente nae estivesse numa situação tão crítica — completa a médica.

Segundo Denise, um outro risco associado a estender o período para aplicação da segunda dose é o de dar espaço para vírus sofrer mais mutações e adquirir características de resistência, ao sobreviver à seleção natural de uma imunidade parcial.

Experiência israelense

O Reino Unido, que começou sua campanha de imunização contra a Covid-19 usando o imunizante da Pfizer, que teve eficácia acima de 95% para o regime de duas doses. A eficácia da dose única no Reino Unido, porém, ainda é mal conhecida.

Em Israel, que já vacinou uma parcela grande da população com a primeira dose da Pfizer, a estratégia não parece estar dando certo. A Pfizer havia estimado que a dose única poderia atingir 52% de eficácia, mas na prática o resultado foi outro.

“É menos eficaz do que imaginamos”, afirmou Nachman Ash, chefe do programa de combate à Covid-19 do país, em entrevista à rádio do Exército Israelense reproduzida por outros veículos de imprensa. Segundo o médico, o país tem registrado vários casos de infecção entre indivíduos que receberam a segunda dose.

Vacina de Oxford

A estratégia de adiamento foi defendida também pelos desenvolvedores da vacina da Universidade de Oxford, criada em parceria com a AstraZeneca.

Sue Ann Costa Clemens, cientista que coordena os ensaios clínicos no Brasil, afirma que dados ainda não publicados sobre o trabalho indicam que a vacina de Oxfor teria 70% de eficácia já na primeira dose.

Ela defende que a segunda dose poderia ser aplicada depois de três meses, dando mais tempo ao governo brasileiro para tentar atingir uma cobertura de imunidade maior.

Como a Fiocruz ainda não consegue começar a produzir doses por falta do insumo farmacêutico ativo que deve vir da China, seria possível vacinar agora 2 milhões de brasileiros com as doses prontas da vacina de Oxford que devem chegar da Índia na sexta-feira.

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