O presidente do PSDB, Bruno Araújo, afirmou em entrevista ao jornal O Globo, que o partido “renasceu das cinzas” no segundo turno da eleição ao eleger governadores de três estados (Rio Grande do Sul, Pernambuco e Mato Grosso do Sul) — na Câmara, porém, a sigla viu a bancada encolher de 32 em 2018 para 13 deputados em 2022. Após três anos e meio no comando do partido, Araújo prepara sua sucessão e defende o protagonismo do governador reeleito do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, na reconstrução da sigla. Araújo convidou o gaúcho para presidir a legenda na próxima legislatura e o considera o nome natural para a disputa presidencial de 2026.
Sobre a eventual participação dos tucanos no governo do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, o dirigente tucano diz que “não vê essa possibilidade” e entende que a legenda deve assumir uma postura de “oposição responsável”, assim como disse Leite ao GLOBO em entrevista na terça-feira.
Araújo também é favorável à sigla formar uma federação com o MDB e Podemos — as conversas estão em andamento. Para ele, a união, que ajudaria a fortalecer a atuação num momento em que PL e PT fizeram as maiores bancadas, permite que seja preservado um grau de autonomia, ainda que emedebistas embarquem no governo.
Após perder o governo de São Paulo na eleição deste ano e ver encolher sua bancada no Congresso, tucanos históricos e opositores têm dito que o PSDB “acabou”. Como o senhor responde?
O resultado do primeiro turno levava a uma leitura próxima a isso. O PSDB teve um desempenho que nos causou um grande dano. Mas o resultado do segundo turno demonstra que ressurgiu das cinzas um PSDB com um conjunto de lideranças nos governos estaduais como Eduardo Leite (RS), Eduardo Riedel (MS) e Raquel Lyra (PE) que vão nos conduzir ao futuro. Portanto, acho que, mesmo com as dificuldades ao longo dos últimos anos, o partido saiu das urnas fortalecido. O que vamos ter de novo é que o conjunto dessas forças hoje, num primeiro momento, vai estar fora de São Paulo, que historicamente era o nosso eixo. Não só com eleição de três governadores, mas com quadros mais modernos da vida pública nacional. Inclusive um deles que nós advogamos que possa ser um timoneiro na condução eventualmente até da minha sucessão, que é o governador Eduardo Leite.
O senhor defende então que Leite assuma o comando do partido já de olho nas eleições de 2026?
Eu tenho conversado com todas as lideranças no Brasil inteiro e há uma compreensão com certa naturalidade de Eduardo Leite assumir esse protagonismo. Isso vai ser objeto de reflexão dele (Leite) e do partido. A prévia presidencial do ano passado (quando Leite foi derrotado por João Doria) teve a força de mostrar ao Brasil a sua qualidade e acho que isso vai se consolidar e se fortalecer em seu segundo mandato como o primeiro governador reeleito na História do Rio Grande do Sul. Mas se ele avaliar que deve assumir o comando do PSDB, terá um apoiamento muito forte de todos os que fazem o partido. Claro que há um longo caminho pela frente, mas ele é o candidato natural à Presidência em 2026. No entanto, agora é o momento de respeitar o foco que ele precisa ter em seu estado.
Qual vai ser a postura do PSDB no governo Lula?
O PSDB sempre assumiu uma postura de oposição responsável nas eleições em que foi derrotado e que tinha protagonismo nas disputas com o PT. Oposição à irresponsabilidade fiscal e a discursos de controle da mídia. E sempre foi favorável e votou matérias que eram bandeiras históricas do partido, como temas relacionados à eficiência do Estado. A partir de agora, vamos ouvir os governadores eleitos, a nova bancada, a executiva e veremos qual o posicionamento nessa nova realidade
Tem alguma possibilidade de o partido participar do governo do PT?
Conhecendo as características do partido, não vejo essa possibilidade (de participar do governo). Mas essa discussão ainda vai se dar no partido tendo como centro os governadores eleitos e a bancada federal.
Embora tucanos históricos tenham defendido voto em Lula, lideranças atuantes na vida partidária avaliam que é preciso se reconectar com o antipetismo para sobreviver. O senhor concorda?
É claro que há um eleitor histórico do PSDB que majoritariamente buscou um outro caminho. Mas isso é fruto da discussão do partido nas próximas semanas. Sempre que o governo tiver pautas de modernização do estado e redução de desigualdades sociais vai ter o apoio do PSDB. Tanto Eduardo, quanto essa renovação de conjunto de lideranças, nos dá a esperança que podemos nos reconectar no médio e longo prazo com esse eleitor.
Até pouco tempo, o partido estava dividido entre São Paulo, representado por João Doria, e Aécio Neves, principal de liderança de Minas Gerais. A saída de Doria ajuda a pacificar a sigla?
O PSDB tem algo maior: a compreensão de que, apesar de todas as dificuldades e da nossa redução no Congresso, o que nos une é uma compreensão de que vivemos num país com grandes diferenças regionais, com desigualdade de renda e entendemos que a modernidade do Estado, sem tirar o olho para o combate a essa grande desigualdade, é o centro da nossa unidade. Isso equivale muito menos a projetos cobre nomes, mas em torno de ideias que nos unem e que são representadas por esses governadores que nos enchem de esperança.
Aécio está isolado no PSDB hoje? O deputado bancou a candidatura de Marcus Pestana, que é um quadro histórico, mas ele teve pouco mais de 59 mil votos, ficou em quarto lugar, com 0,56% do total, a pior colocação do partido na história em Minas Gerais.
Aécio tem uma importância para o partido e que vai continuar colaborando para a história do PSDB. Mas deve haver uma compreensão que temos novos líderes modernos para nos guiar com uma compreensão clara do que a sociedade precisa. Eduardo Leite, Eduardo Riedel e Raquel Lyra terão um papel fundamental para esse futuro do partido.
O senhor é a favor da adesão do MDB e Podemos à federação PSDB-Cidadania?
Ao mesmo tempo em que conversamos sobre a possibilidade de Leite assumir o nosso processo de sucessão, estão em curso as conversas no sentido de avaliar a possiblidade da adesão à federação PSDB-Cidadania de partidos como MDB e Podemos. Se avançar, essa federação poderia ter um papel de independência ao governo federal, mas os partidos teriam absoluta autonomia em relação ao seu posicionamento político.
O senhor avalia que essa federação poderia se viabilizar já para a próxima legislatura? Os partidos estipularam um prazo?
Tem dois prazos. Ou as bancadas entendem que isso é importante já para ocupação das mesas e comissões e precisa acontecer até 31 de janeiro de 2023, para ter efeito no início da legislatura. Ou, isso se dá de acordo com a discussão dentro das bancadas e da Executiva Nacional em um outro momento. O fato é que, se houver uma adesão de novos partidos, a federação (PSDB-Cidadania) fica valendo já para as próximas eleições municipais.
O PSDB quebrou a hegemonia do PSB de 16 anos em Pernambuco. O que pode se esperar desse governo? O senhor vai participar desse governo?
O Brasil vai se surpreender com a qualidade política, de empenho e de modernidade do trabalho de Raquel Lyra. Ela é o que temos de melhor na presença da mulher brasileira na vida pública. Tenho certeza que o Brasil ainda vai ouvir muito falar de Raquel. Isso me motiva e me faz voltar a ter esperança por entender que voltamos a ter quadros de qualidade para liderar não só o meu estado, mas o Brasil do futuro. O meu papel de contribuição será apenas como cidadão, sem qualquer pretensão de ocupar qualquer cargo público.
Como o senhor vê os bloqueios de bolsonaristas em rodovias e manifestações pedindo intervenção federal contra o resultado legítimo das eleições?
Eu prefiro comemorar a força das instituições democráticas e maturidade do eleitor, que no dia seguinte seguiu com sua vida no curso normal. E com o reconhecimento do resultado dos partidos políticos, das instituições e das mais diversas nações democráticas pelo mundo afora.