Daniel García Carrera, ex-marido do galerista americano Brent Sikkema, assassinado em janeiro deste ano, foi preso nos Estados Unidos por fraude no passaporte. Carrera foi apontado por Alejandro Triana Prevez, assassino confesso do americano, como o mandante do crime. Ele poderá ser solto após de pagamento de fiança. Caso seja, deverá usar tornozeleira eletrônica.
Daniel Sikkema é alvo de um mandado da Interpol pelo assassinato de seu marido separado, o proprietário da galeria de arte Brent Sikkema, no Brasil. Em 20 de março, Daniel foi trazido pelos US Marshals para o Tribunal Distrital dos Estados Unidos para o Tribunal de Magistrados do Distrito Sul de Nova York, com detenção solicitada por fraude de passaporte. O Inner City Press era o único veículo de imprensa presente e twittou ao vivo: “Daniel Sikkema está aqui, suspeito de matar seu marido no Brasil – mas acusado de fraude de passaporte. Os EUA dizem que se ele for solto sob fiança, ele fugirá.”
Ex-marido removido do testamento
Durante o processo de divórcio, Sikkema retirou Carrera de seu testamento. Até maio de 2022, Carrera era o maior beneficiário da herança da vítima. Investigadores acreditam que o suspeito de ser o mandante do crime não tinha conhecimento da modificação no documento.
Com a alteração, Carrera foi totalmente excluído do testamento, segundo a polícia. Até então, ele seria, inclusive, o responsável pela gestão de bens do galerista — inclusive pela residência no Rio. Função esta que Sikkema passou para um amigo de infância, que mora em Nova York.
Ainda segundo a polícia, Daniel também é proprietário de dois imóveis comprados por Brent em Cuba — uma mansão e uma cobertura, em Havana —, avaliados em US$ 3 milhões (R$ 15 milhões). Na época da compra, o galerista havia colocado as duas casas no nome do então marido, que, posteriormente, passou para o nome de parentes seus. A estratégia, conforme acreditam os investigadores, foi uma tentativa do cubano de excluir os imóveis da divisão de bens entre o casal.
— (Carrera) acreditava que se beneficiaria de várias formas. No testamento anterior de Brent, ele era o maior beneficiário. Até onde a gente sabe, Daniel não sabia da modificação. Além disso, ele tentava esconder dois imóveis para não entrarem no litígio de divisão de bens do divórcio. Brent tentava provar que ele havia comprado os imóveis e que Daniel teria colocado em nome de parentes, enquanto Daniel queria que isso ficasse escondido — disse o delegado Rômulo Caldas.
Crime foi tentado um mês antes
Um mês antes do galerista americano Brent Sikkema ser assassinado na casa em que morava quando estava no Rio de Janeiro, o cubano Alejandro Triana Prevez, preso pelo crime, registrou em fotos sua passagem pelo imóvel. A investigação comprovou que ele esteve na casa em 11 de dezembro de 2023, no Jardim Botânico, na Zona Sul da cidade, para tentar cometer o homicídio. O galerista estava no endereço, porém o crime acabou não acontecendo porque ele estava trancado em seu quarto. Para comprovar a passagem pelo imóvel, Alejandro fez uma selfie na cozinha da casa, sorrindo e fazendo um sinal de positivo.
O crime foi concluído pouco mais de um mês depois, em 14 de janeiro deste ano, quando ele voltou à casa e, desta vez, conseguiu matar o americano a facadas. Alejandro, preso acusado de ser o executor, aponta o ex-marido de Brent, o também cubano Daniel Carrera, como o mandante do crime. No último sábado, a Justiça decretou a prisão preventiva de Carrera, incluída na difusão vermelha da Interpol.
Segundo as investigações da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), Alejandro morava em São Paulo e ficou no Rio entre os dias 9 e 11 de dezembro. De acordo com o inquérito, Daniel havia lhe avisado que Sikkema estaria no Rio durante aquele mês.
Alejandro contou à polícia que invadiu a casa no Jardim Botânico usando uma chave enviada por Daniel, mas percebeu que o quarto do americano estava trancado. Na cozinha, fez a selfie, que acabou sendo encontrada pelos policiais em seu celular. O cubano ligou então para o ex-marido de Sikkema pedindo instruções sobre o que fazer. Alejandro conta que Daniel o orientou a fazer algo que tirasse o galerista do quarto. O suspeito do assassinato, então, desligou o disjuntor geral da casa, deixando o imóvel às escuras.
Em lugar de sair do quarto, porém, Alejandro disse que Brent começou a fazer ligações pelo celular. Com medo de ser descoberto, o cubano deixou a casa.
Prevez disse à polícia que mandante é ex-marido
O crime aconteceu em janeiro deste ano, na casa de Sikkema, no Jardim Botânico, na Zona Sul do Rio. Prevez foi preso acusado de ser o executor do assassinato e está no Complexo de Gericinó, na Zona Oeste da capital.
A informação sobre o mandante da morte de Sikkema foi passada aos policiais da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) num segundo depoimento de Prevez, na semana passada. De acordo com Prevez, Carrera lhe confidenciou que o galerista estaria pagando baixos valores de pensão, enquanto tinha altos gastos com festas, drogas e garotos de programa. O ex da vítima também teria se demonstrado preocupado com um novo relacionamento de Sikkema, já que o namoro poderia lhe prejudicar na repartição de bens.
Segundo Prevez, no dia do crime, ele entrou na residência da vítima com uma chave enviada por Carrera, motivo pelo qual não havia nenhum sinal de arrombamento.