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sábado 6 de março de 2021 às 18:29h

Brasil vive momento de retrocesso diante de ‘aceitação do inaceitável’, diz Barroso

JUSTIÇA, NOTÍCIAS


O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, afirmou em entrevista ao Jornal da Manhã deste sábado (6) conforme a Jovem Pan, que vê o país em uma situação de retrocesso em relação a avanços feitos em anos anteriores. Questionado sobre a tentativa de parlamentares de alterar a PEC da Imunidade, ele afirmou que as instituições têm conseguido avançar na direção certa, mesmo que nem sempre na velocidade desejada. “Acho que nós avançamos muito e é possível que estejamos vivendo algum grau de retrocesso, porque a história não é linear. Ela é feita de idas e vindas, de avanços e de recuos. Acho que nós avançamos muito na aceitação do inaceitável e acho que nós vivemos um momento sim de algum grau de retrocesso. É uma pena, mas a notícia boa é que nós não estamos voltando para a posição inicial, acho que conseguimos avançar uns 10 passos e talvez possamos estar voltando uns dois passos”, disse o ministro. Ele conta que no seu novo livro, “Sem Data Vênia”, narra um pouco da formação do quadro de corrupção estrutural criado no Brasil e explica como o judiciário reagiu em processos como o do mensalão, operações como a da Lava Jato e em outros esforços para “desnaturalizar as coisas erradas”.

Barroso afirmou que procura ser “tão simples quanto possível” nos seus votos dentro do Supremo Tribunal Federal, mas garantiu que adorou a ideia de escrever em linguagem simplificada no novo livro lançado recentemente. Além da forma pessoal com a qual o ministro viu ocorrências importantes no Brasil, a publicação traz pontos de vista sobre instituições, costumes, economia e direito. “O livro tem um pouco de tudo, tem reforma política, tem jeitinho brasileiro, tem interrupção de gestação, direitos LGBTI, tem desigualdade e pobreza, tem enfrentamento à corrupção… Trago cinco páginas sobre cada um desses assuntos, portanto são textos curtos e acessíveis, acho que minha vida é pensar o Brasil e tentar fazer um país melhor e maior”, pontuou.

O ministro lembrou que pontuou o período da ditadura militar na publicação por considerar que aquele foi um momento importante para entender a necessidade do fortalecimento das instituições do país. “Eu gosto de mencionar a minha agenda de preocupações no final dos anos 1970 para contrastar com a minha agenda de preocupações hoje e dizer que o Brasil melhorou muito. Eu hoje estou preocupado com melhoria da qualidade da educação básica, universalização do ensino médio, mais investimento em ciência e tecnologia, elevação da ética pública e privada no Brasil. Eu tenho o hábito de colocar tudo em perspectiva, porque isso ajuda a perceber o quanto a gente andou para a frente. É claro que aqui também com muitas idas e vindas, mas ainda assim, e apesar do momento dificílimo que vivemos, eu sou uma pessoa que alimenta a minha confiança no Brasil”, afirmou, se considerando como um “militante” da convocação das pessoas a participar de debates públicos colocando ideias na mesa, não vivendo de “meias verdades”.

O ministro lembrou que, apesar de falhas pontuais serem encontradas, as operações que investigaram quadros de corrupção no país tiveram saldos positivos. “A Operação Lava Jato, na minha visão, não é mais uma operação em si, ela é um símbolo que ocupa um espaço no imaginário da sociedade brasileira que é a inaceitação do inaceitável, como falei. É um esforço de criação de uma nova ordem que empurre para a margem da história esse período longo em que era legítima a apropriação privada do estado e o desvio de dinheiro público”, afirmou. Ele garantiu que esse sentimento foi manifestado nas últimas eleições “para bem ou para mal” e que nas próximas eleições caberá aos brasileiros decidir se fizeram uma boa escolha ou não. Para ele, dentro de uma democracia, o Supremo está sujeito a críticas por tratar de casos delicados e, em questões penais, a Corte poderia ter se pautado de forma diferente para potencializar a caminhada do país em direção a uma sociedade que elevasse a ética pública.

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