Parcerias com startups, um departamento exclusivo para inovação, criação de APIs abertas e uso intenso de tecnologia de ponta. Esses são os principais fatores comuns às empresas mais inovadoras da América Latina, segundo o mais recente estudo da Visa sobre o tema, feito em parceria com a Americas Market Intelligence.
Foram avaliadas 85 companhias, incluindo instituições financeiras, varejistas e players de “novos ecossistemas” surgidos recentemente, em seis países da região: Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México e Peru. E, ao contrário do que possa parecer, as mais inovadoras não são necessariamente as empresas que já nasceram no ambiente digital, segundo a Visa.
O Brasil, por sinal, foi identificado como o mercado que lidera a inovação na América Latina. Oito das 20 principais empresas identificadas estão no país, marcadas principalmente pela adoção de novas tecnologias, como machine learning, inteligência artificial, big data e biometria. Completam o quadro das 20 mais inovadoras: cinco companhias no México, quatro na Colômbia, duas na Argentina e uma no Chile. O Peru, diz a Visa, é o país em que o processo ainda ocorre de forma mais incipiente, com a disseminação dos aplicativos mobile e adoção de meios digitais de pagamento.
Embora os nomes desses top-20 não tenham sido revelados, as responsáveis pela pesquisa apontam que grandes varejistas e bancos tradicionais formam a maior parte da lista. Em um trecho do texto, a Visa destaca Itaú, Magazine Luiza, bancolombia, Mercado Pago, Rappi e Easy Taxi como “alguns dos inovadores locais que estão mudando o formato do comércio e do serviço bancário na América Latina”.
Uma característica em geral observada nos polos mais inovadores de cada país, segundo o levantamento, é a adoção de modelos mais amplos de atuação pelas grandes empresas. “Varejistas estão se tornando provedores de serviços financeiros, enquanto mercados virtuais oferecem serviços bancários e bancos usam mais plataformas abertas para facilitar pagamentos. Tudo isso em um esforço para reter clientes”, explica Vanessa Meyer, VP de Inovação da Visa na região América Latina e Caribe.
Como inovar?
Das 20 empresas com a melhor avaliação, 80% delas têm um time exclusivo dedicado à inovação, de acordo com as autoras do estudo. Elas fazem uma média de 15 parcerias com startups ao ano, e criaram 57 provas de conceito nos últimos três anos, também em média. Essas companhias também lançam novas soluções em um prazo de 5 meses, contados entre a concepção e o teste no mercado.
Um modelo de integração com startups destacado é o das hackatons e da incubação delas nas empresas maiores. Iniciativas desses tipos têm feito sucesso especialmente no Brasil e no México – a Visa destaca casos protagonizados pelo Banco do Brasil, por aqui, e do BBVA Bancomer no país norte-americano.
A abertura de APIs (interfaces de programação para integração de dois programas ou aplicativos) é outra forma crescente de colaboração entre as empresas mais inovadoras. Foram criadas, em média, 141 interfaces pelas empresas mais inovadoras nos últimos anos, 45% delas abertas (disponibilizadas publicamente para que outros desenvolvedores possam criar soluções semelhantes ou até melhoradas).
Entre as varejistas, é comum a adoção de marketplaces na internet: seis dos oito mais inovadoras adotaram essa estratégia, que disponibiliza os sites para que pequenos lojistas coloquem seus produtos à venda ali, geralmente dando alguma participação nas vendas aos donos do mercado virtual e livrando-os de maiores preocupações com o estoque.
Entre os bancos, o destaque é o crescente uso da inteligência artificial: metade dos que estão na lista dos mais inovadores já são adeptos dela e do machine learning. Tecnologias de biometria (usada por 39% dos bancos), carteiras digitais (17%) e blockchain (13%) também estão crescendo – esta última é usada quase que exclusivamente no Brasil, segundo o estudo.
As instituições financeiras, no entanto, são as menos abertas para integrações via API. No caso delas, apenas 17% das interfaces criadas nos últimos anos foram abertas. “Enquanto essas empresas se destacam em outras métricas, se mostram relutantes em abrir seus dados a parceiros, e são especialmente resistentes a adotar um modelo de open banking”, apontam as autoras do estudo.
Ainda assim, é possível considerar, afirmam Visa e AMI, que, seja qual for o campo de atuação, os negócios têm evoluído e inovado sobretudo com foco em melhorar a experiência do cliente ou usuário final. O que as autoras consideram fundamental num momento em que as pessoas tendem a utilizar cada vez mais os meios digitais para consumir.
“Os consumidores estão exigindo experiências de compra mais rápidas, integradas e convenientes, além de novas formas de pagar. É isso que as empresas inovadoras estão entregando, e este estudo sinaliza fortemente como podemos continuar trabalhando com nossos parceiros na região para acelerar a inovação nos pagamentos”, diz Vanessa Meyer.