O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse nessa quarta-feira (19) que o Brasil tem “gratidão” e precisa “pagar” ao continente africano pelos anos de escravidão. Na avaliação de Lula, uma possibilidade seria retribuir com educação, formação de pessoas e industrialização. O presidente falou à imprensa em Cabo Verde, após se reunir com o chefe de Estado, José Maria Neves.
“Quero recuperar relação com o continente africano porque nós, brasileiros, somos formados pelo povo africano. A nossa cultura, nossa cor, nosso tamanho são resultado da miscigenação entre índios, negros e europeus. Nós temos uma profunda gratidão ao continente africano por tudo o que foi produzido durante 350 anos de escravidão no nosso país. Achamos que a forma de pagamento que o Brasil pode fazer é a possibilidade de formação para que tenham especialização nas várias áreas que o continente africano precisa, possibilidade de industrialização, agricultura”, disse.
Em crítica ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Lula disse que o Brasil ficou afastado da África nos últimos anos, mas pretende retomar uma relação mais próxima. “O Brasil tem potencial para ajudar o continente africano em muitas atividades. Se nós não tivéssemos um governo negacionista, o Brasil poderia ter produzido vacina contra covid, poderia ter ajudado o continente africano. Infelizmente, tivemos um desgoverno que não cumpriu com o essencial, que é cuidar do ser humano”, emendou.
A intenção de se reaproximar da África tem ficado clara desde os primeiros dias do governo, quando o Ministério das Relações Exteriores anunciou uma reestruturação. A secretaria do Itamaraty que trata dos temas relativos à África foi separada da área que cuida de toda a Europa, o que representará, na prática, mais atenção às relações do Brasil com os países africanos. Nos dois mandatos anteriores, entre 2003 e 2010, Lula deu especial atenção ao continente, aumentando inclusive o número de diplomatas e representações na região.
Lula passou pelo arquipélago africano no retorno da Bélgica, onde estava para o encontro entre União Europeia (UE) e a Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), em Bruxelas. Em sua “live” semanal nas redes sociais, o presidente explicou que a passagem por Cabo Verde se deve ao fato de que o avião presidencial não tem capacidade de viajar direto da Europa ao Brasil sem uma parada intermediária.
O Brasil e o arquipélago africano integram, ao lado de outros sete países, a CPLP, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Neste ano, o grupo terá uma cúpula de chefes de Estado e de governo que será realizada em São Tomé e Príncipe. Lula, logo no início do mandato, disse que participaria do encontro.