Foi uma boa notícia para todos. Na segunda-feira (27), a Virgin Orbit, empresa de lançamento de satélites do bilionário Richard Branson, recebeu formalmente a autorização para que sua subsidiária brasileira, a Virgin Orbit Brasil Ltda (Vobra), possa operar do Centro de Lançamentos de Alcântara (CLA), no Maranhão. O anúncio fez as ações subirem como um foguete: alta de 19,2% entre o fechamento de sexta-feira e o de segunda e de 9,25% até quarta-feira (29). Tudo bem que elas ainda estão 51,6% abaixo do preço negociado no primeiro dia útil de janeiro. Mas é uma notícia e tanto. “Acessamos uma série de inclinações orbitais a apenas 2 graus da Linha do Equador e sem a necessidade de nova infraestrutura permanente”, afirmou em comunicado Dan Hart, CEO da companhia.
Pelo lado brasileiro, isso significará colocar o País no mapa de um mercado promissor. De acordo com o relatório Satellites to be Built & Launched 2021, da Euroconsult, até 2030 serão lançados 17 mil satélites, média de 1,7 mil por ano. Isso é quatro vezes mais do que na última década. Em termos de grana, os dados ganham contornos diferentes dependendo da fonte. Pelas projeções da consultoria Fortune Business Insights, somente o mercado de transporte de satélites de porte pequeno, médio ou pesado vai crescer de US$ 30,8 bilhões (2021) para US$ 54,3 bilhões (2028), alta anual média de 8,81%.
Abençoado
E o Brasil deve voar nesse segmento muito mais por causa da estratégica localização de Alcântara do que por investimentos massivos no segmento. “Quando comparado com outros espaços do mundo, Alcântara possui vantagens competitivas significativas”, afirmaram os advogados Francisco Werneck Maranhão e Antonio Carlos Almeida Braga, do escritório Pinheiro Neto, e Guillermo Zuma Hoorn, hoje no Bronstein, Zilberberg, Chueiri e Potenza, em artigo publicado em dezembro na The Law Reviews. Eles enumeram sete diferenciais: 1) localização privilegiada, próxima à linha do Equador; 2) proximidade com o mar, o que possibilita lançamentos em órbitas polares e equatoriais; 3) baixa densidade populacional; 4) ausência de terremotos e furacões; 5) baixa densidade de tráfego aéreo; 6) clima que permite lançamentos durante todo o ano; 7) local ideal para lançamentos responsivos, caracterizados pela capacidade de enviar carga espacial em curto prazo e de maneira flexível. Em suma, o clássico lugar abençoado por Deus.
“Acessamos uma série de inclinações orbitais a apenas 2 graus ao sul da Linha do Equador e sem a necessidade de nova infraestrutura permanente” Dan Hart CEO da Virgin Orbit (à direita).
No ano passado, a Agência Espacial Brasileira (AEB), que administra Alcântara, já havia anunciado a Virgin Orbit como uma das quatro empresas para operar o lançamento de veículos espaciais não militares orbitais e suborbitais no CLA — além dela, estão as também americanas Hyperion e OrionAST, e a canadense C6 Launch. O presidente da AEB, Carlos Moura, disse em comunicado que o Centro é adequado para pequenos lançamentos de satélite. “O tempo é bom, a pista é maravilhosa, o espaço aéreo está liberado e ela está equipada com sistemas de rastreamento.” OK, verdade. Mas o que foi decisivo mesmo é o modelo operacional da Virgin Orbit, que dispensa uma infraestrutura parruda.
A empresa adota como plataforma de lançamento um sistema chamado LauncherOne, que usa um avião Boeing 747 adaptado, o Cosmic Girl. Na prática, o aviaozão carrega o satélite até certo ponto, e faz o disparo dele para a órbita e retorna. “Todo o equipamento necessário é totalmente transportável”, afirmou a Virgin Orbit em comunicado. “Sem a necessidade de qualquer construção da base brasileira.” Alcântara já teve lançamentos suborbitais, mas a partir de 2023 deve começar a ser usada para uma agenda orbital, o que muda o jogo. “Ao facilitar a introdução dessa capacidade, a Virgin Orbit, a AEB e a Força Aérea Brasileira esperam criar uma nova competência significativa para a área”, disse a empresa. Bom para Branson, bom para o Brasil.