O Brasil elegeu em 2024 o menor número de partidos em 16 anos: os quase 63 mil vereadores e prefeitos eleitos em outubro para o mandato 2025–2028 pertencem a 25 partidos, quatro a menos que os 29 de 2020 e oito a menos que o recorde de 33 registrado em 2016.
O levantamento realizado por Judite Cypreste, do portal g1, considerou os dados publicados e atualizados pelo Tribunal Superior Eleitoral no dia 30 de dezembro de 2024.
A redução é explicada pelo desaparecimento de seis partidos nos últimos quatro anos:
- O DEM e o PSL se fundiram para formar o União Brasil; o Patriota e o PTB, o PRD.
- O Pros foi incorporado ao Solidariedade, e o PSC, ao Podemos.
Esse foi o maior enxugamento no número de partidos do país desde a redemocratização e é resultado de mudanças nas regras eleitorais que têm por objetivo justamente reduzir o número de legendas no cenário político (leia mais abaixo).
Essas reformas já haviam tido impacto em 2020, quando o número de partidos com candidatos eleitos caiu para 29, ante os 33 de 2016. Nesse intervalo, ocorreu o segundo maior enxugamento da história, com a extinção de três partidos (o PRP foi incorporado ao Patriota; o PPL, ao PCdoB; e o PHS, ao Podemos).
Diminuição ocorre devido ao fim das coligações partidárias
Fernando Meireles, professor adjunto de Ciência Política do IESP-UERJ, afirma que o fim das coligações partidárias para as eleições proporcionais — em vigor desde 2020 —, junto a outras reformas políticas, é um dos principais fatores por trás do cenário político cada vez mais enxuto no país.
🔍As coligações partidárias permitem que os partidos se unam durante o período eleitoral para concorrer aos cargos em disputa.
🔍Até 2020, as coligações partidárias eram permitidas também para os cargos proporcionais (vereadores e deputados). Isso fazia com que votos dados a um partido ajudassem a eleger candidatos de outros partidos.
O fim dessas coligações impede que partidos menores se unam a legendas maiores para se manterem no cenário eleitoral.
“No início, a mudança foi tolerável para algumas legendas, mas agora está se tornando insuportável. Quem não se adaptou à mudança e não fez boas escolhas está ficando para trás e vendo seus adversários ganharem mais força”, afirma Meireles.
E unir-se a outras legendas não foi suficiente para garantir um melhor desempenho em 2024. Os dois partidos que surgiram de fusões — União Brasil (-1%) e PRD (-57%) — elegeram menos candidatos que a soma dos eleitos em 2020 pelas legendas que os formaram. O mesmo aconteceu com Solidariedade (-742%) e Podemos (-25%), que incorporaram, respectivamente, o Pros e o PSC.
Segundo Meireles, isso ocorre porque as fusões envolveram partidos já pequenos, resultando em pouco ou nenhum ganho político expressivo após a mudança.
Outros partidos também tiveram redução no número de eleitos em 2024. A queda mais expressiva foi a do Cidadania (-73%), que se uniu ao PSDB em uma federação (que permite que dois ou mais partidos atuem como se fossem um só por, no mínimo, quatro anos). O PSDB também apresentou queda (-34%).
O PCdoB (-51%) e o PV (-42%), que se federaram com o PT, também tiveram redução no número de eleitos.
O que deve acontecer no futuro?
A tendência é que a redução de partidos continue, segundo Meireles, caso não ocorra uma mudança significativa nas regras eleitorais — especialmente em relação às coligações.
Além das eleições municipais, a redução deve impactar também as estaduais e a nacional, que ocorrerão em 2026. “Mais prefeituras significam mais eleitos para a Câmara dos Deputados”, explica Meireles.
Essas, por sua vez, devem impactar as eleições municipais seguintes, já que o tempo de TV e o tamanho do Fundo Partidário de cada legenda dependem do número de deputados federais eleitos daqui a dois anos.